sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma questão de educação

Sexta feira, 20:30 no departamento jurídico. O telefone toca. Com a voz forçada de bom humor, o chefe atende ao telefone:
- Alô?
- É do departamento jurídico?
- Sim, com quem deseja falar?
- Com o senhor mesmo, é uma pouca vergonha o que está acontecendo! Vocês enganam e nem pedem desculpas...
- A senhora é cliente? – interrompe o homem.
- Fui cliente, depois do que está acontecendo não serei mais...
- Reclamações devem ser dirigidas ao SAC, vou lhe dar o número do telefone...
- Só falo com quem resolve! – grita a mulher, interrompendo – também sou advogada e já sei bem que o SAC vai enviar a consulta para o jurídico resolver. Eu posso abrir mão do combustível equivalente a meu deslocamento, mas exijo, ao menos, pedido de desculpas! Imagina? Venderam dizendo que era o modelo mais moderno e já tinha, na ocasião, algo mais potente e melhor no mercado! pagando interurbano é para resolver, não para ficar dependurada no 0800! Saiba o senhor que tenho tudo anotado, quando e com quem falei, estou bem documentada, vocês têm que admitir o erro e trocar o que comprei pelo mais moderno, mantendo o preço, pois foi isso que me foi vendido: o top de linha!
A narração do drama continuou em tom dramático e com palavras impublicáveis, demonstrando um invejável fôlego da narradora. O chefe, então, sem conseguir interrompê-la, colocou o telefone no viva-voz e voltou a ler seus e-mail. A equipe toda ficou em silêncio, se a travessura fosse descoberta, ao delator, mesmo que indireto, seria delegado tal atendimento.
- E então? Tenho ou não tenho razão? – o telefone continuava em viva-voz.
- Quem resolve é o SAC, senhora. Vou lhe passar o telefone...
- Se o senhor não resolve é um incompetente, tão incompetente quanto os outros com quem falei. Qual o nome do senhor incompetente?
- Joselino.
- Vou anotar em meu dossiê. E o cargo do incompetente Joselino?
- Faxineiro.
Subitamente a ligação foi interrompida, não se sabe ao certo por quem. Descontração na equipe, o final de semana finalmente estava começando.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Afinal, o que você está esperando?

O jornal noticia que para muitas pessoas amanhã, 21 de maio de 2011, é o dia do julgamento, ou seja, o fim do mundo. Relatos de indivíduos que alteraram suas vidas e se proporcionaram bons momentos somente porque acreditam que não terão mais tempo de fazê-lo ilustram a matéria.


Como sou grata por viver em um contexto no qual aparentemente as pessoas são livres para opinar, nada mencionarei quanto ao mérito da questão, cada um que pense e se manifeste como convém.


Retornando ao fim do mundo, qualquer reflexão a respeito trará a ideia de morte física, fato que mesmo ocorrendo inúmeras vezes a cada segundo é sempre inesperado - toda morte é o fim do mundo para quem morre!


Mesmo assim, vivemos acreditando na eternidade e sem observar o quanto mudamos no decorrer da vida. Guardar uma roupa para uma ocasião especial é hábito de muitas pessoas, elas apenas não percebem que a tal ocasião pode já ter passado; que poderão não estar mais presentes as pessoas com quem gostaria de celebrar o especial momento; talvez o corpo ou a moda não sejam mais os mesmos (por maior que tenha sido o tempo despendido cuidando do tecido, a peça ficou desapropriada ao contexto da tal ocasião ou simplesmente não serve mais).


Lógico que não estou sugerindo o consumo desenfreado, a ação automática descaracteriza a natureza da escolha e suprime o mágico do momento de poder escolher, de conseguirmos ser responsáveis por nossas escolhas, poder realizá-las e confirmá-las diariamente. Essa atitude também é útil para os demais “compartimentos da vida” como profissão, programas, viagens, livros, shows e relacionamentos em geral.


