As placas eram claras “até 5 volumes” e “até 10 volumes”.
Estava com 8. Percebendo que a funcionária aceitara, sem qualquer objeção,
passar 6 volumes, não teve dúvida: “oba, moça, pensei que a senhora só
atendesse até 5 volumes. Quando está vazio pode passar mais, né?” Ante a
negativa, pois 6 (apenas um a mais) não era o mesmo que 8 (quase o dobro)
voltou para seu antigo lugar: três pessoas ainda estavam na sua frente.
E o caixa até 5 volumes continuou vazio. Até que apareceu um
casal com carrinho volumoso. A funcionária disse que não podia passar mais de 5
volumes, mas o homem insistiu (a mulher ficou completamente muda) que ele
passaria 5 e ela mais 5. A gerente foi chamada e rapidamente longa fila foi
formada.
Não sabe bem como, mas quando viu já estava argumentando a
favor da funcionária e também reclamando para a gerente que na ausência de fila 8 volumes também deveria
poder, já que seriam 10 itens no mesmo cupom fiscal.
Mais tarde, lembrou-se do que lhe dissera uma menina suíça que
era au pair: “coitados, eles precisam
dessa esmola”. Ela referia-se às trapaças, mas em um outro contexto.
Ter discutido era um claro sinal de que precisava descansar.
Concedeu-se compulsivamente um dia de folga. Foi ao museu, já que era de graça
naquele dia da semana.
Fila enorme, com direito a tudo: medir pressão, responder
pesquisas de marketing, olhar artesanato dos estrangeiros hippies que hoje
ocupam a cidade, responder entrevistas de estudantes, ler publicações de poetas independentes
– tudo isso sem nenhum vendedor ambulante com comida ou bebida (ainda bem que
levara lanche na bolsa).
Aos poucos, as pessoas foram desistindo de esperar e uma
moça com um bom mapa de São Paulo tentava, em espanhol truncado, obter
informações de onde ir depois. Ao ouvir a Oscar Freire (uma rua de grifes em
São Paulo) como sugestão, percebeu que precisava intervir. Dessas coisas que
acontecem ao acaso, mas não por acaso - outro dia conta melhor.
A mulher da frente, ao passar pela bilheteria, pediu mais um
ingresso para uma suposta amiga que teria ido ao banheiro – e o funcionário
deu... Minutos depois, surgiu um senhor todo faceiro. Ele entrou como se fosse
ao restaurante, sem passar no detector de metais, e ficou com ela que, muito
orgulhosa, comentou alto “imagina, ele vai entrar sem ter sido revistado”,
ao ouvir a resposta de que “eu vi que você mentiu na
bilheteria, pedindo um ingresso a mais para uma amiga que estava no banheiro.
Sem a sua mentira e a dele, de que estava indo ao restaurante, a segurança não
teria sido falha”, a mulher fechou a cara e virou as costas,
Preferiu ficar contente por poder continuar conversando e
perceber a recuperação do cansaço, afinal, resumiu em pensamento apenas “QPQ!”:
Que Pena Querriii...você podia não precisar disso.