domingo, 30 de março de 2014
segunda-feira, 24 de março de 2014
AtorMentados
Ainda não sei o que é verdade ou mentira, mas fiquei aguardando a divulgação de cada capítulo para ver se descobria. Se quiser rir, veja a série inteira - são 12 capítulos curtíssimos - e conclua (se puder) o quanto de ficção há.
sexta-feira, 21 de março de 2014
Dando Bolo no Peregrino
Choveu muito e, em seguida, abriu sol. Foi uma semana de mudança de trajeto – uma buzina insistente lhe obrigou a olhar para trás e perceber possível tentativa de assalto, depois, ali próximo, uma mulher ofereceu carona no guarda-chuva e contou que tinha medo de passar naquele tão conhecido lugar. Entendeu o recado e mudou de caminho.
Algumas quadras a mais e dezenas de zumbis pelas ruas. O termo certamente não é o mais apropriado, mas como descrever pessoas em trapos, com olhar e andares vagos? Bem, novos caminhos, novas vivências. Em frente a um hotel, fãs de algum artista estrangeiro aguardavam. O pedinte tinha um isqueiro. Percebeu que os homens fumando não falavam português, dirigiu-se às meninas que lhe disseram “você não é mais pobre”.
Lógico que o homem ainda era pobre, a adolescente referia-se ao esculacho do programa da Prefeitura: moradia + 3 refeições + R$15 por duas horas de capacitação. Receber R$ 7,50 a hora, sem precisar comparecer todo dia e, mesmo assim, ter comida e casa garantida, nem profissional especializado consegue – resta saber qual o raciocínio para pensar que a pessoa vai largar o vício e essa vida para ganhar menos e passar por mais privações.
Raciocínio simples: R$ 7,50 x 220 horas mensais = R$1650,00, remuneração que o INSS já considera intermediária, com desconto maior: o trabalhador celetista tem pelo menos 6% de desconto de VT e, nesta faixa, já desconta 9% de INSS, ou seja, só quem ganha R$1941,00 por mês tem o líquido de R$1650 – mas ainda assim tem que pagar por moradia e comida.
É esperar para ver se vai dar resultado, tomara que dê, para não ser mais dinheiro jogado fora, privilegiando quem “chuta o balde” em detrimento do que se sacrifica. Doença? Em alguns contextos, difícil saber o que é mais doentio, se permanecer ou fugir, só que nesses contextos não se mexe, nem nos mais simples que atingem a todos.
Banheiro público a cidade continua sem. Daria dignidade a todo mundo e melhoraria inclusive a mobilidade das pessoas – não dá para pensar que obrigatoriamente as pessoas não saberão usar, nem achar que os estabelecimentos comerciais precisam disponibilizá-los.
Falta de banho dificulta a socialização de qualquer vivente, se não estão ainda exigindo que os empregadores ofereçam chuveiro, para melhorar a convivência dentro do transporte público, nada mal se houvesse a sua oferta desvinculada do pseudo cárcere privado dos abrigos – mesmo que sendo pago a valor simbólico.
Afinal, o que faz uma pessoa sair cedo de casa, ficar em média 2 horas de pé num transporte lotado, trabalhar o dia todo, voltar à noite, quase não ver família, viver em ambiente violento e, mesmo assim, seguir as regras sociais? Há estudos de antropologia baseados em uma ideia totalmente contrária ao programa, em que se valoriza o conhecimento de pessoas que dão certo, apesar das adversidades, como forma de compreender seus valores para multiplicar o modelo - mas recebem menos financiamento e vendem menos jornal, devem dar menos voto também.
“Situação de rua” dizem que é o correto, mas é também uma crítica a quem possa ter preferido as estrelas à sociedade. Aquele homem que abordou a menina poderia ser um desses, um peregrino sem vício ilícito, como sempre houve.
* * *
Não era essa a motivação do texto, mas o bolo – ou melhor - os bolos deixados em cima de uma lixeira.
Como estava dizendo, sexta-feira choveu forte, depois abriu um sol muito forte também, ou seja, a lixeira de plástico, grudada no poste em uma altura superior a um metro do chão, deveria estar limpa quando colocaram dois bolos lindos, daqueles redondos, feitos no fogão, em cima dela. Duas vezes pelo menos 20 grossas fatias de um bolo dourado.
O lugar era bem próximo à faixa de segurança, em um cruzamento em que o pedestre nunca tem vez, é preciso esperar que o sinal abra e não venha mais carro – ou então que haja congestionamento para driblar as frenéticas motos.
Naquele horário não havia ninguém. O primeiro impulso foi querer chegar mais próximo, para sentir o cheirinho de fresco. Com sono se faz cada coisa... e se mais perto não desse para segurar a vontade de provar? Comer comida do lixo? E nada dos carros passarem, nem a vontade. Rato não subiria ali, barata facilmente, mas por que se daria ao trabalho com tanta oferta largada nas calçadas e sarjetas? Assim que possível, a rua foi atravessada e a lixeira ficou para traz. O desejo permaneceu como companhia.
