terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ano Bissexto

Rotina. Indispensável para alguns, dispensável a outros. Dependendo da personalidade, nada mais estafante do que acordar-trabalhar-voltar para casa pelo menos cinco vezes na semana. Também conheço quem não saiba o que fazer sem o seu "porto seguro" de acordar-trabalhar-voltar para casa.

O importante é cada um poder decidir e ser feliz da forma como se organiza. Quando eu descobri que havia a unidade de tempo "ano", dividida em meses, semanas e dias, ninguém soube me dizer porque temos tantos meses com 31 dias e não mais meses com 30 e um apenas com 28 ou 29. Só sosseguei quando aprendi a contá-los com o punho fechado: se a ordem fosse diferente, seria mais difícil de lembrar...(acho que todo mundo sabe, né: fechando a mão, só tem 31 dias o mês que corresponder ao "cucuruto" de um dos dedos; pode contar começando pelo indicador ou pelo mindinho, dá sempre certo).

Particularmente, penso que os feriados existem, apesar do prejuízo econômico que causam na maioria dos setores, porque férias é um conceito muito mais ficcional do que real, ainda mais no mercado brasileiro.

Tenho dificuldade de compreender, por exemplo, depois de tantos acordos de reciprocidade com Portugal, o motivo do país parar em 7 de setembro. Não adianta alegar que é para os militares tentarem seduzir a garotada para deixarem de ser civis. Houvesse marcha no dia 15 de novembro, lembrando a Proclamação da República no Rio (que dizem ter o povo aplaudido ao desfile sem compreender que o imperador estava sendo expulso), eu entenderia - e em novembro chove menos do que setembro, as pessoas são mais dispostas a enfrentar o calor do que a chuva e mais crianças estariam presentes. Também questiono os feriados religiosos em um país laico, por mais "tradicionais" que sejam.

Lógico que não sou contra feriados, nem às "pontes" de feriado, mas 29 de fevereiro parece-me muito mais coerente de se festejar, afinal ocorre só a cada 4 anos e é uma convenção aceita e utilizada por todas as culturas e crenças.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Contrastes

Entrei imaginando fotos de viagens, sons de celebrações ou ângulos curiosos de lugares próximos e distantes. À medida que fui observando as obras, tentei lembrar quando teria visto tanto "non sense" junto. Foi então que me lembrei da sedutora frase da escada, motivo de meu interesse, ainda visível na tela do celular...

Dizer que eu gostei, ou que recomendo a visita, seria uma mentira. Mas certamente a curadoria atingiu seu objetivo e, se arte é algo que questiona, transmuta as pessoas, duvido que alguém ali presente tenha saido como entrou.

Quem foi reconhecerá "na hora" de onde estou falando. Não direi onde é porque todo trabalho deve ser valorizado e o fato de eu não ter me identificado não significa que outros não possam admirar a exposição.

* * *

Quadros que não canso de olhar e exercitar o controle para não tocá-los são os da galeria do Citybank. Perdi o papel em que anotei o nome da artista, mas levaria todos para casa, se pudesse. A informação "técnica mista", para mim, ainda é uma incógnita. Fico olhando e tentando entender o que foi utilizado junto com a tinta e como tais texturas foram possíveis. Para quem não conhece o espaço, há entrada tanto pela Alameda Santos quanto pela Av. Paulista, entre a Alameda Campinas e a Pamplona.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

E por falar em carnaval e teatro, achei que ir ao teatro, em pleno carnaval, seria algo especial - além de ser um incentivo para os profissionais que se dispõem a divertir o público de forma alternativa. Pois o teatro estava lotado, teve gente que voltou para casa sem conseguir entrar.


"L'illustre Molière", no teatro do Sesi, está perfeito. Se você ainda não foi, na quinta-feira, saia correndo na hora do almoço ou contrate um motoboy para ir retirar os ingressos a partir das 12:00 na Paulista (eles entregam 2 por pessoa). Reserve uma noite na sua agenda no final de semana e vá rir com eles - só não deixe para fazê-lo no domingo, quando a bilheteria abre às 11:00, porque você pode ficar sem: esta é a última semana de apresentação.

* * *

Enquanto isso, entre raios solares e lunares, o céu anuncia que, mais uma vez, o aroma de terra quente e molhada voltará a perfumar...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carnaval 2012 e sua imagem mais significativa


O carnaval mal começou e na sexta já temos sua melhor imagem: no ano de Jorge Amado, Daniela Mercury homenageou-o levando o teatro para seu trio elétrico, o Crocodilo, que não tem cordão e por isso todos podem participar. Sua fantasia de Dona Flor tem sido a mais comentada, seja por exigir cenário (a cama), seja por divulgar uma evidente tendência: o nu masculino. Mas Daniela ousou mais: após um ano em que roqueiros protestaram pelo samba e pelo axé no Rock in Rio, ela levou música clássica para o carnaval (acho que nem em Pernambuco, o carnaval multicultural, houve isso).

Gostei muito da ideia apresentada, uma fantasia (Dona Flor) que faz cair máscaras (a mão de Daniela está muito mais comportada do que a das pessoas vestidas no chão, tenho certeza). Brincadeira com crítica: isso sim é carnaval!

Para os escandalizados, ao contrário do que se possa imaginar, do chão pouco se enxerga do que acontece em cima do carro. A visão privilegiada costuma ser de quem assiste de camarote, mas porque o carro anda, nem do camarote se consegue ver o show inteiro.

