- Moço, precisa olhar não: eu aprendi nos museus da Europa que não se encosta no vidro, só cheguei assim bem perto para poder ver os detalhes...
O "precisa olhar não" serviu de ímã para todos os olhares. Eu estava do outro lado da exposição mas, assim como todos presentes, virei-me para identificar o motivo do fim do silêncio.
O moço era o segurança, sentando em um desconfortável banquinho, daqueles que quando convém o sindicato reivindica a troca alegando risco de DORT, mas que é mantido profilaticamente em relação ao sono e respectiva demissão por justa causa.
A autora da frase era uma senhora que estava acompanhada provavelmente por sua filha e por sua neta, todas adultas. Cada uma do seu jeito, sempre falando mais alto do que os demais, mostrava e descrevia para a outra o que estava vendo. Um passo, uma observação, nova vitrine.
Parei um pouco de olhar o que estava exposto e fiquei aguardando uma oportunidade para interagir, acrescentar algo como "na Europa, a senhora não observou que as pessoas respeitam a contemplação dos outros e falam baixo? É como biblioteca, pode vibrar que encontrou o livro na estante, talvez até compartilhar a alegria com a bibliotecária quando o estiver retirando, mas isso deve ser feito sem atrapalhar a pesquisa ou leitura dos demais."
Poderia ser que eu ficasse pedante, mas não o seria mais do que a expontaneidade da vovó. Faltou oportunidade, elas sairam rápido dali, mais encantadas do que eu, que vou voltar só para copiar alguns modelitos...
* * *
A exposição "Joias do Deserto", que ficará até 10 de junho na Fiesp (Av. Paulista), merece a visita pela originalidade do design (pelo menos para uma ocidental como eu). Das duas mil peças da coleção de Thereza Collor, provavelmente só uma saia com espelhos bordados eu usaria. Mesmo assim, consegui identificar um padrão que alguns brincos meus já têm e eu nem imaginava seu significado.
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