Haveria merecimento maior do que o sincero desejo? Discordava
veementemente, não que tivesse deixado de querer, desejar o que sempre lhe
parecera ser merecido. Faltava-lhe preguiça, sobrava-lhe prudência ante a
aparente indiferença do mundo.
Ali, ele e seu computador somente. Ao contrário dos outros,
sabia que Ctrl+z não o tornava melhor jogador, apenas garantia-lhe o resultado refazer, identificar exatamente em qual ponto tomara a decisão errada, por onde
deveria recomeçar. De suas tentativas só ele sabia – e não queria saber de
mudar.
Estratégias que dão certo devem ser mantidas enquanto não
são perdedoras. Até aquele momento, 100% de êxito iludia-lhe o mostrador. O
programa registrava partidas ganhas e não ganhas. Refazendo ganhava todas,
desistindo, contava com a mesma sorte dos outros para vencer. E a isso não
podia concordar. Afinal, apesar da prudência, faltava-lhe preguiça.
Pois, naquela tarde de temporal e trovões, tantos que
espelhos foram cobertos e tomadas desconectadas sem dó, o pensamento lhe
ocorreu. O corte de energia, o “99%” no placar não o tornou nem mais, nem menos
prudente. Percebeu que também permanecia incansável e o Ctrl+z estava lá,
funcionando: ainda seria o mesmo, mesmo com menos orgulho para ostentar,
orgulho só dele e que para ele apenas existia.
Desligou-se, então, do jogo; não de suas conquistas. Refez a vida para conquistar o mundo.
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