quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ai, ai.

Posto da Receita Federal. Após pegar a senha de atendimento, retirou da bolsa o texto que há tanto precisava ler. Sentou ao seu lado uma senhora, em conversa comprida, repetitiva, de conteúdo inexpressivo e em volume alto ao telefone. Porém, enquanto ela observava ao redor se algum lugar mais silencioso ficaria vago, a tal senhora desligou o telefone e dirigiu-lhe a palavra:
- Temos que agradecer sempre, minha filha, a vida está boa é agora.
O olhar mantido no texto, contudo, não foi suficiente para finalizar a conversa:
- Eu sempre digo isso aos meus filhos. Essa mesma, com quem eu estava falando, trabalha demais a coitada. E eu digo a ela: agradeça pelo trabalho.
Sem opção de outro lugar para sentar, nem de silêncio, procurou com a ironia acabar com o diálogo.
- Que bom que hoje estava tranqüilo e ela conseguiu conversar com a mãe ao invés de trabalhar.
Mas a mulher continuou:
- Sabe, antes eu não pagava imposto. Agora a coisa tá tão boa que até imposto vou pagar – falou rindo de satisfação. Recebi a cartinha e vão deixar parcelar. Uma parcela a mais, uma parcela a menos... o importante é ter como pagar todas. (suspiro) Só quero ver o valor dessa parcela...Mas não reclamo não. Se estou pagando imposto é porque está melhor. Meus filhos começaram a pagar imposto antes de mim, inclusive essa com quem eu estava no telefone.
- Não deixa de ser uma forma otimista de ser...
- Ah! Eu sou otimista sim. E fico contente quando vejo na TV que os juros foram baixados de tão boa que está a economia.
- É, pra quem deve ficou melhor. Caloteiro, então, nunca foi tão bem tratado (outra mulher, no banco de trás assentiu com a cabeça). Em compensação, as tarifas bancárias, que praticamente todo mundo paga, aumentaram muito.
- Não pago tarifa, não.
- A senhora deve ser daquelas privilegiadas, cujo empregador fez convênio com a instituição financeira.
- Sou funcionária pública aposentada, será que é por isso? (Risos) Viu como tá bom? Com juros mais baixos dá até pra pagar mais tarifa.
- Não vejo essa fartura toda. Só sei que quem não quiser pagar mais tarifa, e for trocar de banco, só vai conseguir se não tiver empréstimo algum com ele e, além disso, a não ser que a conta não tenha investimento, vai perder dinheiro mudando as regras da poupança ou recomeçando a contar a tabela progressiva do Imposto de Renda. Por outro lado, quem tem responsabilidade e faz questão de não viver a mentira de possuir o que não tem como sustentar, tá lascado; vai demorar mais tempo para juntar dinheiro para comprar à vista, já que tanto o juro pago está menor quanto os preços sobem todo mês.
- Mas tá melhor, sim: pobre não comia enlatado e hoje pobre não só come como guarda enlatado em casa.
- É que rico não como mais enlatado; o enlatado de ontem é o orgânico de hoje.
- Orgânico? Orgânico é safadeza!
E nisso o aviso luminoso chamou a senha preferencial e todos ao redor puderam voltar a aguardar em paz.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Ser leitor de biblioteca é exercer cidadania

O professor pediu-nos para ler um livro. Eu e os demais alunos não o encontramos disponível na Internet. A grande probabilidade de ser leitura única, específica para uma aula, desmotivava sua compra... foi então que me lembrei das bibliotecas.

O download de arquivos pode ser considerado hábito consolidado em uma democrática Internet - aos que tem acesso a ela, é verdade. Discute-se bastante os limites da pirataria on line, assim como as fitas cassetes e as copiadoras já foram consideradas vilãs. Penso que o autor tem que ser respeitado, se ele disponibiliza seu trabalho, ok. Se não o faz, que outros não se considerem donos fazendo-o.

Mas pelo retorno financeiro, baixar um texto ou arquivo nem sempre siginifica interesse pelo assunto, ou validação de seu conteúdo. Já na biblioteca, um livro que é muito requisitado e costuma ter lista de espera merece mais um exemplar na prateleira. Sair de casa para poder ler é uma forma de prestigiar quem lhe proporcionará o conhecimento.

O Google pode ser muito eficiente quantitivamente, mas qualitivamente os acervos públicos são mais; mesmo livros recebidos por doação passam por prévia triagem. Considerando então a facilidade de pesquisar o acervo em casa, de, por exemplo, em segundos saber que mais de 40 exemplares estavam dispovíveis, 5 deles em bibliotecas próximas aos lugares que frequento, questionei-me quanto ao hábito perdido.

A ênfase dada hoje é à compra de computadores pelo poder público, à qualidade de conexão de rede e outros itens cibernéticos. Não discuto que sejam importantes, mas são complementares - depender de algo privado, disponível ao público, como a Internet, é aceitar submeter-se, no futuro, à servidão. Sem querer ser alarmista, há muito a informação substituiu a pólvora nas estruturas de poder.

Confesso que não havia visitado a Biblioteca Mario de Andrade (a principal de São Paulo, no centro) após a reforma. Fiquei muito feliz com o que vi. Sem olhar para o lado de fora da vidraça, é possível imaginar-se em qualquer biblioteca de ponta do mundo. Foi enquanto aguardava para retirar o livro que percebi o quanto é importante frequentar bibliotecas. Não apenas para ter acesso à programação cultural gratuita da cidade ou para influenciar-se com a visão de tantas pessoas estudando, mas também para reforçar que há muita gente ávida por conhecimento e é importante disponibilizar gratuitamente informação a todos.

domingo, 24 de junho de 2012

Dessas coisas...

Você está sem fome, mas aí vê seu chocolate favorito em promoção e, antes de chegar em casa, já não há mais barra alguma.

Você está com muita fome e, como visita, tem que esperar para poder comer. Eis que o antepasto é de jiló e o prato principal cozido de acelga e fígado, entre outros, (apresentado como especialidade da nova chef) lhe tiram o apetite, momentaneamente, mas tiram.

O importante, mesmo, é não perder o bom humor.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Todo dia é dia

A vida como um diálogo poderia não ser a melhor metáfora, mas era a que lhe ocorria: diálogo com todos, com tudo, conosco mesmo.

Vida que segue rotina é uma descrição, quase um monólogo. Repetição que parece dar segurança; já se sabe a próxima letra, a próxima palavra e quando não houver mais linha a ser dita, é possível com certeza afirmar como será o começo. Qualquer alteração seria a morte. Morte, carta número treze no tarô, significa exatamente mudança.

Mas do que adiantaria viver se certeza existisse; se soubéssemos as respostas nem faríamos perguntas - e sem pergunta resposta alguma há. Hoje é daqueles dias que nos mostram que não sabemos nem as respostas nem como perguntar.

Início de inverno. A água que molha o solo amortece o barulho da rua, um convite para ficar em casa. Ainda bem que não há rotina.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Call Parade

"Alô Paulista", diz o letreiro do bonde
Quando vi o primeiro orelhão customizado, fiquei contente: além da inserção do colorido na cinzenta cidade, talvez fossem respeitados. Eu ainda telefono de orelhões - afinal, detector de chamadas já é a regra e não é sempre que se quer divulgar o número do nosso telefone - e constantemente encontro-os depredados ou em locais com muito ruídos. Pessoas que utilizam telefone público geralmente parecem constrangidas, acredito que seja pelo teor de suas ligações, que costumam exigir anonimato. Conversas em orelhões são como toda conversa em telefone deveria ser: rápidas, sem desperdício de tempo - mas isso é outro assunto, não vem ao caso agora.
Só percebi que as tais obras eram um "parade" quando reconheci neste desenho o mesmo motivo do rinoceronte que ficou semanas em frente ao MASP, foto que postei aqui no blog. Ok, Street Art chama-se. Aos poucos, fui divertindo-me com a criatividade alheia e imaginando os possíveis locais, além da Av. Paulistae das ruas de São Paulo, que poderiam recebê-los:


Na beira de uma piscina

As fotos refletem minha preferência do circuito da Paulista, mas há outros tantos orelhões bem elaborados - ao todo são 100 orelhões divididos em 8 circuitos. Para tirá-las, precisei esperar alguns dias, já que, nos momentos sem chuva, o número de pessoas que tiveram a mesma ideia não foi pequeno. Até empresa de telefonia (vi depois no site oficial da exposição que a iniciativa foi dela) estava fazendo propaganda; se você tivesse o celular deles, eles tiravam sua foto e mandavam para você, sem custo. É interessante que o paulistano tem parado para simular uma ligação - e não os turistas.

Em qualquer jardim

As conversas em torno de alguns exemplares também são divertidas, as pessoas tentam adivinhar seu significado, o material empregado, a inspiração do artista, já que não tem placa informando autor ou título do trabalho (inicialmente havia, mas deve ter virado souvenir de alguns espertos) - também não sei haverá leilão depois.


(é uma jaca)
Essa fruta, por exemplo, nem eu, nem as pessoas que estavam à volta, conseguimos reconhecer, mas certamente ficaria bem em qualquer barraca de beira de praia, mesmo que não vendesse seu suco - poderia transformar-se em piada ou ponto turístico. De longe, parecia uma pera. Só descobri que era uma jaca pelo site.

Em ambiente escolar ou na feira
Considerando criatividade, gostei de um que vi por foto, foi colocada uma sombra do orelhão no chão, só quem chega bem perto percebe o motivo dele não ter sido pintado. Mas o lápis atrás da orelha, como fazem os comerciantes, com o capricho de não apenas mostrá-lo externamente foi o que considerei mais original. Aliás, em vários orelhões, a graça da brincadeira é o que é colado dentro, muito mais do que é mostrado fora, não dá para ficar observando do carro ou do ônibus, é preciso andar pelas calçadas para realmente ver a exposição a céu aberto.

Acervo MASP
Dias depois percebi que nem os artistas estavam sendo respeitados. É, tem coisas que nos deixam tal qual o guerreiro chinês em exposição no MASP. Os pixadores não respeitaram a manifestação artística, isso em uma região considerada segura na cidade. Se agem na Paulista, imagina no resto da cidade. Não acho que eu esteja exagerando; mesmo sendo apenas um rabisco no poste, não deixa de ser uma intervenção na obra de arte. Além das vacas e dos rinocerontes que vi em São Paulo, visitei por acaso "parades" de ursos e vasos - em nenhuma delas vi vandalismo intensional. Até mesmo a danificação no cérebro, orelhão em frente à FIESP, não dá para saber se quiseram danificar ou se o material empregado é que não foi adequado (semana passada colocaram esparadrapo na parte que estava caindo, mas não deu certo ou desistiram).

A exposição vai até dia 24 de junho, comemora os 40 anos do orelhão, que eu não sabia, foi testado pela primeira vez em 1971 e é um modelo elaborado para o Brasil, projetado pela arquiteta Chu Ming Silveira, que pensou na comodidade térmica e na acústica proporcionada pela casca de um ovo. Mas se você ainda não viu a Call Parede, venha logo, antes que a destruam, pois já foi possível constatar que, na cidade, não é apenas o orelhão que está com o cérebro danificado.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

(A)os devotos


E não é que Santo Antônio lhe compreendera? Não que acreditasse em santos ou tivesse rezado: o que está pendurado pelo pescoço, na cortina, fora presente. Mas desacreditar é muito diferente de desrespeitar - e se para tanta gente aquele pedaço de madeira esculpida e pintada significava a salvação da vida, não poderia desprezá-lo. Por isso, seguindo à tradição de colocá-lo de castigo, escondeu atrás do sofá o Santo Antônio enforcado.

