Seria o seu primeiro personagem virtual, talvez mais vivo do
que muitos, principalmente dos não iniciados no palco, dos ainda não filmados –
apenas lidos.
Pertencia a um grupo, individualidades com algo em comum. A
partir da mesma metodologia: pesquisa de campo e entrevista, cada um montou seu
personagem.
Achou que se lembraria dos outros perfis, não quis anotá-los.
Limitou-se a avisar ao grupo a realização de sua tarefa e começou a adicionar
os nomes estranhos que lhe eram sugeridos pela rede social.
Amizades aceitas e a surpresa: aquelas pessoas existiam, não
eram personagens. Antes do convite pareciam virtuais também, sem amigos, mas
agora o sabia às centenas. Nomes estranhos para sua realidade, não para o
interior da Venezuela.
Quem não vê cara, não vê
coração, lembrou-se. Aqueles jovens permitiram-lhe acesso a suas
informações pessoais sem saber qualquer informação sua a respeito (ou a
respeito de seu personagem, melhor dizendo). E se houvesse alguma má intenção no
convite, ao invés de mera trapalhada?
A vida real também é assim. Bandidos vestem-se bem, pobres
pagam caro por marcas e ricos mantém simplicidade no modo de viver – o contrário
do que nos fazem crer. Nas cidades, corremos tantos ou mais riscos do que no
meio do mato. Nas redes sociais e Internet, corremos tantos ou mais riscos do
que fora da tela.
Por que crianças e jovens que não sabem andar na rua
sozinhos têm liberdade para navegar, surfar sozinhos? A violência física é a mais
fácil de cicatrizar, eventualmente apenas mais difícil de esconder. Mas não é
a única violência possível, nem a pior. Não há esconderijo atrás de uma tela, apenas vulnerabilidade.
Impressionou-se com a quantidade de convites a que teve que
recusar, mais ainda com as fotos das amizades sugeridas. Uma delas merecia
denúncia. Fez. No dia seguinte, recebeu e-mail avisando o cancelamento daquela linha
do tempo e garantindo-lhe anonimato. Ufa! Estranhamente, tanto fotos daquele
tipo quanto os convites cessaram.
Agora, com a aparente tranqüilidade, resta apenas aguardar a
inclusão dos outros personagens para o início do próximo exercício.
2 comentários:
Máscaras do dia-a-dia, agora elas invadem nossas vidas, entram até mesmo em nossas casas sem nenhum pudor, sem que a gente saiba que são máscaras. Elas sempre existiram, mas agora são mais "acessíveis". Adorei, suponho que seja a história do tal skatista.
Sim, ele mesmo!
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