Várias cenas inusitadas e um roteiro surpreendente (ainda
mais para quem sequer havia lido a sinopse) deixaram-me satisfeita pela escolha
do filme. O mais impactante deu-se após a sessão: descobri que a história era
baseada em fatos reais! Os outros filmes do festival não causaram o mesmo
efeito. Ainda hoje, passados vários dias e filmes, basta um momento tranquilo e
cenas voltam à mente. Percebo que começo a compreender seu título...
A visão que estou adquirindo através da produção ficcional
certamente contribui com o momento reflexivo: sabemos, ao abrir um livro,
sentar em frente a uma tela ou ouvir uma história, de que são contextos diversos
da realidade. Mesmo assim podemos nos envolver com a ficção. Sabemos também que
em algum momento a história acaba e retornaremos para a realidade. A confiança
de que não haverá envolvimento (ou o alívio de não estar acontecendo conosco) leva-nos
a acompanhar até o último ponto final e a abrir mais um livro, ir mais uma vez
ao cinema ou a continuar ouvindo histórias.
Lembrei-me, então, de uma fábula que li há algum tempo: o
lobo, ao observar sua sombra, em tamanho bem maior do que o real, ficou
confiante de que não precisaria fugir do leão e acabou pego. Moral da história:
“não permitam que suas fantasias o façam esquecer da realidade”.
A realidade é de que na vida tudo é possível. Aprendi que
limitação existe na ficção, pois tanto a narrativa quanto os personagens
precisam ser coerentes para que os outros consigam acompanhar. Na vida cada um
tem a sua coerência, impossibilitada de extinguir a coerência do outro sempre
que há confiança. A criatividade é apenas uma ferramenta real que todos têm
para conduzir a vida. Esclarecer o contexto em que será empregada – e antes de
sua utilização – é crucial para a consequência de seu uso ser positiva ou
negativa.