Não deixar para depois enriquece a vida, não espere adoecer para começar a fazer o que gosta ou pensa que gosta – quanto mais nos dedicamos ao que não nos interessa, mais distantes ficamos do que queremos (e vazia será a vida). Um dia haverá o “fim do mundo” para cada um dos seres vivos, viver como se isso fosse acontecer agora melhora a qualidade da vida – os seguidores da tal seita confirmam isso.

* * *

Em todos os fusos horários o dia 21 de maio já se foi e está constatado que o mundo não acabou (pelo menos para os que ainda vivem). A partir da repercussão do que escrevi, eis meu esclarecimento:

Não se privar do que é considerado relevante é o que entendo por "não deixar para depois", atitude bem diferente de "liberou geral". Ter educação, agir com respeito e evitar contar com a sorte são ações coerentes com uma boa vida, mas satisfação temos quando nos proporcionamos algo diferente - e isso sim não deve ser adiado.

Puxadinho estético

O frio estava tenebroso e certamente os minutos de espera pareceriam horas...Marquise em reforma, pouca possibilidade de afastar-se da garoa, resolvi visitar o MAM (em São Paulo, no Parque Ibirapuera).

Para minha surpresa, estamos na semana do museu, período comemorado com entrada gratuita.

"Morada Ecológica" e "Razão e ambiente" são as exposições. Nas duas salas estão organizados projetos arquitetônicos relacionados ao tema central. Dentre os nacionais, todos já constaram em revistas de decoração. Interessante mesmo (e que para mim justifica a visita) foi o projeto "Más con lo mismo", do escritório Elemental, de Alejandro Aravena:

Resumidamente, em Iquique, Chile, famílias de uma favela seriam desalojadas de uma área central devido a uma readequação urbana (algo muito comum em vários países, inclusive no Brasil). A equipe do escritório discutiu com a população afetada as possíveis soluções. A decisão foi adquirir, com o equivalente à metade da indenização da desapropriação, um terreno mais central do que o fornecido na periferia pelo poder público. Restando apenas metade do orçamento para construir as casas, o escritório fez o projeto de contruir meia casa, priorizando banheiro e cozinha, por serem mais difíceis de serem construídos adequadamente, e uma sala aberta para rua, que poderia ser adapatada para um comércio. Cada morador construiria o restante, de acordo com suas posses.
Na foto acima há cinco casas. As duas da esquerda parecem já ter concluído os seus "puxadinhos", a que está na outra extremidade ainda não iniciou a construção. Mesmo cada um fazendo do seu jeito mantém-se a harmonia do conjunto - sem colocar as famílias em risco, pois a estrutura já foi projetada para receber mais andares.

Resolvi saber mais e aceitei a publicação de divulgação do MAM-SP que é ofertada na entrada. Nova grata surpresa. Excelente a qualidade gráfica de MODERNOmam. Aprendi que o projeto que havia me entusiasmado recebeu o Leão de Prata na Bienal de Veneza em 2008 (quem recebeu o de ouro !?) e que Aravena está ajudando na reconstrução de seu país após o terremoto, além de desenvolver um conjunto de apartamentos em Paraisópolis (favela de São Paulo). Além das informações sobre os projetos mais expressivos em exposição, exemplos de atividades culturais no museu para deficientes auditivos e visuais também constam na revista.

