segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Displicência
Uma vez por ano. Esta é a periodicidade exigida por lei para treinamentos de combate a incêndios. Prédios comerciais costumam seguir à risca a legislação, geralmente sem grande comprometimento de quem por ali trabalha. Onde você mora, de quantos treinamentos você participou? Se mora em casa, sabe a rota de fuga, considerando o princípio de incêndio em cada cômodo?
Só adulta aprendi que se deve sair pela escada usando o corrimão da direita, deixando livre o corrimão central para os bombeiros subirem. Algo óbvio que exige disciplina e sangue frio no momento da fuga. Mas basta um desavisado para o perigo aumentar, para atrasar o acesso dos bombeiros.
Regras são necessárias, mas só se tornam úteis se divulgadas e respeitadas. Quem tiver algo melhor que sugira e implante. Enquanto não houver, que obedeça o estipulado – e tenha o comprometimento em conhecê-lo, uma cultura que pouco observo.
Não vou falar tal qual engenheira de obra pronta, até porque negligência, imprudência e imperícia fazem vítimas diariamente. O problema não é novo. As centenas de pessoas jovens, divertindo-se, mortas em tão pouco tempo podem até tornar a fiscalização mais severa, mas qual a eficácia disso?
No cinema ou no teatro, quando mostram a saída de emergência logo que apagam as luzes, qual a sua atitude? E durante as regras de segurança do voo? São as pessoas, não são as regras que modificam, arriscam ou tornam segura uma vida. Onde estiver: casa, trabalho, lazer – saiba por onde entrar e por onde sair. O mesmo vale para a escola e lugares que filhos e dependentes frequentam - e os ensine a se infomar e a seguir as regras de segurança.
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Coxinha
A cidade de São Paulo é conhecida como a capital da gastronomia,
um dos melhores lugares não apenas para comer fora como também para descobrir ingredientes
a serem utilizados em casa.
Encontra-se realmente de tudo – se você não encontrar, importe
e venda: sempre tem público consumidor por aqui.
A coxinha, encontrada em qualquer padaria e presente com
frequência nos lanches de grande parte dos paulistanos, desde a primeira vez
que provei, foi uma decepção – aquela história de que é necessária uma exceção
para que a regra seja confirmada. Como frango é uma das minhas últimas opções
de carne, conformei-me.
Alguns quilômetros da capital, na beira da estrada e ainda
no Estado de São Paulo, encontrei o que considero ser uma coxinha: uma coxa de
galinha envolta em um creme que é contido por uma camada crocante, algo muito
diferente daquela massa frita sabor galinha que se encontra por aqui.
Estou publicando a foto para provar que não é tão esdrúxula
minha reclamação, mas sim as piadas que ouvi a respeito.
Bom apetite.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
A personagem fila
Dizem que escrevemos sobre o que está relacionado ao nosso cotidiano ou ao cotidiano que gostaríamos de ter. Não discordo, afinal, o que há além da realidade e da fantasia?
Tanto aqui no blog quanto em textos mais longos, percebo que a fila é praticamente um personagem que se faz presente. Em textos técnicos ela também já apareceu... Inegável admitir que percentual considerável de vida passei à espera e, muitas vezes, sem mobilidade e de pé.
Bem, hoje estava montando uma apresentação que tinha na fila o seu clímax. E, para não ficar muito monótono o slide, comecei a procurar uma figura na web. Desilusão total, não havia nada que ficasse estético.
Uma foto, porém, foi inspiradora. Divido com vocês meu primeiro desenho eletrônico (pelo menos o primeiro que lembro gostar), acredito que seja possível compreendê-lo... Não sei porque aqui ele fica invertido, as pessoas se tornam canhotas (só tem um braço porque o outro está segurando alguma coisa, certo? O desafio permance sendo conseguir salvar a imagem com a legenda da autoria dentro dela - se alguém souber como fazer, agradeço.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Bizarrices
Clic. Clic. O som da máquina digital era tão nostálgico quanto o automóvel em que entraram. Pela idade, talvez o casal não soubesse disso. Lentamente, o carro foi posto em movimento e os noivos sorriam, brindavam exatamente da forma como lhes era dito para fazer em frente à câmera.
Tradicionalmente, vestido de casamento é para o casamento. Tradicionalmente, o noivo não poderia ver a noiva antes do casamento, uma receita infalível para impedir que fugissem um do outro - e o véu ajudando, pois só permitiria que se vissem após a abençoada aliança estar presa ao dedo. Hoje, quando o depois muito pouco muda em relação ao antes, muitos são os que vêem a noiva antes do casamento.
O álbum de noivos, com fotos de antes ou depois do dia D, resgata a importância social do casamento, essencialidade identificada pelo marketing. Na dúvida, há um vestido para fotos e outro modelito para cerimônia, com versão reduzida para a festa.
Fotos são mais importantes que a festa, é a foto que mostra a beleza e o luxo, que multiplica a felicidade. A equipe mais experiente chegou mais cedo ao local. Os outros foram passear, adaptando a trajetória de filmagem. Muitos fotografaram o fotógrafo fotografando, bem mais do que o casal em si, que obediente sorria e brindava.
