Pingando limão na urucubaca
Poderia ter estacionado em outro lugar, ali nem era o mais
perto da porta de entrada. Pensou nisso quando viu as luzes da trava piscarem, andava
realmente distraída naqueles dias. Em poucos minutos o temporal começou: tão
forte quanto rápido. Finalmente acertara! Não apenas havia vários livros
disponíveis na biblioteca, impossíveis de serem carregados a pé, como aquela
ducha natural era mais do que necessária: ao invés de lavar, secava o carro.
Secava e aspirava, batia os tapetes – sempre discretamente.
Particularmente nos dias de inverno, secar o carro afasta o frio mais do que
lavá-lo em dias quentes possa parecer refrescar. Na cidade, o brilho de um
carro encerado só é mais intenso, mas não dura mais do que o de um carro
simplesmente seco após um temporal.
Os movimentos eram mais ou menos cronometrados: abria o
guarda-chuva na garagem para escorrer o excesso d’água, pegava o pano no
porta-luvas e começava o trabalho. Primeiro espelhos laterais, depois as
laterais. Com o calor do motor, o capô seca muito rápido, o pano já úmido
finalizava sua função ali. Depois, com novo pano, secava o resto, começando
pela parte de cima. Para esse processo, ruim mesmo, que só marca a sujeira e
não molha o suficiente, é o chuvisco. Pelo menos até aquele dia.
Naquele dia, em que estava satisfeita e sem guarda-chuva, mudou
a rotina. Dias depois é que foi perceber a mancha. Talvez tenha sido algum
trovão, talvez tenha sido um galho pesado com o vento, talvez aconteça todos os
dias, mas um passarinho marcou de branco a lataria de uma forma que nem água,
nem sabão, nem esponja macia tirou.
Sem querer contratar um polimento, fez usca rápida na
Internet e descobriu, além de um determinado produto (testado com restrições),
que limão poderia lhe salvar. Após uma limonada, esfregou e esfregou a casca e
o final do sumo na mancha. Tocou o telefone e esqueceu da vida. O limão secou e
grudou de tal forma que ampliou o problema, acrescentando relevo à mancha.
Resignou-se.
Sorte foi ter novo temporal e, ao passar o pano, onde havia
relevo, a mancha desfez-se. Resta agora usar mais limões e beber mais limonada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário