O temporal no final do dia era certo, tanto o céu quanto a
meteorologia confirmavam. Saiu vestida para contemplar o radiante sol, afinal,
capa, chapéu e guarda-chuva só servem para melhorar o conforto diante de chuvas
e chuviscos – e são péssimos companheiros no calor. Teve sorte, só na saída do
último endereço os pingos começaram a precipitar.
Outras pessoas estavam na mesma situação. Pelo menos três
ligaram para casa e pediram para alguém (a empregada?) trazer-lhes
guarda-chuva. Definitivamente seu mundo não era ali. Saiu como se não houvesse
água, se ali ficasse poderia mencionar aos que chegassem a insalubridade do
trabalho externo ou a diferença entre trabalhar e ser serviçal. Qual a
razoabilidade de nada fazer (ficar parado esperando) a não ser colocar outra
pessoa para se molhar, andando o dobro de seu percurso, enquanto a intensidade
da chuva aumenta?
Fazia anos, três talvez, que não tomava um banho público
daqueles. Geralmente, em temporais, o atrito da água na pele ativa a circulação
e aquece. Naquelas poucas quadras a água era fria e sem força, o vento forte e
gelado. Sentiu-se transparente no cruzamento com o semáforo estragado, mas
bastou o pensamento para um senhor, portador de enorme guarda-chuva, estender o
braço. Só o bloqueio da ventania tornava suportável ficar parada, no inverno
sentiria menos frio.
Em outro cruzamento teve mais sorte: uma árvore – caída desde
o dia anterior – bloqueava a via enquanto estava sendo serrada. Sem enxergar
muito bem o que o celular captava, tirou várias fotos. Pobre árvore, plantaram
e podaram-na tanto que ficou sem sustentação. Só percebeu onde ela havia caído
quando as pessoas à sua esquerda mudaram de posição. Com tanto lugar para
cair...foi o que pensou. Corrigiu logo: com tanto horário para cair, pelo menos
aconteceu sem ninguém dentro do carro.
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