Agora, que em tese ele perdeu a serventia, não poderia deixá-lo lá – nem jogá-lo fora, ele que talvez tivesse alguma influência em seu estado de felicidade... Lembrou-se da igreja do bairro, quem sabe algum freqüentador se interessasse... Ensaiou diversas falas, até que percebeu ser melhor simplesmente deixá-lo. Para fazer bonito, e, se fosse necessário, disfarçar a situação, pegou uma vela branca, dessas que se usa quando falta luz elétrica.

De manhã, em horário que não havia missa, foi à igreja. Mesmo sem ninguém por ali, resolveu acender sua vela, muito mais alta e imponente do que aquelas acesas e oferecidas à venda. Ao lado, bem calçado, deixou o santo.

Ao voltar do trabalho, preferiu desviar o caminho, apenas para conferir se Santo Antônio ainda estava por lá. Foi então que soube do início de incêndio na igreja. As causas seriam apuradas, infelizmente não havia câmeras de segurança, explicou-lhe o bombeiro, entre um gole de café e uma mordida de biscoito, ofertados por uma moradora da rua.

E este poderia ser o início, não o fim, dessa história.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Contando ninguém acredita...

Dezoito graus sem vento, sem sol, sem chuva: eis a melhor condição climática para se passear entre edifícios. Com o agasalho apropriado, estava feliz caminhando por aquelas familiares calçadas. O raro silêncio da avenida ampliava sua satisfação e, agora, ainda tinha o relógio da rua, que indicava sua temperatura favorita para passeios urbanos.

Estava feliz também porque quase ficara em casa; não fosse o compromisso assumido, teria sido essa sua opção. Agora, ali, caminhando, percebia o quanto era agradável ter tempo para poder caminhar sem pressa, observando o caminho. Ninguém à frente, ninguém ao lado. Era feriado. Ao ouvir "desculpa", não se virou, nem alterou o passo. "Desculpa, nunca aconteceu antes", voltou a ouvir.

Com tão pouca gente por ali, estava difícil fazer qualquer movimento de forma discreta. Nenhum muro espelhado, nenhuma vitrine que pudesse emprestar seu reflexo. Ao tentar olhar pelo canto do olho, baixou o rosto que contemplava a luminosidade do céu. Foi então que viu um skate - lentamente - passando em baixo de seu pé.

O pensamento, que estava longe, não retornou a tempo. Muitas seriam as opções, mas fez o menos provável, seu pé apoiou-se naquele lento skate, enquanto o outro mantinha-se imóvel. Um joelho dobrou, o outro virou para o lado. Perna e mão latejando. Indiferente, a câmera de segurança mantinha o mesmo movimento: vigiava o muro, não a calçada.

Não enchergou ninguém. Ainda sem entender o que havia ocorrido, voltou a ouvir "desculpa, nunca aconteceu antes". Foi então que viu uma mão oferecendo apoio para levantar-se. Levantou-se, pediu para que houvesse mais cuidado, se a vítima fosse uma pessoa de idade o estrago teria sido grande. O dono do skate parece ter entendido, colocou-o embaixo do braço e seguiu seu caminho em passos acelerados.

* * *

Andar de skate entre as pessoas ou carros equivale a jogar frescobol na beira do mar em dia de praia cheia. Por melhor que seja o esportista (sim, são esportes e exigem ambiente adequado para a sua prática) é sempre uma irresponsabilidade praticá-los entre os que não são do meio.

As pessoas não fazem, mas não seria exagero, ao ser atingido por uma bola, bumerangue, skate ou qualquer outro objeto (esportivo ou não), simplesmente apreendê-lo e entregar para a polícia - afinal podem ser considerados arma do crime de lesão corporal. Na prática, só se conseguir identificar a possibilidade de uma indenização é que se reclama para valer. Mas um dia isso muda.




quarta-feira, 6 de junho de 2012

Farofando

Viajar é mudar de hábitos, de preferência hábitos que se possa escolher. Geralmente acabamos absorvendo extremos: nada fazer ou fazer o máximo possível.

