Poderia não ter olhado, mas olhou. Lá estava ela, maior que
um palmo: a borboleta preta imóvel no plafon. Preferia uma lâmpada queimada como causa do escuro.
Cuidadosamente, apagou a luz, fechou a porta e ficou torcendo para que ela fosse
embora logo.
Pela fresta do tapume viu os homens trabalhando lá embaixo,
como se fosse uma pequena mostra da Serra Pelada. Quatro, cinco andares
escavados a poucos metros da avenida que recebia ônibus e caminhões. Sem chuva
ou com chuva, resolveu que não passaria mais por lá, nem iria à livraria
vizinha – não enquanto o prédio não fosse visível. Só quando passa em frente é
que se lembra do prometido... Hoje, por exemplo, percebeu que a calçada estava
rachada. Não atravessou - já faltava espaço para as cadeiras e mesas do outro
lado da rua – acompanhou cada centímetro das marcas no cimento novo, exatamente
em todo cumprimento do terreno. Definitivamente, ninguém deveria passar por lá.
Naquele horário havia muito movimento, ainda mais naquela
avenida. Para piorar, com prédios antigos e calçadas estreitas, não era
possível estacionar. Cada um de um lado, passo sincronizado para ir mais rápido
no trecho a pé, não precisaram pedir licença. As pessoas paravam para olhar e
os carros paravam para olhar as pessoas paradas. Foi assim que atravessaram sem
precisar ir até o farol, até mesmo as motos não quiseram chegar perto. Iam
precisar dessa moleza, mesmo, quando estivessem não só com o caixão, mas também
com o defunto dentro.
A vendedora garantiu-lhe que era a escolha acertada: melhor
benefício, pela rapidez valia o preço. Resolveu testar e precisou concordar.
Após dias de orgia gastronômica, em minutos a calça que ficara apertada pediu
cinto. Que maravilha de creme! Só espera não engordar no banho.
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