O desapego tem se mostrado a melhor publicidade subliminar do capitalismo. O mecanismo é simples: como terei que aprender a ficar sem, adquiro qualquer coisa - e como é qualquer coisa nem preciso preocupar-me se vai durar, pode até ser descartável, é mais para dizer "tenho ó". Afinal, em qualquer grupo, ai de você se não tiver "x" (uma variável que muda conforme o grupo).
Outro senso comum é a necessidade de não estagnar energia. Dessa forma, o que você não usa, tem que doar, nem que seja para o cesto do lixo. O entusiasmo de ser um ser altruísta, que trabalha para propiciar aos outros o acesso a bens que você mesmo não curtiu como deveria, e o maior espaço livre nas prateleiras são um novo convite ao consumo.
Lógico, pelos dois parágrafos acima, que não me enquadro no citado contexto - reflito muito antes de me desfazer de alguma coisa e, talvez por isso, também antes de adquirir. Como tudo, há ônus e bônus, como ser surpreendida com a descontinuidade de um produto ou achar algo no armário que era exatamente o que você estava precisando e nem se lembrava que tinha.
Gosto muito de novidades, acho divertidíssimo testar produtos novos e devo contar nos dedos as vezes em que repudiei um "test-drive". Só que também fico sem chão quando não encontro o que estou acostumada.
Fiquei empolgadíssima quando aprendi a fazer tapioca, mais ainda com o leite condensado light. Acho que pararam de fabricá-lo. Fiquei triste com a constatação e depois de uns dias resolvi que eu merecia ao menos um brigadeiro. O meu abridor, companheiro há mais de década, movido a manivela, não encaixava na lata de formato irregular - não sei o motivo da troca da embalagem, mas senti-me mais perdida ainda com a lata fechada na minha frente. No final deu certo, mas é mais provável que eu mude de embalagem do que de abridor.
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