Há alguns anos, defendi, contrariando a maioria dos autores da área, que turismo não exige deslocamento, apenas mudança de hábito. E não afirmei considerando a realidade da exceção da exceção - a capital paulista - que sempre tem muita coisa para se fazer e em todos orçamentos, mas qualquer realidade.

Por exemplo: não conseguirei fugir do frio no próximo feriadão e ficarei em casa. Escolhi que farei turismo gastronômico, mas de uma forma diferente (novo hábito), que qualquer pessoa tem condições de imitar e se divertir... Não, não "viajei na maionese" - e, se sim, eis também novo hábito. ;)

* * *

Se você viaja com frequência, principalmente se já esteve fora do país por um período longo o suficiente para não apenas sentir saudade, mas torcer para voltar logo e comer de novo...

Preencha as reticências com o(s) prato(s) que quiser. Tente lembrar se, ao retornar da viagem, você o degustou dignamente. Provavelmente não, talvez no máximo tenha dito "mãe, tava com saudade do seu feijão". Aí que vem minha sugestão para sua próxima excursão turística: antecipe o que você já deveria ter feito, dê valor ao que está tão presente em você que nenhum deslumbramento tira. Assim aproveitará melhor o próximo destino, com menos saudade, e terá dado à comida a merecida dignidade.

No meu caso, sem dúvida, farofa é o que mais sinto falta de comer. Gosto de farinha de mandioca de qualquer jeito: crua, torrada, fria, aquecida (com ou sem gordura). Também poderia ser prato principal. Na gíria, eu não concordo, é o arroz quem só acompanha, não a farofa, que combina com todos os pratos salgados e democraticamente misturar-se com qualquer picado (o arroz faz melhor, ainda fica bom doce, mas isso é outra história).

Pois bem, planejando meu turismo de feriadão, provavelmente chuvoso e frio, fui ao supermercado: comprei 1 pacote de cada farinha de mandioca existente, três na verdade: crua, grossa e torrada. Depois, passeei pelas prateleiras pensando o que poderia colocar no meu "pout pourri".  Ainda estou planejando o roteiro, decidindo o que, com o que e como cozinhar. Vou anotar tudinho para, na volta de outra viagem, já saber como comemorar meu retorno.

* * *

Receita que aprendi, amei e esquenta: faça chocolate quente sem colocar açúcar (use chocolate bom, em dosagem em que o chocolate fique forte, não tente com achocolatado). Pingue 3 gotas de molho de pimenta no fundo do copo ou caneca e sirva o chocolate quente. O calor fará a pimenta misturar-se (não suja nem colher!).


sábado, 2 de junho de 2012

Tempo ao tempo

O tempo perguntou para o tempo
quanto tempo ele tem.
O tempo respondeu para o tempo
todo o tempo que ele tem.

Se soubéssemos dosar o tempo, não precisaríamos da formalidade das medidas, essas meras comparações: cedo, tarde, rápido...ansiedade; teríamos apenas a vida vivida.

Foi ontem que eu nasci - nem me lembro.

Faz tanto tempo que não como esse cachorro-quente, de quem restam apenas esses guardanapos com mostarda no prato à minha frente, que eu comeria outro - com a mesma avidez da saudade.

É como bom cozinheiro, nem sempre precisa de receita. Tempera com o que tem. Tempera o que tem. Vai cozinhando e temperando. Tempera só com o fogo. Tempera só com o corte. Serve sem provar. Prova a cada tempero. Tanto faz, se faz do seu jeito, o jeito de quem cozinha muito, que há muito tempo cozinha, que apaixonadamente o faz.

Se soubéssemos dosar o tempo, tempo seria apenas o clima: sol, chuva, vento, ar condicionado - cada um em seu momento; a real duração do tempo.