O transporte público, dependendo do horário, parece-se muito
ao transporte escolar. Não apenas pelos estudantes presentes, mas porque muitos
trabalhadores – os privilegiados que possuem horário e não fazem hora-extra,
também estabelecem laços de amizade.
Esse era um dos motivos de A. não ter pressa. Podiam os
outros passar na sua frente, B. guardaria o seu lugar. Ao passar a catraca, as
apressadas pessoas não corriam mais e, resignadas, lhe deram passagem até que chegasse ao banco em
que B. estava.
A.: Oi.
B.: Oi. Melhorou hoje?
A.: Não estava doente.
B.: Falo do seu projeto.
A.: Se fosse meu estaria bom.
B.: Você entendeu. Foi melhor o seu dia hoje?
A.: Não sei. Melhor esquecê-lo, pelo menos até amanhã. E
você, seu dia?
B.: Nada de mais. O telefone tocou pouco, sempre engano.
A.: Você prefere assim?
B.: Assim como? Com enganos?
A.: O telefone não tocar, ter silêncio e tempo.
B.: O tempo lá é sempre o mesmo. Tem hora de entrar, tem hora de sair. Não entendo do que você
fala.
A.: Conversamos mais amanhã, hoje desço aqui.
B.: Então não vai para casa?
A.: Não, hoje é que estou indo para casa.
A. sai do ônibus e B. permanece no banco, seguindo seu
trajeto em silêncio.
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