segunda-feira, 23 de maio de 2016

Aos poucos e pela borda

Hoje há alguns consensos:

1) É necessário mudar as regras trabalhista e previdenciária.


2) Não há contexto político ou econômico para redução de direitos.

 

Como conciliar os interesses envolvidos?

Existe uma “classe” de trabalhadores que é negligenciada pelos sindicatos: os que têm remuneração acima do teto da previdência. São profissionais acessados durante as suas férias, que não sabem o que é hora extra. A sugestão envolve estas pessoas. Explico:

 

É usual as convenções coletivas possuírem dois índices de reajuste, com maior aumento a quem tem menor salário. O salário que define os reajustes, não por coincidência, costuma ser superior ao teto da previdência, afastando o risco de eventual execução fiscal por parte do INSS.

É usual também, ao ser promovido, o profissional ser convidado a ser sócio ou a virar pessoa jurídica; uma forma de diminuir o custo trabalhista para a empresa e de se ter maior remuneração por abrir mão de direitos. Integrar pessoa jurídica também é a alternativa encontrada por quem é demitido.

 

Apesar do aumento da remuneração, poucos são os que mantêm a contribuição para o INSS – se é que contribuem. A regra é não contribuir ou contribuir pelo piso, apenas para contar tempo (se vier a ser estabelecida uma idade mínima para aposentadoria, sem considerar tempo de serviço, proporcionalmente o operacional vai contribuir muito mais que seus chefes).

 

Do lado do empregador, são micro e pequenos empresários que absorvem a mão de obra qualificada e experiente, muito cara para ser celetista. Contratação de prestador de serviços tem menor custo e é mais flexível, não exige um terceiro intermediário para contratações temporárias nem dita prazo para período de experiência.

 

Eis aqui a sugestão, que pode ter efeito tão simbólico quanto a exoneração dos comissionados – porém que ajudará parcela da população que precisa simular as relações de trabalho: permitir, para quem receber acima do teto da previdência, a contratação por tempo determinado sem intermediário ou anuência do MP do trabalho. Sua renovação, porém, passaria a ser obrigatoriamente pela CLT.

 

Hoje a terceirização é proibida para a atividade fim da empresa e acaba recaindo para mão de obra de baixa qualificação. A contratação temporária, que não pode ser feita diretamente, também é feita com quem tem baixo salário. Isso continuaria igual.

A nova possibilidade pode ajudar a reinserção de quem perdeu emprego e diminuir risco do empreendedor que contrata, além de desestimular jeitinhos: uma lei possibilitando contrato em caráter pessoal, para quem recebe acima do teto do INSS, por prazo determinado, sem que isso signifique vínculo de emprego.

 

Com prazo máximo de 11 meses, renovável apenas via CLT, neste novo contrato temporário deve ser indicado o projeto que será feito pelo profissional e respectivo cronograma. Se o profissional terminar o projeto antes, o período com a remuneração mensal permanece a mesma – se o cronograma atrasar por mais de 1 mês, o contrato pode ser rescindido. Após 11 meses, se houver qualquer contratação – outro contrato temporário ou via CLT - o trabalhador terá direito a 1 salário.

Não seria a primeira tentativa de ampliação na base de contribuintes, isso já ocorreu na instituição do MEI, aqui não há desconto na tributação (na negociação, o FGTS até pode vir a ser facultativo, conforme contrato, com ou sem multa).

As vantagens são (i) a segurança do empresário que contrata, de que não vai responder a uma reclamatória trabalhista pedindo dissídio, hora extra, adicionais diversos), (ii) o profissional passa a ter uma outra alternativa para manter-se no mercado de trabalho, mantendo-se com benefícios que não tem quando é prestador de serviço e com a tributação que já está acostumado; (iii) contratações temporárias oxigenam as empresas e permitem maior número de pessoas beneficiando-se de um mesmo posto de trabalho; (iv) ampliação do número de beneficiários do INSS recolhendo pelo teto (há alguns anos o governo fez um esforço equivalente com a criação do MEI, aqui, pelo mesmo custo por beneficiário, a arrecadação será muitas vezes maior).

domingo, 22 de maio de 2016

Diálogos de Sábado à Noite

- Aqui é a Paulista?
- É.
- Parece o Brás, você sai do metrô e já tropeça em camelô.

