Dentre os desafios de morar na capital, o principal era como conseguir uma faxineira de confiança. Inicialmente dividia com amigos “o achado”: uma vez por semana a Dona Maria ia na casa de cada um. Só que a mulher do primeiro a se casar a promoveu a cozinheira e os outros ficaram sem.
Com muita dificuldade, conseguiu convencer “a tia do café” da empresa a trabalhar aos sábados em sua casa. E era por este motivo que precisava ir embora da festa, apesar do aniversário ainda estar bem animado: sua faxineira era uma colega de trabalho, não podia deixar o “apê” muito desarrumado senão ela comentaria com as pessoas do andar e isso certamente lhe atrapalharia profissionalmente. Também era por esse motivo que não se permitia dormir até tarde nem dava a chave da porta da rua para ela: nada de flagrante.
O combinado com a Socorro era ela chegar às nove horas todos os sábados. Pelo menos duas horas antes de sua chegada ele acordava, fazia a barba e “dava uma geral”, se ela fosse comentar com as colegas, que comentasse o quanto ele era organizado e limpinho.
Sua antiga namorada tentara convencê-lo a importar-se menos e a curtir melhor a noite de sexta e a manhã de sábado. Precisou escolher entre as duas, Socorro era mais difícil de ser substituída e permaneceu no cargo. A decisão foi tomada no exato dia em que um jornal de distribuição gratuita publicou reportagem sobre a escassez de faxineiras em São Paulo. Socorro foi quem lhe mostrou pedindo aumento. A promessa de lavar a louça para diminuir o serviço convenceu-a de que se tratava de um aumento.
Era por esse motivo que ia embora, havia aguardado a meia-noite para cumprimentar a aniversariante, mas agora precisava partir. Não, não virava abóbora, nem precisava de carona. Muito menos estava cansado, em estado de quibebe, precisava apenas acordar cedo e trabalhar antes que a Socorro chegasse...
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