Mato é todo vegetal que nasce sem ser plantado. Nas aulas de
jardinagem, a ordem é sempre a mesma: destrua todo e qualquer mato, senão vai
faltar espaço e nutriente para o que você plantou. Os professores esquecem de
que nem sempre sabemos o que estamos plantando ou como será o que está sendo
plantado – muito menos todas as possibilidades que temos. Uma coisa é a ideia,
outra, a realidade.
Mês passado morreu o pé de couve que eu havia plantado por
estaquia. Aliás, foi a primeira estaquia que deu certo: cortei os talos do que
veio do supermercado e um vingou. Eu até cheguei a colocar foto aqui, quando
ficou grande e o vento o derrubou de onde estava. Mesmo quebrado, o pé de couve
agüentou mais de um ano. A estaquia foi feita por impulso, na pia da cozinha
mesmo, afinal o não, que seria não germinar, eu já tinha. O detalhe é que eu
nem desconfiava que ele poderia ficar mais alto que eu – algo inviável para um
apartamento. Se tivesse esperado estudar a couve antes de plantá-la, não teria
tido a felicidade de ver 8 cm que iriam ao lixo virarem 80 (as mini-folhas de
couve ficaram bem decorativas no arroz).
E isso porque gosto de planejar. Só que aprendi que o planejamento
perfeito nunca sai do papel – e o melhor planejamento é o que sai do papel,
mesmo que nunca tenha ocorrido. Confuso? Meus vasinhos estão lotados e praticamente não sei quem são minhas companheiras verdinhas. Estou
feliz mesmo assim com o colorido delas, tenho curtido mais sabendo que nascem
espontaneamente do que quando precisava me preocupar em onde plantar o quê.
Tudo começou negligenciando o primeiro cuidado ensinado: antes
de colocar no vaso, peneirar a terra para tirar toda e qualquer semente... E as
pequenas? E as que vêm voando? Será possível identificar toda e qualquer
semente? Resolvi, na época, usar a terra tal qual quando comprada e ver no que
dava – deu em um diversificado, colorido e cheiroso mato.
Sementes compradas em saquinhos dizem quando e em quais
condições devem ser plantadas – além de serem previamente tratadas com
fungicidas ou outras substâncias do gênero. Mas comprar semente, com tanta
semente que acaba indo no lixo? Imagina!
Foi assim que nasceram tomates cereja após longo cultivo de
sementes de pimentão, exóticas flores e capins – logo depois identificadas nas
calçadas da cidade. Tenho a impressão que nem em ambiente artificial, como o hidropônico,
nasce o que se planta – pelo menos só o que conscientemente se planta. Lógico que depender do
plantio para comer é uma situação diferente, não é disso que estou falando. Falo
de viver, não da limitação do sobreviver.
Entre tanto planejamento e tanto foco naquilo que desejamos
ou imaginamos precisar, será que percebemos o que plantamos? E o que
descartamos? Sabemos todas sementes que temos? Onde germinam melhor? Como saber sem tentar? Buscamos
um espaço verde ou precisamos de um ambiente paisagístico que demande constante
manutenção? Cada um tem o seu estilo, mas que é bom só precisar colocar água, isso
é.
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