quinta-feira, 25 de abril de 2013


Frase de Nelson Rodrigues na exposição em sua homenagem no Funarte de SP

Na universalidade de seu mundo


ou

Na simplicidade do mundo



Nada de adjetivos ou advérbios

 

Não comparar é a vitória

 

Sem comparação, sem passado

 
Tempo sem adjetivo e sem advérbio é não tempo, é viver

Passou, esqueceu.

 

Feliz. Vive.



Quanto mais produz, menos publica.

 

Rascunhos são os responsáveis


Rascunhos consomem tempo, adjetivos e advérbios

Só o que não é rascunho é.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Aumentando um ponto ao contar o conto

- Meu! Faz um exercício, vai de Pilatos – você vai gostar.

- É, dizem que lavar a mão é saudável.

- ?

- Pilatos ficou conhecido por lavar as mãos...

- Ah! Eu sempre faço confusão com esses filósofos gregos.

 

OBS: se você não entendeu, melhor dar uma pesquisada básica na Internet - não vou explicar a comicidade do diálogo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aguardando a Sessão

- Oi, M. Como você está?

- Você gostou do filme de agora?

- Só vou assistir o próximo. Fui descansar do anterior, muito tempo durar três horas.

- Eu também estou descansando.

- Bonita blusa, M. Ela é bem feminina.

- É. Algum filme do qual você tenha gostado?

- O sobre a ganância me revoltou o estômago. Pior é que é verdade aquilo.

- Eu gostei deste aqui [mostra o catálogo].

- Nacional? Não aguento filme nacional: se não tem sexo, fala da ditadura.

- Mas ele mostra que nada mudou.

- Ih! Só ditadura e sem sexo? Não, filme nacional é melhor ficar em casa. Alguma coisa lá você não sabia?

- F., você esqueceu que eu cheguei aqui em 1970. Até compreender bem o que acontecia foram muitos os anos...

- Ah! Nada muda. Mas agora tem que alguma coisa melhorar, 2012 foi um ano cão.

- O que você anda fazendo?

- Processando e sendo processada. A aposentadoria não sai, o aluguel que eu recebia parou de ser pago... Os sete reais do cinema estão fazendo falta, por isso vim aqui.

- É, eu também aproveito. Menos pedidos a fazer a minha filha. Mas eu não tenho te visto mais lá [lugar]. Lá tem tido filmes bons, eu não pago por eles e acho que você também não.

- Eu pago, ainda. Parei de ir lá porque fiquei muito chateada. Sabe, M. Era semana do meu aniversário. Tudo acontecendo errado durante o ano todo. Achei que merecia ir ao cinema, pra ver aquele filme... Era o último dia, no dia seguinte iam mudar o filme. Separei os sete reais. Na hora de pagar, soube que era nove o preço. E eu não tinha os dois reais para completar. Pedi para levar outro dia, o caixa – que sempre é tão cordial - não concordou e cancelou a venda. Pedi para a gerente, a C., que me conhece há quinze anos. Quinze anos que vou lá, M.! E a C. não deixou que eu entrasse, para no dia seguinte levar os dois reais que faltavam. São muito muquiranas.

- Não são, não. Você sabe que já entrei sem pagar? Na época em que eu ainda pagava, eles não tiveram troco e deixaram eu entrar de graça.

- [oh] Atrás de mim, na fila, estava aquela senhora que sempre vai lá. Ela perguntou quanto faltava, pareceu disposta a completar os dois reais. Eu fiquei morrendo de vergonha, disse que não faltava nada, saí da fila e nunca mais voltei. Fiquei com vontade de reclamar pela falta de consideração. No meu lugar, você não reclamaria?

- Reclamar?

- Tão feminina esta sua blusa!

 * * *

Mesmo com o sotaque carregado de Mariana e a língua arrastada de Fátima, fiquei constrangida em ficar copiando o diálogo das duas, que estavam ao meu lado. Do que falaram, essa foi a parte que me lembro melhor, demorei um pouco para perceber a preciosidade do que comentavam - se eu precisasse criar, não faria um diálogo tão autêntico.

Seja lá quem for a gerente Célia: tô contigo e não abro. Difícil entender a natureza humana, preferir pechinchar pro funcionário que pode ter que tirar do bolso a aceitar a gentileza de outra usuária do cinema.

 

Mais importante de tudo: "É tudo verdade" (festival de documentários) termina este final de semana. A curadoria permanece excelente, assista pelo menos um - nem se preocupe em escolher.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Aproveitando a casca da banana

Volta e meia fico com a impressão de que devo agir diferente, de alguma forma mudar hábitos. Implicância mesmo. Outro dia,  fiquei triste por colocar cascas de banana no lixo. Eu já comi banana assada com casca e não achei ruim – seu gosto confundia-se com o da banana. E, se não me engano, só dá certo se assar banana verde.

 

Fiquei pensando o que poderia fazer com as próximas cascas - todas elas de bananas bem maduras. As receitas que encontrei exigiam ingredientes como farinha de trigo, que eu não estava disposta a acrescentar em meus hábitos alimentares. Gostei, no entanto, de uma receita que dizia para cozinhar a casca com pouca água, bater no liquidificador e depois misturar na massa de um bolo.

 

Cozinhar em água era razoável. Foi o que eu fiz: piquei a casca e coloquei em fogo baixo. O cheiro era de bananada, liquidifiquei e não acreditei que a tal pasta só tinha cheiro e nenhum gosto.

 

Lembrei então da recomendação das nutricionistas de que se deve acrescentar fibras às comidas calóricas. Casca de fruta certamente contém fibra. O que é calórico e sempre fica bom com tudo? Isso mesmo: leite condensado.

 

Coloquei um terço da lata, a “sopa” de seis cascas nanicas foi mexida em fogo baixo até ferver. A quantidade de leite condensado certamente depende do quanto é colocado de água no início, antes de cozinhar. Após a fervura, a mistura virou um creme com gosto de banana e consistência de mingau. Rendeu pelo menos meio litro (talvez também dê para fazer com açúcar mascavo e leite, uma forma de diminuir a quantidade de gordura).

 

Experimentei puro, quatro colheres foi suficiente para eu não querer mais. Não ficou enjoativo, as fibras devem ter exercido sua função de saciedade - se fosse brigadeiro de chocolate a lata inteira não teria sido suficiente.

 

Fiquei com a impressão de que a mistura deve ficar muito boa recheando bolo, uma camada de recheio dela, outra com os dois terços da lata do leite condensado que sobrou. É, não vou escapar de comprar a farinha de trigo.