Ainda sou da opinião de que infância e televisão (e por que
não, Internet?) não combinam. Semana passada, no entanto, em um “momento
infantil”, surpreendi-me. Os personagens do desenho perceberam que seus amigos
haviam sumido. Reuniram-se e foram investigar. Para conseguir cada pista,
precisavam fazer, repetidas vezes, uma coreografia no estilo “cabeça-ombro-joelho-e-pé”
e incentivavam a criança a ajudar na busca da pista imitando-os. No final, veio
a descoberta: as amigas lagartas haviam se transformado em borboletas e os
amigos peixes eram girinos, que se transformaram em sapo. Jeito fácil de educar
e estimular a criança sem deixá-la ansiosa ou eufórica.
O intervalo durante o desenho, contudo, foi de “deixar de
cabelo em pé”: além de brinquedos pouco educativos e caros (sei porque já os vi
ao vivo na casa de outra amiga), no anúncio da programação, uma voz de menina
dizia “chame a mamãe, chame o papai, vamos dançar juntos”, ou algo do gênero.
Note-se que a ideia de “babá eletrônica” para canais
infantis é um engodo. A criança não vai ficar quietinha assistindo por muito
tempo, ela vai chamar o adulto que estiver por perto e ele vai ter que
participar. A coreografia, que dura segundos, será suficiente para informar de
qual desenho a criança gosta (no inconsciente dos pais ficará a sugestão para a
decoração de aniversário, presentes etc).
Tranquilizou-me um pouco saber que os desenhos atuais estão melhores
que os de minha época, os quais definitivamente não eram exemplos para quem
fosse viver harmoniosamente em sociedade – minha principal bronca é com o
Popeye (diálogo zero, a Olívia não tem opinião própria, vai com qualquer um que
ganhe no muque, os amigos – Dudu e Alice – comem compulsivamente hambúrguer e
banana respectivamente – e Popeye só come espinafre, motivo de muitas mães
a-d-o-r-á-l-o); nos outros desenhos os personagens são solitários (acho que só
o Jerry às vezes tinha um outro ratinho ajudando-o).
O fato é que para a criança não ser um alienígena dentre as
outras crianças de sua geração, terá de assistir aos desenhos. O ideal seria
poder escolher previamente as histórias que seriam contadas à criança - e sem
expô-la à publicidade. Vamos torcer para que esse modelo de negócio surja por
aqui: pagar por filme, seriado ou desenho, não por canal ou conjuntos de canais,
ou poder baixar ou encomendar um DVD só com as histórias escolhidas, tal qual
se faz com as músicas.
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