Antes das eleições, havia uma certeza: ⅓ dos votos seriam do
PT. E como o PT hoje apenas segue Lula, se fosse Tirica – não Haddad - o candidato,
⅓ dos votos seriam dele.
No colégio, aprendi que a esquerda não ganhava eleições
porque se dividia. Mas isso foi em uma época em que não havia segundo turno.
A partir da existência de segundo turno em eleições majoritárias
de maior repercussão, notou-se a oposição não tão significativa assim. Maquiavelicamente
e com ajuda do marketing, o discurso foi alterado.
Quem tinha ideologia migrou para novos partidos. A estrela,
por outro lado, passou a ser moda, importando apenas segui-la – um bilhete para
baladas e diversão (sei que quem esteve no centro de São Paulo nos últimos dias
compreende a que estou me referindo).
A geração Y (nascidos na década de 90) conhece essa curtição.
Talvez alguns Y, em São Paulo, tenham ouvido falar de Paulo Maluf – quase uma
lenda urbana. Graças a Lula, Maluf voltou a ter repercussão nacional.
Ao prestigiar Maluf, Lula agiu tal qual os coronéis que
parece um dia ter criticado e hoje são os aliados em que se espelha: a participação
do rebanho é exclusivamente seguir seu pastor; roubar é detalhe aceitável, o
importante é aumentar ao mostrar o que faz.
Mesmo que o roubo seja generalizado na política – ou que
Lula (e por consequência o PT) esteja mais ao centro do que à esquerda, certamente
nenhuma ingenuidade houve no acordo de cavalheiros. Talvez até tenha sido o ato
mais ético da política nos últimos anos. Todos iguais, uns mais do que os
outros.
O tal aperto de mãos fez com que os planos de governo, as
propostas para a cidade e os candidatos deixassem de ser o foco (por que
esconder isso?) por algum tempo. Tudo bem que São Paulo é cosmopolita, mas é até desrespeito
com os outros lugares do país transformar em questão nacional a eleição daqui.
Os enfoques dados às polêmicas também em nada ajudaram. O
tal “kit gay”, por exemplo: significativo não é nem o conteúdo nem a diferença
entre dizer “professores, sintam-se livres para trabalhar o assunto” ou “alunos,
não há tabu”, mas que em um caso a política foi implementada e no outro dinheiro
público foi utilizado em um projeto vetado na última hora.
Sinto-me vivendo tal qual os relatos lidos da época do
milagre econômico: propaganda de otimismo baseada em números selecionados,
repetição de discursos evasivos, desestímulo ao raciocínio e debate, posicionamentos em
que o ser “contra a” é mais presente do que o “a favor de”. Não importa que não
saia jogo.
Em uma eleição que ganharia o menos rejeitado, estamos
escolhendo entre um vaidoso e o fantoche de outro vaidoso, cuja vaidade se
desconhece. Maluf, “de camarote”, pode até já ter tido a vaidade saciada, mas
não deve ser o suficiente e já deve ter combinado seu prêmio, afinal, mesmo sem entrar em campo, foi lhe dado o papel de "fiel da balança", sendo o
grande vencedor.
Publico este texto antes do início da votação. Tentei ser o
mais neutra possível, mas confesso ter receio de estar sendo injusta com o
Tiririca, afinal, nada além do preconceito pela baixa escolaridade pode-se
falar dele.
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