Coisas que só eles conseguem
Não era apenas o desconforto do calor, a readaptação forçada
à rotina já conhecida, nem aquele torpedo, informando o “jantar casual” recém
combinado pelo marido com colegas de trabalho para exibir a piscina que
construíram neste verão, ela que nem sequer se lembrava do que tinha na
geladeira. Era tudo junto mais aquelas crianças que não paravam de brincar,
uma dentro e a outra fora do carro. Não queria buzinar, estava vendo que o pai simpático também conversava
com a funcionária do pátio e ficava ali, sem poder sair do lugar e sem saber ao
certo quem e em quais condições encontraria em casa.
- Ih, mãe, tecla “f”.
Em outro contexto explodiria, mas ali não dava, não com quem
também era vítima da situação, sentia sede e fome e tentou diminuir o problema. Respirou
fundo, certamente estava transparecendo a irritação e precisava acalmar-se.
- Como assim, tecla “f”?
- Ué, “f” de feliz. É só não dar bola.
Sorriu. Na sua frente, uma das crianças voltou correndo para
dentro da escola, mantendo a porta de trás aberta, o que impediria qualquer
manobra do carro. Ainda teria que esperar. Atrás, os pais já haviam saído de
seus veículos e confraternizavam. Pegou o celular na bolsa e teclou:
“Boa janta, nós iremos comer por aqui e chegaremos mais
tarde.”
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