Bla Bla Bla
Estava arrependido. Não sabia o que fazer. O arrependimento
era tão sincero quanto foi o seu pedido de silêncio. Tentara várias vezes, mas
ela não lhe compreendera, apenas argumentava de que silêncio não existe, de que
mesmo que ficassem abraçados, o coração falaria.
Mulheres falam – e como falam. Mas ela falava por ela, por
ele e por quem mais estivesse por perto. Sempre havia algo novo para contar. Compulsivamente
falava, cantava ou ouvia – e o que ouvia passava animadamente adiante. As
pessoas riam, interagiam com ela enquanto ele ali, ao lado, aproveitava as
frações de tempo em que só o olhar ou a respiração se expressavam.
Ele tentou, só ele sabe o quanto tentou, mudar a situação.
Certa vez, sugeriu passar o final de semana em casa cultivando o silêncio.
Mesmo sem concordar que o silêncio dele poderia não ser o silêncio dela, ela
aderiu. Eletrônicos apagados, namoraram e leram em silêncio.
Um final de semana. Eternidade para ela. Um breve momento
para ele.
Para não conversar, ela resolveu mudar a decoração da sala e
preparar um prato diferente. Não adiantou. A cada tentativa, mais assunto surgia.
Passou a escrever.
Quando ele lhe disse que era para valer, que realmente
precisava de silêncio, ela calou-se. Apenas abriu e fechou a porta, sem nada
dizer. Somente com palavras poderia prometer falar menos, quanto mais tentasse
convencê-lo, menos conseguiria fazer o que ele lhe pedia. E seu silêncio durou enquanto houve sono sem
sonho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário