terça-feira, 29 de abril de 2014

Descobertas – o primeiro desabafo


Você passa anos ouvindo que é só comprar um chip por 10 Euros que você ficará para sempre conectada. Você até sabe que o segredo é pegar qualquer classificado e preencher o formulário com um dos endereços dali (não que esteja precisando disso). O que não te contam é que toda vez que o telefone celular é desligado você precisa colocar de novo a senha que vem no cartão do qual se destaca o chip. Mas você tem sorte, anota tudo e não joga nada fora. Quem exerce o desapego desapegar-se-á de mais 10 Euros.

 

Tudo vai muito bem, até você resolver que vai manter o Whatsapp tupiniquim, afinal é Internet, não é mesmo? Há! E você acha que o chip quer ser brasileiro? Mil tentativas e ele se convence, Whatsapp funcionando e...telefone para de funcionar, só recebe. O número da operadora dá numa central telefônica, você não entende. Ouve de novo e...o telefone não aceita mais ligar para aquele número.

 

Então você tenta a internet. Milagrosamente pelo glorioso Bluetooth o computador funciona com a internet do celular. Melhor, a tradução do Google te diz que a mensagem em vermelho na página da operadora avisa que a sua conta está bloqueada. Sem acesso à conta na Internet não dá nem para colocar mais créditos – isso porque colocar crédito significa comprar uma senha e cadastrá-la. Qualquer outra alternativa lhe custará 10 Euros e a provável perda do simpático número que recebe de bom grado ligações.

 

Mas o importante é ser otimista: afinal, depois de não ter como chegar em casa porque a linha de trem impressa no papel não existe e você não confirmou isso no site da companhia, ao menos o único orelhão visto em semanas ficava próximo à estação – quem lhe mostrou o orelhão sabia o telefone do taxi – e o whatsapp funciona. Sim, otimismo sempre.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Vendo a lua ao contrário

Era o segundo questionário, em apenas algumas horas. O primeiro fora mais simples, pôde ouvir a resposta dos outros e adivinhar as perguntas: queriam saber seu grau de satisfação com os serviços.

 

Com o bilhete que informava “de 474 para 470” em uma mão, e equilibrando a mala com a outra, foi possível dar o devido valor ao fiscal que lhe dissera onde descer (inclusive indicando uma baldeação que lhe poupou 15 minutos) e reclamar da falta de espaço para mala (talvez não conseguisse explicar, mas definitivamente ter que suspendê-la no pequeno espaço em cima dos bancos não era boa ideia).

 

O tom, o contexto, o local - tudo faz diferença na conversa. Perguntavam agora sobre sua vida. Melhor não criar caso, estava feliz por não ter precisado de tradutor. Horas depois, lhe perguntariam de novo, mas com a ressalva de que era apenas curiosidade, que poderia não haver resposta.

 

Assim, com discrição, ouviu parte da vida da outra pessoa, a que não se importava com a sua resposta. A outra, antes, que a tudo anotava, quis saber a sua religião. Não ter não era uma possibilidade – lhe foi atribuída uma. O espanto foi tanto que nem deu tempo de tentar revidar e usar a intérprete.

 

Perplexidade porque o óbvio ali não acontece. Perplexidade também pela obviedade do estranho. Depois, em uma vila sem trânsito, a briga entre carrinhos no supermercado. Onde não há dificuldade, os humanos as criam.

 

Chegar em casa às 18hs é qualidade de vida? E se a única opção for chegar em casa até às 18hs? Pontualidade é importante, sem dúvida –  principalmente quando o ônibus só passa a cada 2 horas.

segunda-feira, 21 de abril de 2014