A menina equilibrava-se em um salto fino. Caminhava, falava e observava o movimento frenético do vendedor de churrasquinho de gato fazendo fumaça para chamar a clientela. O diálogo acabou porque ela tropeçou de costas nos sacos de lixo que ocupavam a calçada. E eu cultivando a paciência, parecia ter tido êxito ao desviar do abre e fecha das panelas do milho (é um corredor polonês de carrinhos de comida), mas com o tombo dela diversas lufadas vieram em minha direção. Não lembro deste marketing desrespeitoso no Brás, só dos sacos de lixo atrapalhando a calçada.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Programa Cultural



A imagem é do painel eletrônico, mas o quadro está lá também. "O triunfo da cor: o pós impressionismo", no Centro Cultural Banco do Brasil é daqueles programas que logo, logo vai exigir 
paciência na espera.

As visitas guiadas são para grupos de 15 pessoas, já agendados. Visitas individuais também têm hora marcada, basta levar o ticket impresso ou no celular. Senti falta de um audioguia (tinha que ter baixado no celular). A maioria das pessoas, no entanto, só olham e dão um passo ao lado. 

Se você estiver no centro da cidade, vale a pena tentar: sempre tem quem falte e, com isso, ingressos são liberados. A exposição, montada a partir do acervo dos muses d'Orsay e d'Orangerie, fica em São Paulo até 7 de julho - depois segue para o Rio. Horário: 9 às 21hs, fechado às terças.

sábado, 12 de março de 2016

Aos cientistas de plantão

Acabo de matar o segundo Aedes Aegypti que vi na vida. Ver o mosquito foi parecido com a entrada em um museu, quando se fica em frente às obras de arte já conhecidas. Faz umas seis semanas que aconteceu a primeira vez. Ao contrário dos outros mosquitos, que voam ferozmente contra o jato do inseticida, foi fácil matá-lo - sem reação alguma no vidro da sacada.


Mesmo sem vestígios de sangue, o ineditismo de vê-lo em casa abalou as estruturas, foi no dia em que a chuva começou e que também coincidiu com a mudança das plantas na portaria. Foram 5 mosquitos em poucos dias. Fiquei dias queimando veneno em espiral até achar que estava tudo bem.

Hoje, ao ligar a luz da cozinha, vi que tinha um inseto escorregando na parede: outro Aedes. Ele tentava pousar e caía no chão, bastou uma pisada certeira. Faz exatos 10 dias que a parede foi pintada, a tinta é daquelas fáceis de limpar, o que a deixa com um acabamento brilhoso. O que não consigo definir é se é melhor ter uma parede em que o mosquito não pára ou se é melhor um lugar em que ele fica paradinho.

Tive um colega que estudava armadilhas para Aedes Aegypti, em pneus e ambientes escuros, ele colocava fita dupla face, para ovos e fêmea ficarem presos. Aqui é o contrário: o mosquito não consegue pousar. Em ambientes com poucos lugares para pouso, ele cairia fora ou ficaria exausto. Será?

Biólogos e químicos de plantão: haveria um revestimento a ser utilizado em casa capaz de afugentar o mosquito e outros insetos? Eu começaria a pesquisar em estruturas lisas e escorregadias, Já pensou? Simples assim para o mosquito não querer entrar em casa? Fica a dica, todos agradecem por pesquisas a respeito.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Lidando com os tipos

Se o ano começa após o carnaval, este ano o carnaval coincidiu com o ano novo chinês, que sempre é lua nova, uma data para inícios.

Resolvi começar um arquivo eletrônico e jogar fora uma papelada que pouco consulto, porém que sempre acho que um dia será útil.

A apostila de um curso sobre dicas de apresentação, feito em outubro de 2001, é um desses exemplos. Gostei tanto que resolvi dividir com vocês o que eles falam sobre lidar com os diferentes tipos psicológicos de participantes:

“O NERVOSO”: perguntar primeiro qual a posição dele. No cafezinho, aproximar-se para verificar se o problema foi resolvido. Não retruque, fique calmo, e impeça que ele monopolize a discussão. Gente carente, quando recebe atenção, fica mais calma.

