Cada vez está mais difícil caminhar pela Avenida Paulista:
se durante a semana há o grupo de pesquisadores que te param e perguntam de
tudo, geralmente para alguma campanha de marketing, e o pessoal da pedicheira, geralmente ligados a alguma ONG - no final de semana há os protestos.
Lógico que atrapalha menos o trânsito bloquear a passagem em
dia não útil, mas por que protestar na Paulista e não no centro da cidade que
tem rua de pedestre, por exemplo?
Em menos de uma hora, percebi três aglomerações. Na primeira,
pessoas segurando balões de gás em formato de bichos gigantes bloqueavam o
corredor de ônibus no sentido Paraíso; as frases eram relacionadas a espécies
em extinção e havia um cartaz contra o Código Florestal, mas nenhum
abaixoassinado que eu pudesse aderir. Na segunda, as pessoas dançavam ao som de
“se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão...” e carregavam cartazes reivindicando
Diretas já e para que não houvesse
medo da imprensa. Atravessei a rua e fui pegar um panfleto.
A ideia da segunda manifestação pareceu-me original e de
certa forma coerente: defendem que haja mais referendo e mais plebiscito no
país. Perderam uma ótima oportunidade de confraternizar com o pessoal
ambientalista da quadra anterior, pensei, pois teria muito mais sentido às
pessoas explicar exemplificando: referendo como requisito para início da
vigência do Código Florestal não seria nada mal...
Retornando do trajeto, percebi que o vão do MASP estava
lotado. Não vi cartazes, nem ouvi música, apenas carros da imprensa zanzando
nos dois sentidos da Paulista. Resolvi passar pelo corredor polonês de motos da Polícia no Trianon, certamente
descobriria pela mídia do que se tratava.
Em casa, nenhuma linha li sobre o protesto ecológico, a
reivindicação das Diretas Já só foi
mencionada como movimento pela ética e aquele bando insonso em clima de
azaração era a tal da “marcha da macoha”. Francamente! Em qualquer lugar que
eles fossem se reunir a imprensa iria atrás e, pela cobertura que tiveram e
pelo o que eu presenciei, o assunto está sendo ampliado demais.
Lembro que nas aulas de interpretação de texto no colégio
líamos os jornais tentando identificar o que estava deixando de ser noticiado e
os motivos políticos, econômicos e sociais para a escolha. Algo parecido
ocorreu hoje na Paulista: três protestos, porém um apenas pode ser considerado
noticiado. Não publicar sobre um fato é censurá-lo, da mesma forma, mencionar um
movimento na mídia invariavelmente é dar-lhe força. Resta saber o real motivo
da imprensa evitar alguns assuntos em detrimento de outro.
Mesmo com tantas manifestações, deparei-me com a cena acima na Fiesp (nº 1313) e fiquei sabendo que estava ocorrendo uma temporada de teatro contemporâneo, uma parceria Fiesp e British Council. Resolvi participar, lógico.
Quem assiste da rua não tem noção da história que é contada para o único espectador que fica dentro da caixa. Imagine cenas de filme em preto e branco nas quais você está literalmente no centro delas - resumindo, essa é a ideia. Tudo é muito mais rápido dentro do Black Box do que na plateia. Criatividade e performance 10! Achei o máximo uma peça só para mim, mesmo que durando 5 minutos - e parece-me que os outros participantes também gostaram bastante.
Além dessa peça, Une Boite Andalouse, projeto do coletivo Bootworks Theatre que é inspirada no filme Un Chien Andalou (de 1928), há duas outras, apresentadas respectivamente na Fiesp e no Ibirapuera, até dia 10 de julho.
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