sábado, 2 de julho de 2011

Passeatas - sim. Na Paulista, não!

Cada vez está mais difícil caminhar pela Avenida Paulista: se durante a semana há o grupo de pesquisadores que te param e perguntam de tudo, geralmente para alguma campanha de marketing, e o pessoal da pedicheira, geralmente ligados a alguma ONG -  no final de semana há os protestos.

Lógico que atrapalha menos o trânsito bloquear a passagem em dia não útil, mas por que protestar na Paulista e não no centro da cidade que tem rua de pedestre, por exemplo?

Em menos de uma hora, percebi três aglomerações. Na primeira, pessoas segurando balões de gás em formato de bichos gigantes bloqueavam o corredor de ônibus no sentido Paraíso; as frases eram relacionadas a espécies em extinção e havia um cartaz contra o Código Florestal, mas nenhum abaixoassinado que eu pudesse aderir. Na segunda, as pessoas dançavam ao som de “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão...” e carregavam cartazes reivindicando Diretas já e para que não houvesse medo da imprensa. Atravessei a rua e fui pegar um panfleto.

A ideia da segunda manifestação pareceu-me original e de certa forma coerente: defendem que haja mais referendo e mais plebiscito no país. Perderam uma ótima oportunidade de confraternizar com o pessoal ambientalista da quadra anterior, pensei, pois teria muito mais sentido às pessoas explicar exemplificando: referendo como requisito para início da vigência do Código Florestal não seria nada mal...

Retornando do trajeto, percebi que o vão do MASP estava lotado. Não vi cartazes, nem ouvi música, apenas carros da imprensa zanzando nos dois sentidos da Paulista. Resolvi passar pelo corredor polonês de motos da Polícia no Trianon, certamente descobriria pela mídia do que se tratava.

Em casa, nenhuma linha li sobre o protesto ecológico, a reivindicação das Diretas Já só foi mencionada como movimento pela ética e aquele bando insonso em clima de azaração era a tal da “marcha da macoha”. Francamente! Em qualquer lugar que eles fossem se reunir a imprensa iria atrás e, pela cobertura que tiveram e pelo o que eu presenciei, o assunto está sendo ampliado demais.

Lembro que nas aulas de interpretação de texto no colégio líamos os jornais tentando identificar o que estava deixando de ser noticiado e os motivos políticos, econômicos e sociais para a escolha. Algo parecido ocorreu hoje na Paulista: três protestos, porém um apenas pode ser considerado noticiado. Não publicar sobre um fato é censurá-lo, da mesma forma, mencionar um movimento na mídia invariavelmente é dar-lhe força. Resta saber o real motivo da imprensa evitar alguns assuntos em detrimento de outro.

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Mesmo com tantas manifestações, deparei-me com a cena acima na Fiesp (nº 1313) e fiquei sabendo que estava ocorrendo uma temporada de teatro contemporâneo, uma parceria Fiesp e British Council. Resolvi participar, lógico.

Quem assiste da rua não tem noção da história que é contada para o único espectador que fica dentro da caixa. Imagine cenas de filme em preto e branco nas quais você está literalmente no centro delas - resumindo, essa é a ideia. Tudo é muito mais rápido dentro do Black Box do que na plateia. Criatividade e performance 10! Achei o máximo uma peça só para mim, mesmo que durando 5 minutos - e parece-me que os outros participantes também gostaram bastante.

Além dessa peça, Une Boite Andalouse, projeto do coletivo Bootworks Theatre que é inspirada no filme Un Chien Andalou (de 1928), há duas outras, apresentadas respectivamente na Fiesp e no Ibirapuera, até dia 10 de julho.

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