Com maquiagem e cabelo perfeitos, sem convidados à espera, a pressa é toda do motorista que dá voltas e voltas aguardando o fotógrafo-cameraman terminar. Bom que pessoas possam realizar-se com isso (ao menos geram empregos). Melhor realizar-se sem, sem dúvida.
Sentiu-se bem com o registro da alegria. Não foi atrapalhar os trabalhos desejando felicidade. Turistas agem assim; uma quis tirar foto com a noiva de tanto que gostou do vestido - e provavelmente para não ficar chato tirou também com as outras nada deslumbrantes. Três casais e uma avenida em uma agradável noite de sábado.
* * *
Desistiu do Brasil quando completou sua lista classe média de país dito em desenvolvimento: rol de tudo que sabia conseguir abrir mão em troca do conforto e aparente tranquilidade do hemisfério norte. Tudo que tinha por não precisar trabalhar para sobreviver, por trabalhar para ter.
Decisão refletida, decisão comunicada. Afinal, desistir não mudava nada de lugar. Ela mudaria. O vasto enxoval, a festa de princesa, percebeu que não conseguiriria mais ter. Avisou a duas amigas que, se a celebração ocorresse, elas seriam as madrinhas escolhidas. De despedida, divertiram-se escolhendo roupas de casamento em lojas de todo tipo.
Das fotos tiradas, escolheu uma e mandou revelar. Se precisasse, teria um passado para contar e amigas a confirmá-lo. Se precisasse, avisaria aos que ficassem sobre seu casamento, amigas não teriam como desmenti-lo. Quem escolhe a ilegalidade não pode ter medo de mentir nem querer escolher onde vai parar. Faria mistério até saber exatamente o que deveria revelar.
Vendeu o que poderia tornar-se obsoleto. O caminho para a casa de câmbio foi desviado por um anúncio: o "antes" e "depois" de uma plástica lhe daria bom rendimento. Topou e remarcou a passagem.
sábado, 5 de janeiro de 2013
Status quo
Informação. Sem querer saber, contavam-lhe de tudo. E porque
não queria saber, a ninguém mais sobre aquilo falava. Alguns até insistiam,
avisando reiteradamente que era segredo, de que não dissesse para ninguém,
naquela esperança de que a fofoca fosse criada.
Silêncio e a mesma expressão facial, ouvisse pela primeira
ou pela incontável vez uma das versões da história. Mais do que a informação,
sua forma de agir dava-lhe poder, o poder de quem não se surpreende, de quem aparentemente
tudo sabe ou ouviu falar, poder de ter o respeito de fofoqueiros e, por isso,
não ser alvo das fofocas.
Acessível sempre, estava com dificuldade em isolar-se. Recomendação
médica. Tão óbvia quanto qualquer recomendação dita médica; ouvira no
consultório o que já lera a respeito nas prolixas e superficiais revistas
semanais.
Agora, sem revista, jornal, internet, tv ou rádio, bem
possível que passasse a exaltar os minutos de atenção na consulta, momentos
raros de convívio para quem deve isolar-se. Havia disposição para enfrentar o desafio, quem
sabe um pouco de exagero, mas mais pelo jeito como os outros encaravam aquilo:
meditação. “Esvazie sua mente e melhorará os nervos”. Tá.
Quem, quando, como, com quem ou com o que sempre pouco lhe
importou. E muito disso lembrava-se e precisava esquecer. Esquecer por
instantes descansaria. Trabalhão para chegar ali com integridade, para saber até o que pouco lhe
importava e, agora, teria que aprender a momentaneamente esquecer, só para
depois lembrar-se de novo. Recomendação médica...
Olhando fixamente para a parede, distraiu-se com as
ranhuras. Mudou de parede. Distraiu-se com o calor. À noite, percebeu a rotina
dos vizinhos, das pessoas, dos insetos e de animais domésticos, com ou sem
asas, reais ou imaginários. Existentes talvez do outro lado da parede.
Distrair-se era fácil, mera substituição de informações.
Isolá-la para um dia acessá-la exigiria esforço, se bem que computadores já fazem isso.
Persistência tinha. Foi assim, em frente à parede lembrando-se de tudo o que era
e precisava parar de lembrar, que lhe ocorreu a possibilidade de ficar sem
novas informações. Percebeu que poderia ser outra pessoa.
Até aquele momento, todos sempre souberam que dali nada
seria revelado - para ninguém. Sua ausência de interjeições garantia que ninguém
poderia afirmar que fora a fonte da notícia. Mas qualquer um que quisesse teria
elementos para assim imaginar pelo seu interesse em ouvir. Ano após ano recebeu
aquela enxurrada: agora a tormenta seria por sua conta.
Quem, quando, como, com quem ou com o que, tudo esvaziado em
um só lugar: seu primeiro livro. Se não lhe contassem mais nada, melhor. Mas
duvidava.
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