quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Minutos de um dia
O temporal no final do dia era certo, tanto o céu quanto a
meteorologia confirmavam. Saiu vestida para contemplar o radiante sol, afinal,
capa, chapéu e guarda-chuva só servem para melhorar o conforto diante de chuvas
e chuviscos – e são péssimos companheiros no calor. Teve sorte, só na saída do
último endereço os pingos começaram a precipitar.
Outras pessoas estavam na mesma situação. Pelo menos três
ligaram para casa e pediram para alguém (a empregada?) trazer-lhes
guarda-chuva. Definitivamente seu mundo não era ali. Saiu como se não houvesse
água, se ali ficasse poderia mencionar aos que chegassem a insalubridade do
trabalho externo ou a diferença entre trabalhar e ser serviçal. Qual a
razoabilidade de nada fazer (ficar parado esperando) a não ser colocar outra
pessoa para se molhar, andando o dobro de seu percurso, enquanto a intensidade
da chuva aumenta?
Fazia anos, três talvez, que não tomava um banho público
daqueles. Geralmente, em temporais, o atrito da água na pele ativa a circulação
e aquece. Naquelas poucas quadras a água era fria e sem força, o vento forte e
gelado. Sentiu-se transparente no cruzamento com o semáforo estragado, mas
bastou o pensamento para um senhor, portador de enorme guarda-chuva, estender o
braço. Só o bloqueio da ventania tornava suportável ficar parada, no inverno
sentiria menos frio.
Em outro cruzamento teve mais sorte: uma árvore – caída desde
o dia anterior – bloqueava a via enquanto estava sendo serrada. Sem enxergar
muito bem o que o celular captava, tirou várias fotos. Pobre árvore, plantaram
e podaram-na tanto que ficou sem sustentação. Só percebeu onde ela havia caído
quando as pessoas à sua esquerda mudaram de posição. Com tanto lugar para
cair...foi o que pensou. Corrigiu logo: com tanto horário para cair, pelo menos
aconteceu sem ninguém dentro do carro.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Ontem, um dia.
Ontem foi um dia que saiu da rotina, mesmo permanecendo na rotina: várias páginas da Internet ficaram inacessíveis e a chuva de pedra veio no meio do temporal, não no início – como de costume. De madrugada, quando a normalidade regressou (alguns ainda estão sem luz, é verdade), tais fatos foram ignorados pelas reportagens. No entanto, destaco duas que “estavam no clima” de ontem:
árvore trancando garagem e calçada, não a rua |
Alameda Santos, ontem |
Museu austríaco, atendendo a pedidos, estabeleceu um horário para que naturalistas pudessem assistir sua exposição de nus masculinos. Pessoas protestaram, outras deixaram-se fotografar sem roupa dentro do museu. Em exposição do ano passado, quem fosse nu entrava de graça.
A exumação da família real brasileira.
O sossego do anonimato versus seu descarte. Dois exemplos da eterna inconformidade que temos com o que somos e de que não aproveitamos nem respeitamos a natureza própria e do outro: quem tá feliz não perde tempo impedindo o bem-estar alheio nem fica procurando qualquer coisa no passado. Nada mais rotineiro na vida, porém nem sempre presente em jornais.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Campanha de(a) formiguinha
O entregador estava parado na calçada, parecia apoiar-se na única porta de saída disponível. Isso ela havia visto. Mas ela precisava sair para a rua. E nada da criatura mover-se. Puxou a porta com cuidado e o cara lá, com o rosto próximo ao interfone, olhando um minúsculo papel - e a mão ainda no alto, bem próxima à porta. Ela precisou desviar para chegar à calçada.
- Cuidado com a mão
Foi apenas isso que disse ao fechar a porta que não amassou ou encostou em dedo algum – e a mão permaneceu imóvel todo o tempo. Percebeu, então, que a criatura murmurava, tentou entender o que era, entendeu alguns xingamentos, optou pela indiferença (certamente o destinatário era quem o fazia esperar) e seguiu. Conforme afastava-se permanecia ouvindo a voz do homem e, ao atravessar a rua o berro foi: “folgada”.
Duas horas depois, quando retornou, o porteiro não se lembrava qual apartamento havia chamado o entregador de água mineral, mas pareceu-lhe comum a falta de educação, confidenciou que é o rotineiro.
