Foi tudo muito rápido. Saía do ar
condicionado de uma loja enquanto outro cliente entrava. Ao dar passagem começou
a chuva de verão. Recuou permanecendo na vitrine, no fresco.
Havia pressa, sem dúvida.
Guarda-chuva também. Mas ali ficou; a distrair-se. Então aconteceu. No meio fio,
em localização que talvez estivesse se o relógio fosse seu dono, um homem de
terno, na meia ponta, aguardava para atravessar a rua no momento em que a
enxurrada se mostrava na parte superior da ladeira. Ele virou-se, certamente
entraria na loja, porém elas foram mais rápidas.
Em desespero, atropelando-se umas
em cima das outras - menos que vinte certamente não – fugiram da quente boca de
lobo que alagava, as baratas. Elas entraram no primeiro lugar seco que
encontraram: o vão escuro formado entre o tecido de mal caimento e a perna do
homem.
A repulsa dominou a solidariedade
e escondeu-se no fundo da loja, ficou sem saber o que aconteceu com o homem ou
como é possível acudir alguém nessa situação. Pesadelos foram constantes nos
dias seguintes, como um vídeo game, incansáveis baratas com diferentes poderes atacavam-lhe.
Certa noite, à sua frente,
caminhava um casal com dois filhos. Conversavam em espanhol. Os meninos riam e
corriam de um lado a outro: divertiam-se matando as baratas que encontravam
pelo caminho. Viveríamos todos mais felizes se aprendêssemos na infância a
brincadeira de matar baratas.
* * *
Talvez já tenha mencionado aqui a
história acima, ocorrida em 2010. Em breve conto para vocês porque ela voltou a
martelar-me a cabeça. Para mim, tão ruim quanto barata são os besouros que voam
para o mar na lua cheia e ficam se batendo contra a parede, contra as lâmpadas
e contra quem estiver na frente. E estamos na lua cheia agora? Brrrrr, pelo
menos não estou na praia.