domingo, 15 de maio de 2011

Plantas estressadas florescem mais

Descobri porque o meu cuidado e dedicação às plantinhas estão sendo ineficientes: a grande variedade de adubo e substrato são absorvidos como um só elemento, o nitrogênio, responsável pelo desenvolvimento das folhas e, com tanta folha para nascer, não há condições biológicas para desenvolvimento de flores. Como consertar um cenário desses? Parar de regar é uma das alternativas.
Explicou-me o professor que as plantas em situações adversas são mais floridas do que as cuidadas periodicamente. Tal fato foi constatado através da experimentação, mas não tem uma razão cientificamente comprovada. Acho que comecei a entender de que forma a agricultura e a jardinagem podem auxiliar no desenvolvimento de pessoas em situação de risco:
1º) somente convivendo com as plantas é possível perceber a melhor forma de cuidá-las. Cada uma é um ser diferenciado. Manuais descrevem o comportamento genérico, porém só a atenção permitirá o seu correto desenvolvimento – observação e paciência são fundamentais para obter êxito no relacionamento.
2º) observar a natureza ajuda a criar um ambiente favorável para o desenvolvimento, mas isso exige respeito ao tempo de cada espécie (e eu que nunca havia interpretado a ansiedade como desrespeito ao tempo do outro...). Algumas florescem só uma vez ao ano e é preciso conviver somente com galhos no outono e no inverno para poder na primavera deslumbrar-se com a sua beleza – a decepção decorre da expectativa que temos, aceitar as diferenças não impede a convivência, o compartilhar e o maravilhar-se com o que o outro pode proporcionar.
3º) A ausência de agrotóxicos no cultivo é a característica mais divulgada das hortaliças e legumes conhecidos como orgânicos, ao invés do fato de serem mais nutritivos, que é o que importa. A convivência com outras espécies os faz “preocuparem-se” em ser mais fortes e absorver mais nutrientes, dificultado a infestação de pragas – o meio externo/aparência é mais divulgado e conhecido do que o interior do ser.
4º) Ao regar, não economize na água. E também não regue todos os dias. A planta não vai conseguir absorver tudo o que está recebendo, mas ficará mais vigorosa, com raízes mais eficientes. A rotina de molhar um pouquinho todos os dias acomodam as raízes na superfície – ser intenso – mesmo que nem sempre se fazendo presente -  é melhor do que a rotina de dependência, que com qualquer brisa tomba.
5º) Se você não sabe o que quer colher ou o jardim que lhe agrada, não plante, contemple as possibilidades até escolher – apenas mantenha o solo livre e preparado para o cultivo futuro.
6º) Não é todo vegetal que é ornamental ou comestível, evite dedicar seu tempo cultivando o que só lhe gerará o trabalho de arrancar, nem fique podando uma árvore só porque todos fazem, para depois descobrir que a sombra era o que ela tinha de melhor. O vegetal não sabe que você quer a flor ou o fruto, se você também não souber, é você quem não vai aproveitar tudo que lhe seria permitido, pois os ciclos da planta ocorrem independentemente de você.
Outra opção para ter flor é corrigir o PH do solo colocando calcário. Ao produto químico, adquirido em prateleira, faço analogia com estereótipos, sempre é possível usar o que já está pronto, apenas seguir o senso comum, mas aparências só se mantêm aparentemente.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O mistério da lâmina

Aproveitando o clima de sexta-feira 13, conto-lhes o ocorrido esta semana:

Estava eu servindo-me do segundo copo de shake quando percebi que faltava uma das lâminas do liquidificador. Passei o conteúdo para outro copo com cuidado, mas nada da lâmina aparecer. Tenho estado distraída ultimamente, mas a ponto de não perceber a pá quebrada ao lavar? Dificilmente. Lembrei-me então do esforço que tenho feito para engolir comprimidos de vitaminas, do êxito obtido com drágeas pequenas e algumas médias... 3 cm seriam perceptíveis, mas vários pedaços de até 1 cm não! Pânico.

Pela terceira vez na vida fui a um pronto-socorro. Só não reclamei da eternidade dos 40 minutos para ser atendida devido ao estado das pessoas à minha volta. Na triagem, senti-me a retardada contando o motivo da internação. Mas ao ouvir do médico que não era raro a ingestão da lâmina do liquidificador o nervosismo voltou. Raio X feito, nada encontrado, voltei para casa.

Revirei a cozinha inteira e também nada encontrei. Por onde estaria a lâmina? Mistério...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dia das Mães

Orgulhosa. Sim. Era assim que se sentia: conseguira finalmente pedir para mudar a escala de trabalho e ter aquele domingo de folga. Sempre os outros que pediam e ela cedia, com medo de perder o único emprego que conseguir após anos como dona de casa. Mas esta semana havia sido diferente: estava escalada para o domingo e conseguiu trocar para o sábado anterior - e sem fazer hora-extra!