Existe limite para a tolerância. Por mais que se presuma a diversidade de problemas enfrentados por alguém que trabalha de bicicleta no sol forte, sem um boné sequer, carregando 30 quilogramas, a situação da criatura só diz respeito a ela. Ainda bem que conseguiu essa função, pois com um comportamento totalmente desprovido da mínima regra de convivência em breve nem este conseguirá. E não é a vida, o mundo, é apenas a pessoa colhendo o que planta. O básico do básico: se aceitou, que faça o melhor; se não quer mais, assuma. Duvido que não tenha gente mais educada precisando de emprego. Já não costumava pedir nada delivery, agora menos ainda vou pedir.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Deve ter sido em 2007. Fiquei tão decepcionada que pedi a confirmação do que havia lido. E era verdade. As fotos dos pratos culinários não refletiam comida de verdade, havia na gastronomia uma especialidade, da qual não lembro o nome, que só preparava pratos para fotos. Comida destinada ao lixo. O frango assado, por exemplo, para ficar corado, é pintado cru. Carnes em geral não são cozidas, apenas coloridas.
Na época em que fiz a contratação da tal profissional que montaria os pratos a serem fotografados, comentei minha descoberta com uma amiga veterinária. Ela não sabia nem se surpreendeu: assim como ela estudara cinco anos os animais e trabalhava cuidando da conservação de sua carniça, a chef da foto estudara os alimentos e estimulava o apetite apenas de outra forma. O argumento calou-me, perder a ingenuidade era o preço de propor-se a conhecer os bastidores.
Lembrei-me disso ao ler que os chefs de Nova Iorque estão proibindo que seus clientes tirem foto de seus pratos. Alegam que o flash atrapalha a experiência de quem estiver na mesa próxima. Pode ser. Mas minha teoria é outra: não tem uma foto de cliente que realmente aguce o apetite. Pior: sem os truques dos bons fotógrafos, qualquer um descobre que aquele prato farto, em casa, seria utilizado para a sobremesa. Além disso, olhando de cima, a finíssima fatia de melão em tom degradê, que levou horas para ficar naquele tom e naquele formato helicoidal, nem é percebida.
A refeição sofisticada é uma obra de arte privada, preparada para ser destruída. A surpresa (da aparência e do sabor) faz parte da experiência. Exclusividade idem - não dá para dividir a refeição. Algumas obras de arte atuais seguem este conceito. Fotografia também é uma arte, feita por amadores é dispensável. Divulgar foto de sua própria refeição é tão estimulante aos outros quanto ver a foto da Mona Lisa direto do Louvre: a admiração vai ser mais pelo fotógrafo ter conseguido ultrapassar a multidão de máquinas à frente do quadro, ou seja, por onde ele está, do que pela imagem em si.
Sei que metalinguagem é muito presente e bastante estimulada; uma característica pós-contemporânea. Mas o que é mais importante: viver, parar de viver para mostrar ou contar que viveu? Proibições existem pela ausência de bom senso. Tirar foto do próprio prato, pelo menos sem flash, não parece ser o caso: o vizinho que não bisbilhote a mesa ao lado e o chef que controle sua vaidade e confie em seu negócio. Pior é tirar foto do ambiente, já que sempre tem alguém ao fundo - e se essa pessoa da outra mesa não pudesse ser vista ali, naquelas circunstâncias? Sem dúvida um ambiente sem foto é mais salutar do que um prato sem foto.
Técnica eficiente, provavelmente involuntária, para não tirar foto – e que talvez gerasse processo nos EUA – foi a de um funcionário de bar que, enquanto o grupo de amigos se organizava, olhava as fotos arquivadas no celular. Ele podia até estar fissurado pelo acesso ao recém lançado aparelho, mas, na dúvida, deixamos ele tirar uma foto só.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Feriado
Tenho percebido que quanto melhor a qualidade de vida, menor
a necessidade de mudança. O que antes eu identificaria como tédio ou conformismo,
tal qual as pessoas manterem nos dias livres rotina próxima a de seus dias
corridos, hoje parece-me um tanto quanto agradável.
Já fiz, por exemplo, contagem regressiva para o carnaval. De
repente, viajar em outro período pareceu mais interessante; o aconchego do silêncio
da rua com a chuva caindo melhor opção que a alegria das fantasias e o
vai-e-vem nas ruas.
Pelas fotos, o carnaval de rua daqui de São Paulo até está
animado e há diversidade nas propostas dos blocos, certamente em outras épocas
não perderia um. Mas hoje...incomoda-me mais tantas páginas sendo atualizadas
na Internet (justo aquelas que deixei anotadas para ler um dia que desse tempo...).
De interessante ou relevante em minhas buscas, por enquanto,
nada. Apenas um registro: como carnaval não é feriado nacional, o Tesouro
Direto funcionará normalmente.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Com que roupa?
Evento muito importante. Em outro continente. Primeira impressão que necessariamente precisava ser impecável e, por isso, a eterna dúvida. Parecia que só a pessoa não sabia escolher, todos os presentes na reunião tinham opinião formada e até discutiam entre si as vantagens de uma ou outra opção.