“O POSITIVO”: dê a palavra pra gente assim.Vergonha alheia apoiar puxa-saco.

“O SABE TUDO”: tentar neutralizá-lo, porém deixe-o por conta do grupo. É aquela criatura que consegue sozinha fazer o pessoal deixar de levá-la a sério.

“O FALANTE”: use o tato e limite o seu tempo. Quem define o conteúdo é o palestrante – sempre – se faltar tempo, foi o palestrante (e não o participante falante) quem errou.

“O ACANHADO”: fazer perguntas fáceis para que ele fique mais confiante e, sempre que possível, elogie a sua contribuição. Ignore toda e qualquer timidez, respeitar o jeito do outro pra quê, né?

“O QUE NÃO COOPERA, NÃO ACEITA”: reconheça a sua experiência e explore-a. É uma versão do nervoso, só que sempre do contra.

“O DESINTERESSADO”: peça exemplos a ele, dirija perguntas sobre sua atividade. Alguém sabe se quem digita no celular está interessado, anotando o que é dito, ou se está no whats ou jogando?

“O ORGULHOSO”: sempre tem uma opinião e a última palavra é a dele. Não o critique, use a técnica ‘sim, mas...’ É o sabe tudo de amanhã.


“O PERGUNTADOR RESISTENTE”: é quem fala alto o seu raciocínio, induzindo o atrapalhando a construção do raciocínio dos outros, ou então procura desconsertar e medir força com quem fala. A dica é passar para o grupo as suas observações e perguntas. Chato sempre deixe para os outros.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Carnaval na Capilal Paulista

Não é a primeira vez que passo o carnaval em São Paulo, porém é a primeira vez que fico na capital e vou conferir o que a cidade tem para oferecer. Tudo "culpa" dos bons comentários a respeito da organização.


Vi no pré-carnaval do Ibirapuera o controle de seguranças privados verificando o interior das bolsas impedindo vidro de entrar. A organização foi providenciada pela Amstel, marca de cerveja da Skol, logo era dela a exclusividade na comercialização. Um caminhão ao lado da praça com o comércio ambulante de comida garantia o abastecimento de cerveja e gelo. Eu ganhei balão, chapéu e, talvez por não consumir nada, achei uma sacanagem o pessoal ir para fora do cordão só para comprar bebida concorrente.

A experiência foi muito boa, cantei e dancei por algumas horas. Saí porque de repente pareceu que todo mundo percebeu como estava bom o lugar que eu estava, apesar do som dispersar pelo parque (ou por causa disso, o que permitia conversar sem esforço). Preferi guardar energia para um outro dia a insistir.

Bem, em pleno carnaval, nada de flanelinha na região da Vila Mariana. Já sabendo dos atrasos, cheguei algumas horas depois para um bloco que me pareceu adequado à diversão. Acertei. Foi muito fácil aproximar-se do carro de som, as famílias ficavam longe e à sombra. Ganhei mais chapéu, dessa vez nos modelos e cores que eu queria.

Para mim, o ponto forte foi cantar Wando em ritmo de marchinha - porém não fiquei nem até a metade da festa. O sinal amarelo foi uma garrafa de vodka quebrada no chão, que deixou meu pé melado e vergonhosamente sujo. Olhando para o chão, foi por milagre não ter ainda chutado qualquer long neck ou latinha.

Dessa vez vendia-se de tudo, estando cadastrado ou não, ou seja, as pessoas ficavam gritando o que estavam oferecendo, atrapalhando quem só queria dançar e cantar (eu, por exemplo). De comida, só a fantasia de um garoto: batata-frita, que achei genial.

Ainda há muito a ser melhorado, não vou me surpreender se criarem camarote nos próximos anos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

São Paulo

Percebi que minha primeira lembrança de São Paulo é a de um lugar próximo à Terra da Fantasia: as revistas em quadrinho e os livros didáticos vinham de lá. Por muitos anos, o que me foi permitido conhecer restringia-se ao trecho Dutra-Régis Bittencourt, com várias empresas conhecidas, atiçando ainda mais a imaginação infantil.

