Tomava café, um pingado sem espuma, para ser mais precisa, quando um senhor aproximou-se:
- Permite-me uma confidência?
E, como ela nada respondesse e apenas lhe olhasse - mais pela surpresa do que pela curiosidade - ele prosseguiu:
- Toda vez que percebo um rabo de cavalo, não consigo desviar o olhar, preciso controlar-me para não puxá-lo... - Ele olhou para a mão direita, levantou-a um pouco, fechou os olhos enquanto colocava os dedos na palma da mão e simulou o movimento de quem toca um sino. Na mão esquerda, seu café quase tombou ao chão - É assim desde a infância. Minha falecida esposa, sou viúvo há dois anos, tinha pouco cabelo e usava-o na altura dos ombros, não ficaria um belo rabo de cavalo... No colégio, seus colegas a pertubavam muito?
- Não, nem às minhas colegas. Ela até lembrou-se que, ao invés de puxar o cabelo, os guris, durante as aulas, puxavam os sutiãs pelas costas, numa forma rápida de abri-los, mas a "brincadeira" durou pouco tempo, o suficiente para as blusas claras e justas ficarem no armário e novos modelos de lingerie serem usados. Certamente não seria oportuno mencionar tal fato, não para aquele senhor.
- Não estivéssemos em local tão formal, eu ousaria ser inconveniente, mas com sua permissão, claro.
- Em qualquer lugar, somente a negativa seria a resposta, senhor.
E o homem, de modo envergonhado, como se apenas naquele momento houvesse percebido seu comportamento, acenou a cabeça e retirou-se para terminar o café na outra ponta do balcão.
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