sábado, 5 de janeiro de 2013

Status quo


Informação. Sem querer saber, contavam-lhe de tudo. E porque não queria saber, a ninguém mais sobre aquilo falava. Alguns até insistiam, avisando reiteradamente que era segredo, de que não dissesse para ninguém, naquela esperança de que a fofoca fosse criada.
Silêncio e a mesma expressão facial, ouvisse pela primeira ou pela incontável vez uma das versões da história. Mais do que a informação, sua forma de agir dava-lhe poder, o poder de quem não se surpreende, de quem aparentemente tudo sabe ou ouviu falar, poder de ter o respeito de fofoqueiros e, por isso, não ser alvo das fofocas.
Acessível sempre, estava com dificuldade em isolar-se. Recomendação médica. Tão óbvia quanto qualquer recomendação dita médica; ouvira no consultório o que já lera a respeito nas prolixas e superficiais revistas semanais.
Agora, sem revista, jornal, internet, tv ou rádio, bem possível que passasse a exaltar os minutos de atenção na consulta, momentos raros de convívio para quem deve isolar-se. Havia disposição para enfrentar o desafio, quem sabe um pouco de exagero, mas mais pelo jeito como os outros encaravam aquilo: meditação. “Esvazie sua mente e melhorará os nervos”. Tá.
Quem, quando, como, com quem ou com o que sempre pouco lhe importou. E muito disso lembrava-se e precisava esquecer. Esquecer por instantes descansaria. Trabalhão para chegar ali com integridade, para saber até o que pouco lhe importava e, agora, teria que aprender a momentaneamente esquecer, só para depois lembrar-se de novo. Recomendação médica...
Olhando fixamente para a parede, distraiu-se com as ranhuras. Mudou de parede. Distraiu-se com o calor. À noite, percebeu a rotina dos vizinhos, das pessoas, dos insetos e de animais domésticos, com ou sem asas, reais ou imaginários. Existentes talvez do outro lado da parede.
Distrair-se era fácil, mera substituição de informações. Isolá-la para um dia acessá-la exigiria esforço, se bem que computadores já fazem isso. Persistência tinha. Foi assim, em frente à parede lembrando-se de tudo o que era e precisava parar de lembrar, que lhe ocorreu a possibilidade de ficar sem novas informações. Percebeu que poderia ser outra pessoa.
Até aquele momento, todos sempre souberam que dali nada seria revelado - para ninguém. Sua ausência de interjeições garantia que ninguém poderia afirmar que fora a fonte da notícia. Mas qualquer um que quisesse teria elementos para assim imaginar pelo seu interesse em ouvir. Ano após ano recebeu aquela enxurrada: agora a tormenta seria por sua conta.
Quem, quando, como, com quem ou com o que, tudo esvaziado em um só lugar: seu primeiro livro. Se não lhe contassem mais nada, melhor. Mas duvidava.

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