domingo, 26 de maio de 2013

Compreendendo a Censura


Fui assistir Crônicas de Cavaleiros e Dragões – O Tesouro dos Nibelungos no SESI. A dramaturgia foi adaptada a partir da versão de Tatiana Belinky da mitologia nórdica. Censura recomendada: 12 anos.

 

Na cena da noite de núpcias, a Rainha que casou contrariada (honrando sua palavra sem saber que houve trapaça no duelo que participou) recusa o marido e há uma luta corporal em que ela vence. No dia seguinte, o rei, com ajuda de um amigo, no quarto do casal, luta com ela que, imobilizada, acaba “cedendo”.

 

A coreografia é muito bem feita, a luta parece uma dança e complementa o cenário primoroso que o SESI costuma apresentar. Mas é sexo à força (um estupro floreado, digamos) mostrado para adolescentes – isso sem contar que a peça atrasou de tantos pais que ainda estavam preenchendo a ficha de autorização para que seus filhos, menores de 12 anos, pudessem assistir.


Difícil imaginar que não houvesse outra forma de apresentar a contrariedade da Rainha e o mau caráter do Rei e de seu amigo protagonista. Talvez grande parte da plateia não tenha percebido a mensagem subliminar que quase me fez ir embora. Também duvido que alguém tenha comentado com o(a) filho(a) viu, nessa versão o protagonista não era herói; poderiam ter sido felizes se houvesse diálogo, mas seguiram seus interesses, impuseram sua força e colocaram tudo a perder. As pessoas saem comentando os efeitos especiais ou a bunda do ator ao tomar banho.

 

E não é a primorosa estética a responsável pela superficialidade. A arte serve para reflexão, um momento em que não vivemos nossa vida, mas nos permitimos pensar sobre outros assuntos, reordenar ideias, soltar o riso e o choro por alegrias e tristezas que não são nossas: emprestamos o corpo para lavar a alma de um encardido inconsciente. Pelo menos deveria ser assim.

 

Não dá para simplesmente pensar que a recomendação nomeada censura, e, por manter o nome, odiada como tantos outros mecanismos estatais, existe à toa. A classificação continua sendo obrigatória, cada um cumpre de acordo com a sua consciência – como se fosse possível ter consciência sem reflexão. Além disso, não é todo dia ou em qualquer companhia que dá vontade de ver qualquer conteúdo. A advertência da censura ajuda os preguiçosos em ler a sinopse.

 

Outro dia, num PUB, ingleses discutiam qual povo contrariava mais o governo que elegia: se brasileiros ou espanhóis. Eu nunca havia parado para pensar a respeito, mas agora, com aquelas crianças assistindo a cenas que eu talvez só compreendesse em minha adolescência tardia, lembrei-me deles e do clichê de que se hay gobierno, soy contra.

 

A informação impressa no programa, para justificar não recomendar a peça aos menores de 12 anos, é conteúdo violento, relevante pra a compreensão da trama. Talvez a advertência tenha sido ignorada pelos pais por não ser nada muito diferente do contexto televisivo das crianças, infelizmente.

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