Dezoito graus sem vento, sem sol, sem chuva: eis a melhor condição climática para se passear entre edifícios. Com o agasalho apropriado, estava feliz caminhando por aquelas familiares calçadas. O raro silêncio da avenida ampliava sua satisfação e, agora, ainda tinha o relógio da rua, que indicava sua temperatura favorita para passeios urbanos.
Estava feliz também porque quase ficara em casa; não fosse o compromisso assumido, teria sido essa sua opção. Agora, ali, caminhando, percebia o quanto era agradável ter tempo para poder caminhar sem pressa, observando o caminho. Ninguém à frente, ninguém ao lado. Era feriado. Ao ouvir "desculpa", não se virou, nem alterou o passo. "Desculpa, nunca aconteceu antes", voltou a ouvir.
Com tão pouca gente por ali, estava difícil fazer qualquer movimento de forma discreta. Nenhum muro espelhado, nenhuma vitrine que pudesse emprestar seu reflexo. Ao tentar olhar pelo canto do olho, baixou o rosto que contemplava a luminosidade do céu. Foi então que viu um skate - lentamente - passando em baixo de seu pé.
O pensamento, que estava longe, não retornou a tempo. Muitas seriam as opções, mas fez o menos provável, seu pé apoiou-se naquele lento skate, enquanto o outro mantinha-se imóvel. Um joelho dobrou, o outro virou para o lado. Perna e mão latejando. Indiferente, a câmera de segurança mantinha o mesmo movimento: vigiava o muro, não a calçada.
Não enchergou ninguém. Ainda sem entender o que havia ocorrido, voltou a ouvir "desculpa, nunca aconteceu antes". Foi então que viu uma mão oferecendo apoio para levantar-se. Levantou-se, pediu para que houvesse mais cuidado, se a vítima fosse uma pessoa de idade o estrago teria sido grande. O dono do skate parece ter entendido, colocou-o embaixo do braço e seguiu seu caminho em passos acelerados.
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Andar de skate entre as pessoas ou carros equivale a jogar frescobol na beira do mar em dia de praia cheia. Por melhor que seja o esportista (sim, são esportes e exigem ambiente adequado para a sua prática) é sempre uma irresponsabilidade praticá-los entre os que não são do meio.
As pessoas não fazem, mas não seria exagero, ao ser atingido por uma bola, bumerangue, skate ou qualquer outro objeto (esportivo ou não), simplesmente apreendê-lo e entregar para a polícia - afinal podem ser considerados arma do crime de lesão corporal. Na prática, só se conseguir identificar a possibilidade de uma indenização é que se reclama para valer. Mas um dia isso muda.
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