Noite sem chuva, pareceu apropriado ver a apresentação de
natal na “fonte do Ibirapuera”. Não está muito diferente do ano passado. Dessa
vez cheguei cedo e observei que o horário das 20:30 é menos recomendado do que
o das 21hs por dois motivos: o céu ainda não está totalmente escuro e os
vendedores ambulantes estão mais atuantes.
Além disso, pareceu-me que há mais adultos sem noção às
20:30. Sem noção de tudo mesmo, desde as visíveis cervejas a mais
(provavelmente consumidas durante a tarde) até irresponsáveis acompanhados de
suas crianças.
O raciocínio é simples: se a criança não jantou, se nenhum
lanche foi levado para ela, não é óbvio que ela vai pedir qualquer comestível
que lhe mostrarem? E, uma vez negado, a tendência a choro de uma criança com
fome e cansada não é evidente? Vai reclamar pela situação criada? Não sei o que
é pior, se a manha ou se a irritação do adulto. Os outros que não têm nada a
ver com a história acabam participando daquele clima ruim; se eu pudesse
colocava toda a família de castigo: já para casa, antes mesmo do início da
apresentação!
Posicionei-me estrategicamente entre uma família portenha,
que havia levado até uma esteira para sentar, e um casal com filho de uns 3
anos que estava no colo do pai comendo uma banana que a mãe lhe alcançava aos
pedaços; cenário aparentemente com menos indício de confusão. Mas foi só o
garoto olhar para o lado que o pai interpretou que ele queria uma espada.
R$20,00 por um cano de plástico quase do tamanho da criança que piscava
diversas cores. Outro vendedor apareceu e ofereceu um modelo menor, por
R$15,00. Sucessivos lances reversos, no final a espada maior saiu por R$6,00.
O primeiro vendedor, que deixou de lucrar R$14,00, ao invés
de sair dali e literalmente correr atrás do prejuízo, ficou resmungando que o
importante era não perder a venda, que não ia deixar que se atravessassem na
frente dele, melhor prejuízo do que ser passado para trás.
A mim pareceu ser burrice, que fidelização ele conseguiria
em um show? Também acho que se ele estivesse convencido do negócio feito não
teria ruminado por tanto tempo, ou ele pretendia gerar pena no casal para
conseguir a diferença? Alguém já viu comprador arrepender-se de desconto
barganhado? Ele que alegasse respeito ante o atravessador e, se o cliente não
desse bola, que não perdesse tempo. Negócios, negócios, orgulho à parte.
A criança jogou tantas vezes a espada no chão que ela parou
de piscar. Só que o esperto pai parece ter gostado da sequência de agachamento,
pois ele ligou novamente a espada. Nem preciso dizer que aquela luz piscando
ofuscava, no escuro, a visão da fonte. Mais sem noção ainda, o pai ficava
repetindo: “filinho, guarda a espada para depois, vê a fonte agora”. Se era
para a criança guardar, por que ligou de novo? Francamente, nem adulto quando ganha
um presente desses tem essa disciplina... A mãe só filmava pelo celular,
estendendo bem o braço e atrapalhando a visão da família argentina. O papai
argentino, então, levantou-se e passou na frente da filmagem. A mulher nem deu
bola, virou-se de costas e começou a filmar o filho com a espada. Resultado: nenhum
dos 3 viu o final da apresentação. Eu, naquele momento, já havia decidid a ficar para
a das 21hs, estava divertido demais as caras e bocas do povo à volta (e se eu
insistisse em assistir ou em ouvir a música só ficaria irritada).
Foi assim que descobri a vantagem de ir às 21hs – mas se você
acha que estou muito crítica em relação à feliz família, vá às 20:30. O
importante é divertir-se e entrar no clima de celebração de natal.
Feliz Natal.
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