Gosto tanto de documentário que me surpreendeu a sala não ter lotado. Apesar de por anos não ter sido possível assumir compromissos durante a semana no horário das 19:30, pela divulgação na mídia, ser evento gratuito e em boa localização, temi que não fosse possível chegar a tempo. Felizmente a procura não foi tão grande assim.
Se você estiver no Rio, não perca a chance. Na apresentação que antecede todas as sessões do festival foi informado que a cópia foi disponibilizada pela Paramount para a apresentação de ontem em São Paulo e apenas mais uma na cidade maravilhosa. Nome do filme? Capitalismo: uma história de amor, de Michael Moore.
O estilo do diretor continua o mesmo, momentos emotivos dispensáveis compensados com o humor e narrativa coerente e envolvente. Talvez pudesse ter menos que os 120 minutos, mas eu assistiria de novo, sem dúvida. A argumentação é compreensível até para o público infantil, porém com premissa errada.
Não vou contar o filme, nem teria como, tanta é a riqueza de detalhes, mas discordo que haja bandidos e mocinhos - isso serve para qualquer aspecto da vida. Ninguém exerce um só dos papéis. Ao invés de "história" o que há é um relacionamento com o dinheiro, e como todo relacionamento, os reiterados extremos tornou-o indigesto a quem exagerou (ou não soube aproveitar a oportunidade dada pela vida). Todos somos responsáveis por nós, além de cada um por si. Atribuir a terceiros é reiterar o "efeito boiada" de gerações anteriores, possível de ser modificado com educação e estímulo ao senso crítico. Sem isso, só "levando na cabeça" para aprender... Afinal, o que faz uma pessoa hipotecar sua moradia, já quitada, para passar a ter mais crédito? Se fosse para pagar dívidas, não seria mais coerente vender a casa e comprar outra menor? A responsabilidade por contratações feitas - reitero que como em qualquer relacionamento - é de todos os envolvidos. Assim como se um não quiser, dois não brigam, se um não quiser, dois não contratam (compras inúteis, financiamentos, etc).
A divulgação do filme em TV aberta seria salutar, apesar de possível extremismos (boiada discidente, do ser contra só para imaginar que está pensando). O que me deixou completamente atordoada foi a denúncia (como descrever diferente?) de que empresas tradicionais, pelo menos nos EUA, costumam fazer seguro de vida de seus funcionários, mas sem a anuência destes e constando, na apólice, a própria empresa como beneficiária. Isso mesmo. O filme não diz, mas acredito que o fundamento seja o prejuízo que o empregador tem quando perde o funcionário que recebeu o investimento de treinamento. O fato é que quanto mais jovem o profissional da empresa venha falecer, maior o capital (não se diz "indenização" para seguro de vida) a ser recebido pela empresa. Considerando que nos EUA a regra é não ter serviço público de saúde, nem seguro de vida e auxílio funeral (compulsórios no Brasil em grandes empresas), quando o americano empregado morre sua família fica com a dívida do hospital e seu empregador com uma receita a mais.
A liberdade de contratar seguro é irrestrita, se você quiser, você pode fazer seguro de vida daquele seu vizinho arruaceiro e encrequeiro, colocando-se como beneficiário, vai que ele brigue na rua e venha a falecer: você tem um chato a menos na sua vida e um montante a mais em seu bolso. Só que isso fere qualquer moral e ética, o lucrar com a morte de alguém. Não deveria ser lícito que terceiros pudessem estipular quanto a sua vida vale. Somente a pessoa poderia ter a discricionariedade de definir quanto a sua vida vale e quem deve receber a indenização pela perda!