Quieta, em um canto, ela tentava acompanhar a conversa, desconhecia a maioria dos termos e perdia-se imaginando que tonalidades seriam as mencionadas - será que era a única a não entender? Até que a obrigaram a falar sua opinião - sim, todos deveriam ajudar na escolha. Ela, então, pediu mais dados: a roupa iria na mão ou precisaria despachar? (importante para escolha do tipo de tecido) Da aterrissagem até o evento, quanto tempo levaria? (se a mala fosse extraviada, ao menos acessórios precisavam ir a bordo e outra roupa de emergência) Qual o vestuário utilizado normalmente, no local, para tal evento? (roupa é cultura).
E assim, sem as respostas, mudou-se de assunto.
Por acaso, em uma dessas pesquisas que se faz na Internet, achei um blog em que era perguntado o melhor vestuário masculino. Várias moças responderam suas preferências. Primeiro, fiquei perplexa de que nenhuma disse que o importante era o gajo sentir-se bem. (Será que estamos tão padronizados assim?) Depois, achei que eu escrever isso no comentário ia destoar demais do contexto, eu que não deveria ter perdido meu tempo lendo o humorado texto.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Utilidade Pública
Hoje fui tomar vacina para febre amarela – estou ainda torcendo para não ter a enxaqueca que tive doze anos atrás. Procedimento rápido: você entra no site do Ministério da Saúde, preenche seus dados, depois escreve tudo de novo no livro do posto e então passa para outra sala, onde sequer sente a agulha. O que demora, mesmo, é a conferência dos dados do seu documento com o que está na tela e o que está no livro. Três funcionárias para isso pareceu-me exagero. No final, não entregam mais aquela cartolina laranja, mas um papel da casa da moeda.
Curiosa que sou, após preencher a tela do Ministério da Saúde que fora indicada, apertei o “continuar” e coloquei outras informações pedidas: abriu-se uma outra janela avisando que mesmo em trânsito a vacina deveria ser tomada (alguém pensa que em ônibus, avião ou navio não tem mosquito?), depois há uma lista de sintomas que não poderiam ser negligenciados e, por fim, recomendação para ao ar livre usar calça clara comprida, vedada com fita crepe na botina e besuntada de terebentina.
Há quantos anos não ouvia esse nome! Lembro do vidro que tinha lá em casa e de seu cheiro forte. Da surpresa de haver outra utilidade além de limpar pincéis, meu pensamento voou para fato recente, do sobrinho de um amigo que, aos 7 anos, do hotel fazenda do interior de São Paulo voltou às pressas para a CTI do hospital da capital: carrapato, depois de morder capivara, se morder humano, mata. Existe cura, mas não há interesse comercial em sua comercialização.
Enquanto uma das funcionárias lia atentamente meu nome, RG etc na tela e no documento – e uma fila era formada do lado de fora, já que os outros tinham feito em casa o tal cadastramento na Internet – perguntei para as outras duas se sabiam como deveria ser a tal aplicação de terebentina na roupa. Não sabiam.
Saí de lá pensando nas fotos que vi do pantanal... acho que as pessoas usavam short e papete. Repelente serve para carrapato? Ou só para mosquito? Na Amazônia eu sei que nem blusa cotton (aquelas de algodão, justas e aparentemente grossas) impede picadas, você até anestesia depois de um tempo e para de sentir, sei disso porque lembro de ter engolido alguns mosquitos por ter parado de tampar a cara. Piranhas mordiam o anzol sem isca e mosquitos mordiam o tecido envenenado que se mexia: depois dizem que vida urbana é violenta.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Aposentando paradigmas
Planta-se o que se colhe. Não é praga, mas mera
consequência.
Viver hoje, somente o hoje, se fosse comportamento normal,
não seria um esforço, o propósito de alguns: apenas aconteceria.
Confesso que a inflação não reconhecida oficialmente e a
redução da taxa de juros confundem-me constantemente. É que ainda pretendo ter
a escolha de colher o fruto da aposentadoria.
Como não pertenço à população de servidores públicos com
direito à aposentadoria integral (os que ingressam atualmente, na esfera
federal, perderam este benefício) e sei que mesmo quem se aposenta pelo teto em
poucos anos passa a ter sua aposentadoria reduzida, tenho consciência da
necessidade de poupar.
Taxas de juros menores remunerando minhas parcas economias obrigam-me a economizar mais ao mesmo
tempo que a inflação faz com que o poder de compra diminua: qual a medida certa
do plantio? Quais contas manter? Onde investir?
Pouquíssima literatura tenho encontrado a respeito (a
maioria não está adaptada para a atual situação econômica do país), como se as
pessoas não percebessem o empobrecimento que estão plantando. Ou eu estou
exagerando?
Sem uma bela reserva monetária e/ou patrimonial, ainda mais
em uma população envelhecida (mais pessoas idosas precisando dos mesmos
serviços), caos é bem previsível – e fortes emoções não são recomendáveis após
uma certa idade. Alguém tem alguma dica?
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