Desconstruções e clichês - um ensaio para a sala de aula
O começo foi um fim. Prefere acreditar duvidando, ao contrário do que fazem com as bruxas: quase a cereja do bolo. Humm, está indeciso em qual bolo colocar aquela cereja, ou se um morango não seria melhor. Saliva feliz: seu regime só começará na segunda-feira.
Na dúvida, prefere consultar o horóscopo. Imagina-se observado e, por isso, disfarça a irritação ao folhear o jornal. Já havia encontrado - em páginas diferentes - palavras cruzadas e Sudoku. Não aceita a impressão de signos esparsos em páginas aleatórias. No seu tempo era melhor - melhores tempos virão, dizem os meteorologistas.
- Na fila?
- É
Só estava aguardando o elevador, mas sabe que brasileiros gostam de fila - melhor não ser do contra. "Se calar o bicho pega, se falar o pau come". Essa astróloga era muito boa, só Murphy acerta mais do que ela.
Certezas são cruéis, dúvidas edificantes. Quanto de ouro vale o silêncio, se é pelo pensamento que são oferecidos tostões? Faz questão de não ser ultrapassado ao entrar no elevador, jeito para não levar jeitinho ele tem. Treina a escuta com os desconhecidos e descobre-se adivinho:
- Que trânsito, hein!
- Ainda bem que é sexta-feira.
- Será que vai chover?
- Já que é sexta...
Para nada falar, finge ler o jornal. Basta um querer para dois brigarem; ele prefere perder a piada a criar inimigos. Com o sinal sonoro, a porta abre-se. Ele sai para vender choro aos que têm lenço.
2 comentários:
Adorei teus textos, uma maneira de repensar o cotidiano... Bjs Lu Hofmeister
Muito legal o texto, Parabéns
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