São Paulo foi a cidade que escolhi para viver – e o encantamento ainda está presente, aliás, nunca diminuiu. Sem dúvida há problemas, os mesmos das outras cidades de médio e grande porte, principalmente as brasileiras. De forma certa ou errada, a cidade está sempre se reinventando, as pessoas estão sempre chegando e partindo – o que é perceptível até a estranhos.

Após tanto tempo ouvindo que a cidade não pára, que o trânsito é infernal, que paulista só trabalha, e tantas outras críticas, eu diria que estas são vantagens de viver aqui, possibilidades de crescimento às quais as pessoas que criticam têm dificuldade em aceitar.

Sob a perspectiva do desapego, cada vez mais na moda, São Paulo continua sendo uma cidade de vanguarda: ter sempre pessoas na rua, haver lojas abertas, permite que cada um viva em seu ritmo ao invés de seguir o que a sociedade segue; o trânsito infernal ajuda a descobrir novos caminhos, à mudança de endereços, a conhecer mais pessoas, a desenvolver outras atividades; a sensação de reduzir a vida ao trabalho, a repensar na decisão profissional.

“Conduzo, não são conduzido” é o lema da cidade que começou com um colégio. Conduzir a própria vida é da essência deste canto do planeta, um desbravamento que torna a coragem bandeirante um lugar comum na escola da vida.

Nascimento de uma cidade é uma convenção que tenho certa resistência a aceitar; para todos os efeitos hoje esta cidade faz 462 anos, uma adolescente rebelde que ainda está em formação e se descobrindo.




sábado, 23 de janeiro de 2016

2016

Quase final do mês e percebo, ao reler a lista de resoluções para 2016, que já a descumpro: “retomar o blog” está escrito, enquanto muito escrito falta no blog.

Continuo tendo ideias mil e vendo cenas daquelas dignas de ficção, só que depois que precisei instalar o tal Windows 10 e ele veio com joguinhos que funcionam sem internet, sentar em frente ao computador e ficar pensando dá jogo – mesmo agora, em que a perspectiva de feriadão caseiro permite-me relaxar escrevendo.

Também aconteceu este mês de eu fazer uma maratona entre laboratórios clínicos. Cinco jejuns em 3 semanas bagunça a vida de qualquer um, convenhamos. O pedido médico era um formulário, várias listas de exames com xis marcados à caneta. Quando a recebi achei o máximo a praticidade e organização: consegui entender até para o que serviam.

Fui ao laboratório recomendado pela médica. A atendente, após confirmar com a chefe dela, disse-me que um dos exames eles não faziam – e que para dois eu teria que permanecer 24 horas em casa. Resolvi fazer os demais, voltei ao consultório e peguei novo pedido com o exame que faltava (ela preencheu toda a coluna dele de novo).

Com o novo pedido fui ao laboratório concorrente, disseram-me que faziam o exame, porém que não para o meu plano de saúde. Agradeci e fui à “versão popular” daquele laboratório. O atendente não achou o exame no sistema, a chefe disse que fazia – só que eu já não estava mais em conformidade com o seu preparo. Voltei outro dia, porém queriam o carimbo da médica (não valia o nome impresso com assinatura em cima).

Como se tratava de um lugar que por experiência passada nunca mais voltei, resolvi não insistir, procurei outro concorrente e eles também não tinham o tal exame. Por fim, consultei por telefone um outro laboratório que me garantiu fazer o exame, só que ao chegar lá (em jejum, que dúvida) pediram-me desculpa pelo equívoco na informação.

Na consulta, descobri que além de estar à procura do exame errado, o castigo 24h em casa foi para um exame que não havia sido pedido, logo que deveria ser refeito. Típica situação que nem adianta reclamar, aliás, reclamar para quem? No setor público o prejuízo seria do SUS, no privado, ou do plano de saúde, ou do laboratório se der glosa. Em ambos perde o paciente – eu mesma, que ainda estou em dúvida se mudo ou não de doutora.


Neste curto ano há outros fatos enrolados como narrado, daqueles que só recorrendo à astrologia para tocar em frente com equilíbrio. É que do dia 6 ao dia 25 o planeta mercúrio, responsável pela comunicação, está em movimento retrógrado, o que significa dificuldade de comunicação. Na dúvida, jejum para novos exames, só faço semana que vem.