segunda-feira, 4 de março de 2013

Transporte Público


O transporte público, dependendo do horário, parece-se muito ao transporte escolar. Não apenas pelos estudantes presentes, mas porque muitos trabalhadores – os privilegiados que possuem horário e não fazem hora-extra, também estabelecem laços de amizade.
Esse era um dos motivos de A. não ter pressa. Podiam os outros passar na sua frente, B. guardaria o seu lugar. Ao passar a catraca, as apressadas pessoas não corriam mais e, resignadas, lhe deram passagem até que chegasse ao banco em que B. estava.
 
A.: Oi.

B.: Oi. Melhorou hoje?

A.: Não estava doente.

B.: Falo do seu projeto.

A.: Se fosse meu estaria bom.

B.: Você entendeu. Foi melhor o seu dia hoje?

A.: Não sei. Melhor esquecê-lo, pelo menos até amanhã. E você, seu dia?

B.: Nada de mais. O telefone tocou pouco, sempre engano.

A.: Você prefere assim?

B.: Assim como? Com enganos?

A.: O telefone não tocar, ter silêncio e tempo.

B.: O tempo lá é sempre o mesmo. Tem hora de entrar, tem hora de sair. Não entendo do que você fala.

A.: Conversamos mais amanhã, hoje desço aqui.

B.: Então não vai para casa?

A.: Não, hoje é que estou indo para casa.

A. sai do ônibus e B. permanece no banco, seguindo seu trajeto em silêncio.

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