domingo, 30 de março de 2014

Mão exposta na janela pra...

Entendo que se deva ser neutro em toda pesquisa. Também sei que qualquer pesquisa com pessoas só pode ser feita depois de aprovada, sendo que no pedido é preciso informar o grau de constrangimento de quem é entrevistado - podendo a potencialidade do constrangimento atrasar sua aprovação ou impedi-la, mas em determinadas situações é uma lástima manter-se na estrutura programada.

 

Refiro-me a existir alguém (quanto mais o alto índice apresentado) que atribua à roupa ou ao comportamento da vítima o motivo da violência sexual (lembrando que não é só estupro que incomoda ou é violento).

 

Fica a dica para as próximas entrevistas estruturadas: pense que tanto "sim" quanto "não" são respostas e desenvolva outras, sem medo de ser xingado. Exemplo:

 

- O senhor costuma andar com o dorso nu: (   ) sim    (   )não

 

- De que forma o senhor costuma usar a camisa: (   ) dentro da calça   (   ) fora da calça

 

- O senhor considera que o comportamento da mulher incentiva o seu estupro: (   )sim  (   ) não

 

- O senhor considera que a roupa utilizada pela mulher incentiva o seu estupro: (   )sim  (   )não

 

- O senhor uso o dorso nu para que ele fique mais acessível ao toque dos outros: (   )sim  (   )não

 

- O senhor coloca a camisa pra dentro da calça para deixar a bunda mais acessível: (   )sim (    )não

 

Eu ainda acrescentaria o que o ser entende por violência sexual - porque xingar, passar a mão etc também são violência se não houver expresso pedido.

Lembrando que não é porque se está em uma festa ou no carnaval que se está à disposição para qualquer coisa com qualquer um, e que - como já vi muitas vezes - não é porque se canta a música que o abrir a boca seja tolerar um beijo.

O lado positivo da pesquisa é fomentar a discussão sobre algo presente na rotina brasileira, pena que ficou "só no estupro", pois tanto comentários sobre a vida alheia quanto forçar o ato em si são nuances de uma mesma violência.

Um comentário:

Diego Absoluto disse...

Ótima reflexão, Gi! Concordo plenamente com você tanto em relação à estrutura da pesquisa quanto em relação ao resultado dela. Bj