Eu estava pensando a melhor maneira de expor o tema - tenho
dado preferência à ficção, pois além de agradar mais ao leitor, compromete
menos a autora. Mas após a notícia do tumulto na Alemanha, causado por mais de
mil e quinhentas pessoas que compareceram a uma festa de aniversário marcada e
cancelada no Facebook (aproximadamente dez por cento dos que haviam confirmado presença),
escrever posteriormente a respeito seria perder a contemporaneidade do assunto.
Venho notando que o desconhecimento dos mecanismos nas redes
sociais– e até mesmo a falta de hábito em conferir o que está sendo divulgado
virtualmente – vem gerando muito mais do que gafes. Na vida real, o impulso não
fica registrado, é uma das vantagens da oralidade.
Voltando à rede social, considerando as pessoas que se
conheciam antes de sua existência, sua grande diversão é reencontrar pessoas,
além de manter contato. O leitor já observou quantos twitters ou mensagens
podem ser postadas enquanto aguarda uma ligação sua ser atendida? Se a
ferramenta que permite publicar e compartilhar informação já existisse há
alguns anos e todos meus amigos tivessem perfil em rede social, é bem provável
que a necessidade de ter um blog nem surgisse.
Em um desses reencontros, um amiguinho do colégio escreve
para o outro através da rede social chamando-o pelo apelido que a classe
inteira conhecia mas que hoje seria considerado bullying. Xiiii, foi o que
pensei. Outra amiga dos dois, menos contida, retrucou ao autor da mensagem -
dessa vez publicando no mural dele, ou seja, acessível a todos seus amigos de
Facebook – chamando-o pelo seu odiado apelido, a publicação foi algo próximo a:
“- KKKKK, Fulano, tinha esquecido que ele era o Ciclano” (troque, obviamente, Fulano
e Ciclano pelos apelidos).
A conversa terminou assim, mas o estrago certamente já
estava feito: familiares, colegas de trabalho e amigos de outras origens que
não a escola descobriram o apelido. A maturidade esperada do adulto nem sempre
consegue proteger antigas feridas com a mesma eficiência que o faz em relação
às novas. Estou na torcida para que não tenha sido a origem de uma nova
manifestação de Bullying, apenas mudando do ambiente escolar para o do trabalho
e seus novos círculos de amizade.
Brincar relembrando algo desagradável é bem pior do que fazer
humor com uma situação inusitada – mesmo assim isso acontece com frequência. No
Brasil a adolescente distraída ganharia notoriedade, a festa ocorreria com ou
sem ela, ou alguém duvida que os camelôs ficariam de fora da convocação? Se
partirmos da atual seleção das notícias veiculadas (e com destaque) na mídia
tradicional, como o enterro da “fogueteira do Maracanã”, a adolescente
distraída comemoraria os 18 anos assinando contrato com a Playboy.
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