Sexta feira, 20:30 no departamento jurídico. O telefone
toca. Com a voz forçada de bom humor, o chefe atende ao telefone:
- Alô?
- É do departamento jurídico?
- Sim, com quem deseja falar?
- Com o senhor mesmo, é uma pouca vergonha o que está
acontecendo! Vocês enganam e nem pedem desculpas...
- A senhora é cliente? – interrompe o homem.
- Fui cliente, depois do que está acontecendo não serei
mais...
- Reclamações devem ser dirigidas ao SAC, vou lhe dar o
número do telefone...
- Só falo com quem resolve! – grita a mulher, interrompendo –
também sou advogada e já sei bem que o SAC vai enviar a consulta para o
jurídico resolver. Eu posso abrir mão do combustível equivalente a meu deslocamento,
mas exijo, ao menos, pedido de desculpas! Imagina? Venderam dizendo que era o
modelo mais moderno e já tinha, na ocasião, algo mais potente e melhor no mercado!
Tô pagando interurbano é para
resolver, não para ficar dependurada
no 0800! Saiba o senhor que tenho tudo anotado, quando e com quem falei, estou
bem documentada, vocês têm que admitir o erro e trocar o que comprei pelo mais
moderno, mantendo o preço, pois foi isso que me foi vendido: o top de linha!
A narração do drama continuou em tom dramático e com
palavras impublicáveis, demonstrando um invejável fôlego da narradora. O chefe,
então, sem conseguir interrompê-la, colocou o telefone no viva-voz e voltou a
ler seus e-mail. A equipe toda ficou em silêncio, se a travessura fosse descoberta, ao delator, mesmo que indireto, seria
delegado tal atendimento.
- E então? Tenho ou não tenho razão? – o telefone continuava
em viva-voz.
- Quem resolve é o SAC, senhora. Vou lhe passar o
telefone...
- Se o senhor não resolve é um incompetente, tão
incompetente quanto os outros com quem falei. Qual o nome do senhor
incompetente?
- Joselino.
- Vou anotar em meu dossiê. E o cargo do incompetente
Joselino?
- Faxineiro.
Subitamente a ligação foi interrompida, não se sabe ao certo
por quem. Descontração na equipe, o final de semana finalmente estava
começando.
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