Nessa semana assisti pela primeira vez a última entrevista
de Clarice Lispector (está no You Tube, é a gravação de um programa da TV Cultura). Duas de
suas afirmações ficaram ressoando para mim. A primeira, de que não se
considerava escritora, pois era um rótulo que a isolava. Escrevia por prazer,
não por uma obrigação profissional. A segunda, de que não conhecia as pessoas
que haviam escrito sobre ela.
De certa forma, até então eu não havia percebido como é
muito mais fácil falar sobre o que não se conhece. Escrevo aqui o que
conversaria com amigos ou conhecidos. Questões mais técnicas parecem-me temerárias
de serem tratadas neste espaço e é com muita disciplina que deixo de opinar, por exemplo,
sobre o julgamento do mensalão ou a imposição de cotas no ingresso das federais
(estou apreensiva com as duas possibilidades que vejo: a de a classe média
voltar a matricular seu filhos nas escolas públicas, voltando a faltar acesso
aos pobres, ou da qualidade das federais passar a ser a dos colégios públicos
de hoje - #prontofalei).
Quando o diploma de jornalismo deixou de ser exigível,
muitas foram as críticas. A imparcialidade do jornalista não é mais um atributo
absoluto, nem é preciso que haja embasamento. E sem
embasamento afirmações viram verdade absoluta (se é que existe verdade absoluta).
Minha seletividade tem sido ler entrevistas – atividade que
só bons jornalistas conseguem fazer bem. Mas não é por isso que falo de
Clarice, nem dos jornalistas. É porque apesar das bobagens que são publicadas
com destaque ainda me surpreendo positivamente com iniciativas de utilidade
pública feitas pela mídia, em situações delicadas que só quem está na
superfície consegue tratar.
Falo do especial do Diário Catarinense. Para quem não sabe
ou não se lembra, na década de 80, descobriu-se que crianças brasileiras eram
vendidas para casais no exterior. Estima-se em 3mil, número de difícil
verificação já que documentos falsos eram usados e a adoção descentralizada. Hoje
adultos de aproximadamente 30 anos, há quem queira conhecer a mãe biológica. Há
mães que se interessam, outras que escondem da atual família o que fizeram - mais uma questão de direitos humanos que finge-se não existir.
A página criada informa a situação resgatando reportagens da
época e mostrando um grupo de adultos de Israel nascidos no Brasil e unidos na
busca de sua origem. São reportagens, não é abordado se a aproximação é
saudável para os envolvidos, nem o motivo das autoridades nacionais não ajudarem
na investigação, já que muitas mães foram enganadas ou tiveram suas crianças
furtadas. Sem julgar envolvidos, o jornal abre um importante canal de comunicação para quem
espontaneamente quiser rever seu passado.
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