quarta-feira, 12 de março de 2014

Rosinho

Introspecção. Sabe o vazio do momento em que tudo é possível, a paralisia ante a pouca informação para priorizar a avalanche de conteúdo? O convencer-se de que há algo presente que deve ficar para trás?

 

O momento era esse, de aguardar.

Mais uma vez.

 

Uma medida de Leite condensado.

Chocolate geralmente em pó e/ou uma gema peneirada.

Manteiga ou margarina, bem pouca.

Misturar, mexer até desgrudar do fogo.

 

O de chocolate conhecia como negrinho, o sem chocolate era o branquinho. Receita de infância, daquelas rápidas, não tem muito que pensar, todo aniversário tem, e a criançada enrolando e não comendo vai aprendendo a ajudar e a controlar-se. Já foi assim, ao menos.

 

Avisaram ser politicamente correto, agora, “brigadeiro preto” e “brigadeiro branco”. Um horror referir-se assim ao doce! Silêncio, preconceito de quem, afinal? Branco é branco em espanhol; preto é negro e a fronteira nem importava tanto assim. Mas ali de nada sabiam, nem do “brigadeiro, gostoso e solteiro”, uma tentativa de conquistar o voto feminino no passado, época em que cada evento tinha seu doce.

 

Nada como o esquecimento para permanecer num céu de brigadeiro. Se melhorar, só estraga pelo tempo perdido sem. Conheceu, então, o de cor rosa – bicho-de-pé. Contaminado com anilina? Não, é que ele é bom como coçar o pé, não dá para parar. Tá. Coçar ocupa, não preocupa e o vazio é preenchido. Só, nem gema que alimenta tem.

 

Falam que saudade só há em português, mas em todas as culturas encontra-se sua manifestação. Difícil é encontrar leite condensado como o que temos aqui. Viver sem, sempre dá e há laços que nenhuma tensão rompe, nem a da convivência – por maior que seja a saudade do que já foi, por mais distante que estejam os negrinhos, branquinhos e rosinhos, eles nos acompanham.

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