Campanha de(a) formiguinha
O entregador estava parado na
calçada, parecia apoiar-se na única porta de saída disponível. Isso ela havia
visto. Mas ela precisava sair para a rua. E nada da criatura mover-se. Puxou a
porta com cuidado e o cara lá, com o rosto próximo ao interfone, olhando um
minúsculo papel - e a mão ainda no alto, bem próxima à porta. Ela precisou
desviar para chegar à calçada.
- Cuidado com a mão
Foi apenas isso que disse ao fechar
a porta que não amassou ou encostou em dedo algum – e a mão permaneceu imóvel
todo o tempo. Percebeu, então, que a criatura murmurava, tentou entender o que
era, entendeu alguns xingamentos, optou pela indiferença (certamente o
destinatário era quem o fazia esperar) e seguiu. Conforme afastava-se
permanecia ouvindo a voz do homem e, ao atravessar a rua o berro foi: “folgada”.
Duas horas depois, quando retornou,
o porteiro não se lembrava qual apartamento havia chamado o entregador de água
mineral, mas pareceu-lhe comum a falta de educação, confidenciou que é o
rotineiro.
* * *
Existe limite para a tolerância. Por
mais que se presuma a diversidade de problemas enfrentados por alguém que
trabalha de bicicleta no sol forte, sem um boné sequer, carregando 30
quilogramas, a situação da criatura só diz respeito a ela. Ainda bem que
conseguiu essa função, pois com um comportamento totalmente desprovido da
mínima regra de convivência em breve nem este conseguirá. E não é a vida, o
mundo, é apenas a pessoa colhendo o que planta. O básico do básico: se aceitou,
que faça o melhor; se não quer mais, assuma. Duvido que não tenha gente mais
educada precisando de emprego. Já não costumava pedir nada delivery, agora
menos ainda vou pedir.
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