quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mato Vertical

Mato é todo vegetal que nasce sem ser plantado. Nas aulas de jardinagem, a ordem é sempre a mesma: destrua todo e qualquer mato, senão vai faltar espaço e nutriente para o que você plantou. Os professores esquecem de que nem sempre sabemos o que estamos plantando ou como será o que está sendo plantado – muito menos todas as possibilidades que temos. Uma coisa é a ideia, outra, a realidade.
Mês passado morreu o pé de couve que eu havia plantado por estaquia. Aliás, foi a primeira estaquia que deu certo: cortei os talos do que veio do supermercado e um vingou. Eu até cheguei a colocar foto aqui, quando ficou grande e o vento o derrubou de onde estava. Mesmo quebrado, o pé de couve agüentou mais de um ano. A estaquia foi feita por impulso, na pia da cozinha mesmo, afinal o não, que seria não germinar, eu já tinha. O detalhe é que eu nem desconfiava que ele poderia ficar mais alto que eu – algo inviável para um apartamento. Se tivesse esperado estudar a couve antes de plantá-la, não teria tido a felicidade de ver 8 cm que iriam ao lixo virarem 80 (as mini-folhas de couve ficaram bem decorativas no arroz).
E isso porque gosto de planejar. Só que aprendi que o planejamento perfeito nunca sai do papel – e o melhor planejamento é o que sai do papel, mesmo que nunca tenha ocorrido. Confuso? Meus vasinhos estão lotados e praticamente não sei quem são minhas companheiras verdinhas. Estou feliz mesmo assim com o colorido delas, tenho curtido mais sabendo que nascem espontaneamente do que quando precisava me preocupar em onde plantar o quê.
Tudo começou negligenciando o primeiro cuidado ensinado: antes de colocar no vaso, peneirar a terra para tirar toda e qualquer semente... E as pequenas? E as que vêm voando? Será possível identificar toda e qualquer semente? Resolvi, na época, usar a terra tal qual quando comprada e ver no que dava – deu em um diversificado, colorido e cheiroso mato.
Sementes compradas em saquinhos dizem quando e em quais condições devem ser plantadas – além de serem previamente tratadas com fungicidas ou outras substâncias do gênero. Mas comprar semente, com tanta semente que acaba indo no lixo? Imagina!
Foi assim que nasceram tomates cereja após longo cultivo de sementes de pimentão, exóticas flores e capins – logo depois identificadas nas calçadas da cidade. Tenho a impressão que nem em ambiente artificial, como o hidropônico, nasce o que se planta – pelo menos só o que conscientemente se planta. Lógico que depender do plantio para comer é uma situação diferente, não é disso que estou falando. Falo de viver, não da limitação do sobreviver.
Entre tanto planejamento e tanto foco naquilo que desejamos ou imaginamos precisar, será que percebemos o que plantamos? E o que descartamos? Sabemos todas sementes que temos? Onde germinam melhor? Como saber sem tentar? Buscamos um espaço verde ou precisamos de um ambiente paisagístico que demande constante manutenção? Cada um tem o seu estilo, mas que é bom só precisar colocar água, isso é.

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