Rosinho
Introspecção. Sabe o vazio do momento em que tudo é possível,
a paralisia ante a pouca informação para priorizar a avalanche de conteúdo? O
convencer-se de que há algo presente que deve ficar para trás?
O momento era esse, de aguardar.
Mais uma vez.
Uma medida de Leite condensado.
Chocolate geralmente em pó e/ou uma gema peneirada.
Manteiga ou margarina, bem pouca.
Misturar, mexer até desgrudar do fogo.
O de chocolate conhecia como negrinho, o sem chocolate era o
branquinho. Receita de infância, daquelas rápidas, não tem muito que pensar,
todo aniversário tem, e a criançada enrolando e não comendo vai aprendendo a
ajudar e a controlar-se. Já foi assim, ao menos.
Avisaram ser politicamente correto, agora, “brigadeiro preto”
e “brigadeiro branco”. Um horror referir-se assim ao doce! Silêncio, preconceito
de quem, afinal? Branco é branco em espanhol; preto é negro e a fronteira nem
importava tanto assim. Mas ali de nada sabiam, nem do “brigadeiro, gostoso e
solteiro”, uma tentativa de conquistar o voto feminino no passado, época em que
cada evento tinha seu doce.
Nada como o esquecimento para permanecer num céu de
brigadeiro. Se melhorar, só estraga pelo tempo perdido sem. Conheceu, então, o de
cor rosa – bicho-de-pé. Contaminado com anilina? Não, é que ele é bom como
coçar o pé, não dá para parar. Tá. Coçar ocupa, não preocupa e o vazio é
preenchido. Só, nem gema que alimenta tem.
Falam que saudade só há em português, mas em todas as
culturas encontra-se sua manifestação. Difícil é encontrar leite condensado
como o que temos aqui. Viver sem, sempre dá e há laços que nenhuma tensão
rompe, nem a da convivência – por maior que seja a saudade do que já foi, por
mais distante que estejam os negrinhos, branquinhos e rosinhos, eles nos acompanham.
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