Percebi que minha primeira
lembrança de São Paulo é a de um lugar próximo à Terra da Fantasia: as revistas
em quadrinho e os livros didáticos vinham de lá. Por muitos anos, o que me foi
permitido conhecer restringia-se ao trecho Dutra-Régis Bittencourt, com várias
empresas conhecidas, atiçando ainda mais a imaginação infantil.
São Paulo foi a cidade que
escolhi para viver – e o encantamento ainda está presente, aliás, nunca
diminuiu. Sem dúvida há problemas, os mesmos das outras cidades de médio e
grande porte, principalmente as brasileiras. De forma certa ou errada, a cidade
está sempre se reinventando, as pessoas estão sempre chegando e partindo – o
que é perceptível até a estranhos.
Após tanto tempo ouvindo que a
cidade não pára, que o trânsito é infernal, que paulista só trabalha, e tantas
outras críticas, eu diria que estas são vantagens de viver aqui, possibilidades
de crescimento às quais as pessoas que criticam têm dificuldade em aceitar.
Sob a perspectiva do desapego,
cada vez mais na moda, São Paulo continua sendo uma cidade de vanguarda: ter
sempre pessoas na rua, haver lojas abertas, permite que cada um viva em seu
ritmo ao invés de seguir o que a sociedade segue; o trânsito infernal ajuda a
descobrir novos caminhos, à mudança de endereços, a conhecer mais pessoas, a
desenvolver outras atividades; a sensação de reduzir a vida ao trabalho, a
repensar na decisão profissional.
“Conduzo, não são conduzido” é o
lema da cidade que começou com um colégio. Conduzir a própria vida é da
essência deste canto do planeta, um desbravamento que torna a coragem
bandeirante um lugar comum na escola da vida.
Nascimento de uma cidade é uma
convenção que tenho certa resistência a aceitar; para todos os efeitos hoje esta
cidade faz 462 anos, uma adolescente rebelde que ainda está em formação e se
descobrindo.