A educação tradicional visa ensinar a controlar impulsos e a desviar de quem assim não age: os encrenqueiros ou barraqueiros que dão vexame; em princípio quem tem berço sabe com todos interagir e selecionar com quem pode misturar-se (=confundir-se).
O “poxa” tem ajudado-me em situações adversas. Como o título bem explica, trata-se de um desabafo sem agredir o que me foi condicionado desde a infância. Lembrei-me disso porque semana passada foi irresponsavelmente fora da rotina e uma sucessão de “poxas”:
Sábado, comemorando uma estada sem atropelos, abri o galão de chope que eu havia trazido para testar. Há bastante tempo sem álcool, os três chopes apenas me tiraram o sono. Poxa, fiquei com insônia.
Para acompanhar o restante do líquido, no domingo comprei casquinha de siri pronta para ser aquecida no microondas. Estava gostosa, mas após consumo percebi que o fabricante (de Osasco, município da grande São Paulo, sem mar ou rio) indicava Merluza (sequer seu filé) como ingrediente. Poxa, paguei por siri e comi sei lá que parte de Merluza.
Meu vizinho, que sistematicamente coloca fora o jornal no dia seguinte e sem estar bagunçado, utilizou o seu exemplar como guarda-chuva e colocou-o no lixo todo molhado. Poxa, fiquei sem jornal de domingo...
Poxas da terça são impublicáveis, para compensar permiti-me trocar a aula pela reza. Só que esqueci o celular ligado. Poxa, com tanto a agradecer e a pedir, só consegui concentrar-me para que o celular não tocasse.
Dia quinze é dia de devolução do leão. Certo? Errado. O funcionário da receita não soube me informar se a ausência de restituição de IR significava estar na malha fina, poxa, nada de dinheiro e sequer sei o motivo.
Quinta descobri que os letreiros luminosos dos ônibus são completamente ilegíveis à noite, até porque os motoristas utilizam farol alto. Precisei ficar dando sinal e perguntando se ia até o aeroporto... Não tinha conseguido fazer o check in pela Internet e, em cima da hora, fui direto ao autoatendimento: poxa, meu nome não cabe no sistema, vou ter sempre que pegar fila quando voar Gol.
Se existe algo abundante no Rio são as opções de linha de ônibus centro-zona sul. Estando no aterro, não tem como errar. Mas... eu consegui pegar um ônibus que custava R$2,70, sendo o preço da passagem R$2,40. Além disso, o motorista acumulava função de cobrador, poxa, precisei ficar equilibrando-me na escada a volta inteira do aterro, sem enxergar a vista maravilhosa, apesar do ônibus vazio, até conseguir pagar a passagem. Por que era mais caro? Poxa, sentei em baixo da saída do ar condicionado.
Poxa, cheguei na areia junto com uns chuviscos, mesmo assim consegui mergulhar em um mar ameaçando ressaca e com algas. Além de mim, na praia, o vendedor de bebidas e uma turista que me olhava incrédula por eu ter deixado sozinha, na areia, minha chamativa bolsa “ninguém-tem-uma-igual”. Poxa, fiquei pouco tempo na praia, saí às 9:00, mas pelo menos meu exemplo permitiu à turista tirar o tênis e molhar a ponta do pé (espero que ela não seja assaltada).
O couvert do La Mole deixou a desejar e o mirante da Pavãozinho só é acessado após três lances de escada. Poxa, o PAC construiu um prédio de cinco andares, todas as janelas com ar condicionado, mas a Comlurb continua sem subir no morro.
Na volta, atraso de duas horas, três vôos foram colocados em uma aeronave (consegui ficar na janelinha) e, poxa, se pela antecedência para chegar ao Santo Dumond só vi a árvore da lagoa pelo avião, pelo menos a do Ibirapuera pude contemplar bastante, afinal o ônibus disponível quando cheguei deixou-me ao lado dela e não havia luz na região – caminhei algumas quadras aos tons de verde e vermelho... e, poxa, em casa também não tinha luz.