Se a ideia era que alguém pegasse o doce, por que não embalou? Por mais que pessoas remexam o lixo, será que expor daquela maneira seria adequado? Não havia ninguém para oferecer, caso estivesse bom? E se não estivesse próprio para consumo, por que deixar ali? Por que a tendência é desconfiar do que é ofertado, ou do que se consegue sem esforço consciente, como se não houvesse merecimento ou fosse preciso desgaste para ser digno da benece?
Aqueles dois lindos e apetitosos bolos, em cima de uma lixeira teoricamente limpa, um deles encostando só no outro bolo, ainda incomodavam. Doação em dobro, feita pela metade. Alguém cozinhou muito mais do que precisava, ou estava de sacanagem colocando ali? Não são todas as perguntas que têm resposta.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Rosinho
Introspecção. Sabe o vazio do momento em que tudo é possível, a paralisia ante a pouca informação para priorizar a avalanche de conteúdo? O convencer-se de que há algo presente que deve ficar para trás?
O momento era esse, de aguardar.
Mais uma vez.
Uma medida de Leite condensado.
Chocolate geralmente em pó e/ou uma gema peneirada.
Manteiga ou margarina, bem pouca.
Misturar, mexer até desgrudar do fogo.
O de chocolate conhecia como negrinho, o sem chocolate era o branquinho. Receita de infância, daquelas rápidas, não tem muito que pensar, todo aniversário tem, e a criançada enrolando e não comendo vai aprendendo a ajudar e a controlar-se. Já foi assim, ao menos.
Avisaram ser politicamente correto, agora, “brigadeiro preto” e “brigadeiro branco”. Um horror referir-se assim ao doce! Silêncio, preconceito de quem, afinal? Branco é branco em espanhol; preto é negro e a fronteira nem importava tanto assim. Mas ali de nada sabiam, nem do “brigadeiro, gostoso e solteiro”, uma tentativa de conquistar o voto feminino no passado, época em que cada evento tinha seu doce.
Nada como o esquecimento para permanecer num céu de brigadeiro. Se melhorar, só estraga pelo tempo perdido sem. Conheceu, então, o de cor rosa – bicho-de-pé. Contaminado com anilina? Não, é que ele é bom como coçar o pé, não dá para parar. Tá. Coçar ocupa, não preocupa e o vazio é preenchido. Só, nem gema que alimenta tem.
Falam que saudade só há em português, mas em todas as culturas encontra-se sua manifestação. Difícil é encontrar leite condensado como o que temos aqui. Viver sem, sempre dá e há laços que nenhuma tensão rompe, nem a da convivência – por maior que seja a saudade do que já foi, por mais distante que estejam os negrinhos, branquinhos e rosinhos, eles nos acompanham.
sexta-feira, 7 de março de 2014
Barbados
Já faz um ano que estive lá e, sem dúvida, voltaria. Na época, escrevi algumas dicas básicas, algo de 5 páginas, que as revistas de turismo não se interessaram em publicar e para o blog também não seria o melhor formato. Eis que me deparo com esta barbada, sim, clique e veja que eles captaram o estilo brasileiro: gostamos de promoção.
Se você quer sossego, vá.
Se tolera bem pimenta, vá.
Se consegue se comunicar em inglês, vá.
Se compreende regras de educação e as aprecia, vá.
Se aceita conhecer outra forma de vida, vá.
Conheci pessoas que foram casar lá, mas, sinceramente, não arranje problema para você casando no exterior, em um país sem qualquer vínculo.
É um lugar em que as pessoas te dizem com a maior naturalidade que conhecem o Brasil, já estiveram em Boa Vista, mas não, nunca ouviram falar de São Paulo ou Rio de Janeiro.
Uma das leis locais é proibir o uso de roupa com estampa militar: dá cadeia e, sem ler este meu texto, você só descobriria se fizesse check in com ela ou na delegacia alheia.
Fui parar lá para usar milhas. Escolheria de novo, mesmo sem conhecer as outras opções.
Mais não digo, surpreender-se com o diferente de um igual tão próximo faz parte deste destino e, se puder, traga para mim um rotis: do fast food local, indiano, feito com carne de vaca e curry (tá no meu top ten de gastronomia e tem também no aeroporto deles, pelo mesmo preço da cidade; a alfândega brasileira deixou entrar).
ok, ok, eis um dos itens de dica que escrevi na época:
O transporte público
Há três tipos diferentes de ônibus. Todos andam muito
rápido e custam o equivalente a um “U.S.”, ou seja, dois dólares de Barbados.
