quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

0 x 0

Haveria merecimento maior do que o sincero desejo? Discordava veementemente, não que tivesse deixado de querer, desejar o que sempre lhe parecera ser merecido. Faltava-lhe preguiça, sobrava-lhe prudência ante a aparente indiferença do mundo.

 
Ali, ele e seu computador somente. Ao contrário dos outros, sabia que Ctrl+z não o tornava melhor jogador, apenas garantia-lhe o resultado refazer, identificar exatamente em qual ponto tomara a decisão errada, por onde deveria recomeçar. De suas tentativas só ele sabia – e não queria saber de mudar.

 
Estratégias que dão certo devem ser mantidas enquanto não são perdedoras. Até aquele momento, 100% de êxito iludia-lhe o mostrador. O programa registrava partidas ganhas e não ganhas. Refazendo ganhava todas, desistindo, contava com a mesma sorte dos outros para vencer. E a isso não podia concordar. Afinal, apesar da prudência, faltava-lhe preguiça.

 
Pois, naquela tarde de temporal e trovões, tantos que espelhos foram cobertos e tomadas desconectadas sem dó, o pensamento lhe ocorreu. O corte de energia, o “99%” no placar não o tornou nem mais, nem menos prudente. Percebeu que também permanecia incansável e o Ctrl+z estava lá, funcionando: ainda seria o mesmo, mesmo com menos orgulho para ostentar, orgulho só dele e que para ele apenas existia.

 
Desligou-se, então, do jogo; não de suas conquistas. Refez a vida para conquistar o mundo. 

Nenhum comentário: