quarta-feira, 29 de agosto de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
(A) A espera
Na linda e ensolarada tarde, cumpria o dever exercendo seu privilégio de dia útil praticamente livre.
O reflexo do vidro que lhe protegia do sol mostrou ao seu lado um senhor organizando papéis de propaganda política.
Sem qualquer juízo de valor, percebeu que não sabia o posicionamento dos atuais candidatos em relação à inspeção veicular ambiental.
Recebeu mais um adesivo e foi embora. Será o
último?
terça-feira, 21 de agosto de 2012
A sedução das promoções ou como uma cafeteira pode provocar questionamentos quanto a ausência de preconceito em relação ao desconhecido.
Comprei uma cafeteira elétrica. Já faz algum tempo, é
verdade. Se não contei antes é porque pressenti a história que estava por vir.
Tudo começou em uma promoção, não da cafeteira – mas do
cartão de crédito: a cada comprovante de compra acima de determinado valor um
brinde seria dado. A foto era linda! Fui ao posto de troca e conclui que o
brinde também era.
Passei alguns dias esperando a vontade passar. Nada. Na minha
lista de objetos de desejo, nenhum com valor próximo à compulsória compra.
Lembrei-me, então, do supermercado – comprar comida não seria exatamente um
desatino.
No dia em que a fatura do cartão fechou, conferi se ainda
havia brindes a serem distribuídos e fui ao supermercado. O carrinho ficou
cheio, aproveitei muito boas promoções, mas o valor necessário estava longe...
Foi então que o locutor anunciou a cafeteira. De marca
desconhecida, made in China, ela custava aproximadamente 8 embalagens de coador
de papel – e não precisava deles para funcionar. Uma pechincha.
Esquivei-me do vendedor do eletro e passei todas as compras
no mesmo cupom fiscal. Extrapolei cinco centavos do valor necessário, mas não
peguei a nota fiscal, documento imprescindível para a garantia.
Brinde trocado e vários cafés depois, a cafeteira passou a
vazar água. Coloquei-a na caixa e voltei ao supermercado. A funcionária
avisou-me que se o mês tivesse mudado, ela não conseguiria emitir a nota fiscal
e eu ficaria sem garantia alguma (será que o Procon sabe desse procedimento?)
Bem, saí de lá com uma cafeteira nova, que durou até ontem, quando começou a
vazar água.
domingo, 19 de agosto de 2012
Mirada
Pelo o que eu entendi, paranoia é listar de forma contínua diversos motivos para um determinado fato – praticamente um antídoto ao tédio. Por questões antagônicas, paranóicos e entediados paralisam em seus escolhidos momentos.
Eu tenho convicção de que nada é por acaso. Ampliar o acaso: observar ações, reações e omissões (próprias e alheias) parece-me mais divertido e produtivo do que construir porquês. Percebo também que são apenas diferentes profundidades a partir da superfície conceituada como vida.
Boiar, nadar, mergulhar; com ou sem corrente: uma escolha. Tanto faz. É possível que um dia precipite o que nos impede de enxergar o fundo ou a margem, margem ou fundo que podemos fugir ou procurar mergulhando, nadando, boiando. Também é possível que sejam os nossos olhos, fazer o quê?
No intervalo da Oficina de Psicanálise, exatamente em um particular período de escolha entre firme propósito ou gratidão e oportunidade, ganhei encadernação do SESC com a extensa programação do festival internacional de teatro em Santos. O enredo de algumas peças tem ligação direta ao que estudaremos – apesar de serem eventos independentes. Acaso? Quem compra o ingresso em São Paulo ganha o ônibus até o evento (ida e volta, lógico- mas mediante prévio agendamento). Será mais uma decisão a ser tomada...
D+ informações no sescsp.org.br/mirada.
D+ informações no sescsp.org.br/mirada.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Sobre a vida
Se na vida acontecesse extamente o que imaginamos, a fantasia não teria lugar - nem as surpresas.
Dizem que antes de nos submetermos à limitação da matéria, estabelecemos o que iremos fazer com o corpo físico que ganharemos.
É feliz quem cumpre o combinado, pois ao seguir a sua natureza terá condições de enfrentar o que vier.
Quanto maior a influência externa, maior a tendência de haver dificuldades.
É viver para ver (e não ver parar crer).
