"Alô Paulista", diz o letreiro do bonde |
Quando vi o primeiro orelhão customizado, fiquei contente: além da inserção do colorido na cinzenta cidade, talvez fossem respeitados. Eu ainda telefono de orelhões - afinal, detector de chamadas já é a regra e não é sempre que se quer divulgar o número do nosso telefone - e constantemente encontro-os depredados ou em locais com muito ruídos. Pessoas que utilizam telefone público geralmente parecem constrangidas, acredito que seja pelo teor de suas ligações, que costumam exigir anonimato. Conversas em orelhões são como toda conversa em telefone deveria ser: rápidas, sem desperdício de tempo - mas isso é outro assunto, não vem ao caso agora.
Só percebi que as tais obras eram um "parade" quando reconheci neste desenho o mesmo motivo do rinoceronte que ficou semanas em frente ao MASP, foto que postei aqui no blog. Ok, Street Art chama-se. Aos poucos, fui divertindo-me com a criatividade alheia e imaginando os possíveis locais, além da Av. Paulistae das ruas de São Paulo, que poderiam recebê-los:
Na beira de uma piscina |
As fotos refletem minha preferência do circuito da Paulista, mas há outros tantos orelhões bem elaborados - ao todo são 100 orelhões divididos em 8 circuitos. Para tirá-las, precisei esperar alguns dias, já que, nos momentos sem chuva, o número de pessoas que tiveram a mesma ideia não foi pequeno. Até empresa de telefonia (vi depois no site oficial da exposição que a iniciativa foi dela) estava fazendo propaganda; se você tivesse o celular deles, eles tiravam sua foto e mandavam para você, sem custo. É interessante que o paulistano tem parado para simular uma ligação - e não os turistas.
Em qualquer jardim |
As conversas em torno de alguns exemplares também são divertidas, as pessoas tentam adivinhar seu significado, o material empregado, a inspiração do artista, já que não tem placa informando autor ou título do trabalho (inicialmente havia, mas deve ter virado souvenir de alguns espertos) - também não sei haverá leilão depois.
(é uma jaca) |
Em ambiente escolar ou na feira |
Acervo MASP |
Dias depois percebi que nem os artistas estavam sendo respeitados. É, tem coisas que nos deixam tal qual o guerreiro chinês em exposição no MASP. Os pixadores não respeitaram a manifestação artística, isso em uma região considerada segura na cidade. Se agem na Paulista, imagina no resto da cidade. Não acho que eu esteja exagerando; mesmo sendo apenas um rabisco no poste, não deixa de ser uma intervenção na obra de arte. Além das vacas e dos rinocerontes que vi em São Paulo, visitei por acaso "parades" de ursos e vasos - em nenhuma delas vi vandalismo intensional. Até mesmo a danificação no cérebro, orelhão em frente à FIESP, não dá para saber se quiseram danificar ou se o material empregado é que não foi adequado (semana passada colocaram esparadrapo na parte que estava caindo, mas não deu certo ou desistiram).
A exposição vai até dia 24 de junho, comemora os 40 anos do orelhão, que eu não sabia, foi testado pela primeira vez em 1971 e é um modelo elaborado para o Brasil, projetado pela arquiteta Chu Ming Silveira, que pensou na comodidade térmica e na acústica proporcionada pela casca de um ovo. Mas se você ainda não viu a Call Parede, venha logo, antes que a destruam, pois já foi possível constatar que, na cidade, não é apenas o orelhão que está com o cérebro danificado.
A exposição vai até dia 24 de junho, comemora os 40 anos do orelhão, que eu não sabia, foi testado pela primeira vez em 1971 e é um modelo elaborado para o Brasil, projetado pela arquiteta Chu Ming Silveira, que pensou na comodidade térmica e na acústica proporcionada pela casca de um ovo. Mas se você ainda não viu a Call Parede, venha logo, antes que a destruam, pois já foi possível constatar que, na cidade, não é apenas o orelhão que está com o cérebro danificado.
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