segunda-feira, 16 de julho de 2012

Da ausência do título

“E daí?” – atire a primeira pedra quem nunca assim se questionou em uma exposição de arte. Interessante que a primeira opção dificilmente é “não sei”, “não entendi” – mesmo nas visitas guiadas. “Q loko!” também é uma interjeição costumeira entre os imediatistas. Afinal, loko é o diferente, que pode ser rejeitado (a intolerância desaprovada socialmente) ou apreciado (se posso gostar do que não sei o que é, como manter a aparentemente necessária rotina?).
Indiferente quanto ao objeto contemplado, o “e daí?”, que poderia demonstrar desinteresse, com um pouco de análise soa mais como arrogância: se não quer saber (se há indiferença), por que foi parar ali e atrapalhar a visão dos outros? Deve ser por isso que muitos mantêm silêncio e outros tantos não param de falar sobre qualquer outro assunto nas exposições de arte: para impedir a percepção da ignorância.
Ouvi certa vez que arte é apenas uma linguagem a mais a ser aprendida.  E se prefixos e sufixos são importantes para adivinhar o significado das palavras, passei a preocupar-me com o nome da obra, como uma pista do que poderia estar em minha frente. “Sem título”, “sem data”, "desconhecido", “sem local de produção” são ausências que me incomodam.
A foto da postagem anterior é uma de várias que tirei para ilustrar um contexto singular, que ficou muito extenso para estar publicado aqui, mas que talvez um dia eu conte. Passei esses dias sem escrever decidindo se colocava toda sequência ou algumas fotos. Também pensei em dar-lhe vários títulos, fiz várias montagens e, confesso, escolher apenas uma foto e deixar “sem título”, foi libertador: pronta para a próxima.

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