* * *
Apesar de escrever com inspiração em acontecimentos vividos, textos lidos e representações assistidas, dentro do possível tenho evitado manifestar-me na forma de aconselhamento, apesar de algumas consultas que volta e meia aparecem. É algo natural em nossa cultura perguntar a opinião dos outros. O que não percebemos, muitas vezes, é que em toda afirmação há percepções e valores de quem responde, os quais podem ser bem diferentes de quem pergunta - apesar da afinidade existente.
Por vaidade, talvez, a preferência seja provocar o outro a manifestar-se, ao invés de assumir as escolhas como próprias e correr o risco da censura.
Incertezas e medos existem muito mais por causa dos outros do que por nós mesmos. Exercitamos o pensar e somos instigados a falar o que raciocinamos a partir de parâmetros ensinados; esquecemos que a origem e a finalidade está no sentir.
Sentir-se bem é a única resposta possível. Se algo incomoda, é o impossível que está sendo vivido. Por que quem já atingiu o impossível esquiva-se do possível ainda não sei - mas não dá para responsabilizar a vaidade por tudo.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Suicidar-se
- Sinceramente, alguma vez você leu ou ouviu falar de alguém
que tenha cortado os pulsos após doar sangue?
- Que ideia!
- Você vem me falar de respeitar a opção do suicida e não
consegue sequer me escutar – e olha que o raciocínio é simples - quando não se
quer mais um objeto, ou uma roupa, o primeiro impulso não é colocar para dar?
Reciclamos até embalagens...
- Sim, e daí?
- Se alguém realmente não quer mais o seu corpo e sabe que
em algumas horas ele será pó ou comida de vermes, o razoável não seria
distribuí-lo para quem muito precisa?
- Ah! Você acha que o cara vai pensar...
- Tá, você acha que jogar-se na frente do metrô é um mero impulso, sem prévia reflexão. Se ele pensasse nos outros, pelo menos na família e nos
amigos que provavelmente sentirão sua falta, ele não se matava. É por isso que eu insisto ser o suicídio uma demonstração
de egoísmo.
- Lá vem você de novo...a pessoa precisa de ajuda.
- Concordo, apesar dessa ser uma contradição sua: se você
respeita a decisão do outro, não há no que ajudá-lo, basta respeitar. Pense bem: o viver é um
conviver após o outro. E conviver é deparar-se com as diferenças e nossas
limitações. Não há limites para o egoísta, há apenas ele e o seu querer. O
suicida é o cara que não consegue participar da festa, apesar de estar nela: não
dança aguardando sua música favorita nem pede outra música para o DJ; espera
ser servido, e é capaz de amargar fome a servir-se de outra comida porque o
garçon não aparece; interage dando ordens e se ouve as pessoas é mero acaso. Ele prefere
desligar a chave geral, sem se importar se há ou não um gerador: se não consegue se divertir do jeito que ele
imagina que os outros conseguem, ele se vinga acabando com a festa de todos.
- Exagero considerar o suicídio uma vingança.
- Há casos e casos, certamente, mas se não for vingança é raiva de sua incompetência em seguir em frente. Para mim, as tentativas
de suicídio existem para o suicida poder ver a reação das pessoas, o quanto
elas se subordinarão às suas vontades, o que tornaria a vida suportável a ele. Não é que deseje a morte, o que ele quer é o mundo que imagina e não existe. Só vou convencer-me de que se trata de
uma decisão madura quando antes de morrer o cara resolver doar não apenas
sangue, mas um rim, um pulmão e uma córnea.
- Credo!
- Por quê? No mínimo vai dar um tempinho a mais para decidir se é o
que ele quer mesmo e, se mudar de ideia, vai estar no lucro – pior é só
arrepender-se quando estiver do outro lado. O tormento é mais do espírito do que do corpo, tirar o corpo não deve alterar muito a realidade. Podemos mudar não apenas o que queremos como os ambientes e
pessoas com as quais convivemos: tem lugar para todo mundo no planeta, mas
depois que saímos dele, ninguém sabe se, quando, e em que condições vai voltar.
sábado, 4 de agosto de 2012
Respirar é para o amor. Transpirar, para o trabalho.
O semáforo acabara de abrir e ela recuou da sarjeta para a
calçada. Estava com febre, ansiosa e dispersiva, tentando compreender aquele
momento. Ainda não sabia o que pensar. O sinal continuava verde para os carros
que não existiam na rua. Correu. Cansou-se. Respirar é sempre, o transpirar
apenas acompanha.
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