No ônibus público, cor azul, não é dado troco e não é permitido ouvir música
alta. Ao lado do motorista há uma caixa transparente com uma tampa que lembra a
de um cofre. Você joga o dinheiro ali, ele digita numa máquina ao lado e você
pega o comprovante de pagamento impresso. Se o ônibus estiver cheio você pode
pegar o papel, descer e entrar pela porta que fica no meio. A descida do ônibus
também pode acontecer por qualquer porta e é hábito só levantar do banco depois
que o ônibus está parado. Escolares lotam estes ônibus à tarde, pois não pagam
passagem. Apenas em um trecho foram indisciplinados: o motorista parou o
ônibus, levantou-se e ficou olhando os adolescentes até que lhe pedissem
desculpa. Formou-se uma fila de carros, mas ninguém buzinou. Fiquei com a
impressão que o trânsito e as filas só não são estressantes aqui porque as pessoas
não reclamam, as fazem sem cerimônia e apenas esperam.
O ônibus amarelo é particular. Nele toca uma música
altíssima, geralmente animado reggae. O cobrador dá troco e pode ser negociado
pagamento em U.S. Só há uma porta, o que significa que pode ser que você tenha
que sair e entrar para alguém descer. Uma buzina no som de “la cucaracha” ou
“vamos a la praya” é freneticamente acionada enquanto o ônibus corre.
As vans brancas lembram as peruas que já existiram no Brasil – inclusive podem alterar o trajeto para conseguir um passageiro a mais. Também aceitam U.S. e têm cobrador, que não se constrangerá em pedir para você mudar de banco ou sentar no colo de algum conhecido seu para que mais pessoas possam entrar.
Se nenhum agradar, taxi é muito fácil de encontrar, o preço é fechado e previamente negociado, pode ser pago em U.S. ou Barbados.
segunda-feira, 3 de março de 2014
Delirando em jejum
- 5 anos sem um hemograma?
Afastava a apreensão mantendo-se em dúvida se o que mais lhe incomodava era a cara de espanto ante o ultrassom ou a condenação sumária à mamografia e, agora, mais essa: mas paciente é quem tem paciência, melhor não mencionar que nos cinco anos havia estado lá.
Os dias estavam difíceis, antecipou o check up em um ano de carnaval tardio. Quando finalmente atenderam do outro lado da linha, não conseguiu ler o que estava escrito. Digitalizou os documentos (sim, todos pediram o tal hemograma, com letrinhas ao lado, mas iria fazer uma vez só) e a clínica, além de poucos atendentes, também já estava sem espaço para receber arquivos.
Menos trabalho ir pessoalmente do que ir a qualquer outro endereço. Saia da rotina, sugeria o horóscopo da revista da recepção. Bem, era o que de certa forma iria fazer. Ela e tantos outros, alguns viajando, talvez os profissionais dali porque não, não era possível fazer tudo no mesmo dia – nem atendendo durante o carnaval.
Dos males o menor, havia compatibilidade entre água e jejum. E que sede vinha sentindo! Mais agora do que no calor, o calor que ainda fazia, é verdade. Caminhando, percebeu as duas câmeras e o vazio entre elas. De repente, “bom dia” e uma flor. O rapaz da câmera perguntou se havia gostado e ao responder-lhe passou um ruidoso ônibus.
Isso faz alguns dias. É que ouviu agora que a vida é feita de tempo, como também que o tempo sempre está lá. São as pessoas que o medem que passam, não ele.
E ela havia passado naquele vazio, não desviou, nem recusou a flor. Ficou de lembrança. Não se lembrou o que havia acabado de falar e tentar repetir não conseguiu, tivesse falado diferente, mesmo assunto, de outra forma, teria sido melhor. Fazer o quê? Na confiança de não haver edição, participou.
Agora, pensa que a edição não seria má ideia. Quem sabe um dia se veja – vai estar no YouTube, disseram. E ouvir é o que mais tem feito. Por isso sabia que pessoas estavam fazendo perguntas por lá, algo como “quer ser feliz?”, “quer ganhar na loteria?” e não recebiam respostas, ouviam negativas, ou o “obrigado” com entonação de recusa.
E se fosse pra valer? A flor foi uma surpresa, tal como a vida oferece. Com qual pressa caminham na vida pessoas que recusam felicidade ou o resultado da loteria? Foco ou alienação?
Romanos já tiveram a sua época, tempo em que só poderosos tinham roseiras: rosas só nascem uma vez, a não ser que sejam podadas. A escolha de um terreno destinado para o seu plantio, o cuidado em observar galho por galho e saber o momento certo do corte para que se perpetue a florada é simbolismo esquecido, não há momento que valha a morte de um ser, menos ainda rarear o que é belo.
Em vaso ou na terra, flores retomam o significado, são mais difíceis de serem mantidas – flores sem raízes não são feitas para sobreviver. Mas ali, frente à câmera, acha que agradeceu, não se lembra, afastava a pressa mantendo-se em dúvida no que falar.
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