Em pouco tempo a família começaria a chegar, precisava apressar logo o preparo do almoço para ficar mais tempo na sala do que na cozinha. Confraternizar em restaurante, com pessoas de pé, olhando para você com cara de fome, não gostava: a reunião não ficava tão descontraída como em casa. Aguentar as esquisitices gastronômicas da nora também não era justo, logo no seu dia. Maldita hora em que ironizou a pizza pronta...foi o primeiro e o melhor prato preparado pela nora. Depois daquele seu comentário reconhece que a mocinha vem se esforçando, disse ter até frequentado aulas de culinária, mas como seu gosto e tempero não combinam com o da família e ninguém disfarça, ela apresenta a cada reunião uma novidade.

Todos chegaram animados, crianças correndo entre as poltronas, a gritaria de costume. Só durante a refeição conseguiu contar-lhes a grande novidade: finalmente sentia-se uma mulher moderna, compatível com o seu tempo. Apesar de estar cozinhando naquele dia a vida de dona de casa estava praticamente em extinção: contrataria uma empregada.

Os filhos se olharam e, com um sorriso amarelo, deram-lhe o presente, que poderia ser trocado, afirmaram-lhe: um conjunto de panelas, desses da moda, de cores vibrantes, bem do gosto de sua nora...Ficou sem reação e a atmosfera da confraternização ficou pesada. A dona de casa teria gostado das panelas de qualidade, mas a atual mulher trabalhadora não teria tempo para elas e precisava acostumar-se com os novos conceitos de produto.

Percebeu que precisava dissolver o mal-estar, um pouco por dó de ser "tão sogra" agradecendo com monossílabos o que certamente nenhum filho seu comprou e também com receio dos próximos presentes que viriam, e descobriu uma forma de tornar útil o que acabara de ganhar: em cada caçarola colocou um vaso com tempero, pendurou a frigideira na parede colando em seu fundo o relógio que ficava no canto da pia, a caneca substituiu o antigo escorredor de talher. Chamou todos para ver a nova decoração de sua cozinha: estava orgulhosa de si, mais uma mudança implementada em sua vida.

domingo, 8 de maio de 2011

Cada um interpreta de um jeito

Executivo estrangeiro recém-chegado, resolveu aproveitar o feriado chuvoso para dirigir pela cidade. Parou o carro para permitir que pedestres atravessassem na faixa de segurança e assustou-se com o buzinaço, ficou nervoso ao perceber que era para ele e acabou derrapando no espelho d'água e subindo na calçada.
 
 
Envergonhado com a barberagem, percebeu que um senhor grisalho e uniformizado aproximava-se. Não poderia mais simplesmente dar a ré e seguir adiante, como se fora um fugitivo. Desligou o motor e aguardou a abordagem. Nada entendeu do longo discurso ouvido, presumiu grande contrariedade com o ocorrido por parte daquele senhor que tampouco conseguia entendê-lo.
 
 
Além do canteiro, não houve dano material significativo, mas o homem continuava a falar e a gesticular. Lembrou-se então do serviço de S.O.S. disponibilizado pela empresa aos expatriados em situação de emergência: teria que tornar público aquele vexame. Ao abrir a carteira para procurar o cartão com o telefone, porém, o senhor parou de falar, fez sinal de que ia pegar alguma coisa - ele só parado tentando entender o que ocorria - e a nota de R$ 50,00 "saiu" de sua carteira.

Como em um passe de mágica o senhor uniformizado correu para o meio da rua e fez todos os carros pararem até que ele pudesse manobrar e ir embora. Mesmo sem entender se o valor era devido ou se acabara de ser assaltado, ficou aliviado de ter saído daquela situação e foi-se embora.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A convivência e a sobrevivência estão exigindo constantemente a ampliação do conhecimento e sua aplicação. A disponibilidade de informação também tem crescido proporcionalmente, porém a confiabilidade da fonte deve ser prudentemente confirmada. Para relembrar e aprender, sem correr esse risco, minha dica é acessar http://www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx. Divirta-se!