domingo, 21 de outubro de 2012

Estranhamentos


Poderia não ter olhado, mas olhou. Lá estava ela, maior que um palmo: a borboleta preta imóvel no plafon. Preferia uma lâmpada queimada como causa do escuro. Cuidadosamente, apagou a luz, fechou a porta e ficou torcendo para que ela fosse embora logo.
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Pela fresta do tapume viu os homens trabalhando lá embaixo, como se fosse uma pequena mostra da Serra Pelada. Quatro, cinco andares escavados a poucos metros da avenida que recebia ônibus e caminhões. Sem chuva ou com chuva, resolveu que não passaria mais por lá, nem iria à livraria vizinha – não enquanto o prédio não fosse visível. Só quando passa em frente é que se lembra do prometido... Hoje, por exemplo, percebeu que a calçada estava rachada. Não atravessou - já faltava espaço para as cadeiras e mesas do outro lado da rua – acompanhou cada centímetro das marcas no cimento novo, exatamente em todo cumprimento do terreno. Definitivamente, ninguém deveria passar por lá.

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Naquele horário havia muito movimento, ainda mais naquela avenida. Para piorar, com prédios antigos e calçadas estreitas, não era possível estacionar. Cada um de um lado, passo sincronizado para ir mais rápido no trecho a pé, não precisaram pedir licença. As pessoas paravam para olhar e os carros paravam para olhar as pessoas paradas. Foi assim que atravessaram sem precisar ir até o farol, até mesmo as motos não quiseram chegar perto. Iam precisar dessa moleza, mesmo, quando estivessem não só com o caixão, mas também com o defunto dentro.

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A vendedora garantiu-lhe que era a escolha acertada: melhor benefício, pela rapidez valia o preço. Resolveu testar e precisou concordar. Após dias de orgia gastronômica, em minutos a calça que ficara apertada pediu cinto. Que maravilha de creme! Só espera não engordar no banho.

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