Aonde vamos chegar? Na tardia banalização da nudez. Para quem não se lembra, mascar chiclete já significou protesto; hoje continua inapropriado em alguns lugares, mas só quem gosta consome. A comparação talvez não seja das melhores, mas digo tardia porque, no meu otimista jeito de ser, vejo a relação entre a nudez e o erotismo próxima à do dinheiro e da saúde. Dinheiro pode tirar ou recuperar a saúde, mas também é possível ter saúde sem dinheiro, o que leva as pessoas – cada vez mais – a terem outras prioridades. Com todo mundo nu, outras qualidades e formas de expressão passarão a ser valorizadas e, sem tanta cobrança em relação ao físico, as pessoas poderão viver mais felizes.

Se eu fosse fotógrafa, por exemplo, alimentaria o debate com um ensaio fotográfico com nucas. Talvez essa proposta escandalize os conhecedores de “anatomia oculta”, mas não vou estender-me sobre isso. Apenas lembro que – muito antes das cirurgias plásticas - barriga encolhe-se, peito estufa-se, bunda empina-se – mas só quem tem postura consegue ter nuca para mostrar. Assim como só quem é realmente artista ousa. Tomara que tenha DVD!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Cada tempo em seu tempo.

Houve época em que estar em um avião era algo comemorado; não importava o destino, viajar era preciso - e por cima das nuvens, melhor ainda. Não mudei de opinião, mas não precisar enfrentar uma sala de embarque lotada atualmente me deixa tão contente quanto já fiquei estando nela.

Houve época em que carnaval rivalizava com o ano novo como a data mais esperada, feriadões com o calor e a praia necessários ao corpo. Continuo fã do carnaval de rua e pretendo um dia desfilar na avenida, só que não há mais pressa para isso. 

Mudança de prioridade ou tédio pela repetição - não importa o motivo. De repente, ficar em casa cuidando de minhas plantas, entre uma leitura e uma escrita, o que eu poderia fazer em qualquer outra época, sei disso, passou a ter mais sentido.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Do que a fome é capaz...

Em pleno temporal e com pouca visibilidade, entrou na rua errada e não conseguia descobrir o retorno. Em uma tábua talhada à mão, leu; "ASSO ALHO". Salivou. Gostava de alho assado, talvez perder-se não tivesse sido tão ruim: almoçar era uma boa ideia.  Após estacionar, porém, deparou-se com uma loja de decoração e não com um restaurante.

sábado, 11 de fevereiro de 2012


As noites de calor, nessa semana, deixaram-me com a alma em festa. A lua cheia estava digna de perder o sono. Tentei transcrever o momento, mas mesmo com considerável reflexão, nenhum texto em prosa conseguiu refletir o poder daquele reflexo (a repetição  de "refle..." é proposital). Fosse possível, escreveria à luz da lua, sem a claridade do computador. Preocupei-me tanto em acertar que nada publiquei... Com a chuva de hoje, a lua está atrás das nuvens e dos raios. Ocorreu-me, então, que a poesia – e não a prosa – seria a forma mais adequada. Eis a adaptação da prosa:



A Lua



Dizem que este é o ano dela,

ela que durante todo o ano pode ser vista.

Às vezes as nuvens embaralham sua visão,

mas anteontem e ontem,

as nuvens ampliavam seu clarão.



Um lindo quadro a ser contemplado,

só ou com o ser amado.

Estamos no verão.

Anteontem e ontem,

fez calor de noite.



Calor que pouco se repete.

Calcei minha papete

e, muito contente,

fui celebrar a vida

na paulista avenida.



Caminhar com a fantasia

de uma brisa não marinha

em cada cruzamento.

Longe vai o pensamento

e todo esquecimento

traz muita alegria.



De volta ao apartamento,

no quarto, em nenhum momento,

qualquer luar aparecia.

Montei então acampamento

na sala, próximo à janela,

e adormeci contemplando

aquela lua tão bela.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Papelão


Não me refiro às caixas que deixaram de ser recicladas e passaram a entupir as bocas-de-lobo nesses dias de chuva, mas ao sentido conotativo do título e sua relação com a conduta do Governo do Estado de São Paulo frente a questão das sacolinhas de supermercado.

Antes de minha crítica, quero frisar que a utilização de tais sacolas já é algo raro para mim faz um bom tempo. Mesmo assim, discordo da forma como o acordo dos supermercados com o governo foi divulgado: se os supermercados tivessem dito que as sacolas não seriam mais gratuitas por uma estratégia de negócio, eu entenderia. Só que dizer que o motivo é a preocupação com o meio ambiente e o governo endossar isso é subestimar a inteligência dos paulistas.

A administração direta assinou um acordo que já foi alterado pela administração indireta (Procon-SP) e não vem sendo cumprido. Não sei qual hipótese é pior: (i) não há comunicação dentro do executivo; (ii) as decisões são tomadas e implementadas conforme a vaidade das lideranças; (iii) ninguém previu que haveria resistência ao acordo por parte dos usuários e da indústria de plásticos.
A nova redação do acordo, assinado novamente entre os supermercados e o Procon-SP, é apenas mais um papelão: só mudou o prazo para implementação do fim das sacolinhas gratuitas, sendo que o fato já vinha sendo divulgado há meses. Só turistas e alienígenas poderiam alegar desconhecimento da medida, amplamente divulgada, pelo menos, desde novembro de 2011.
O mais relevante, no entanto, não é sequer discutido: a ausência de coleta seletiva nas cidades do Estado de São Paulo. Na capital, por exemplo, só o que é levado até o estacionamento de algumas lojas de supermercado recebe destinação adequada. Particularmente, penso que apenas por esse serviço (não importando se ele traz lucro ou não para o estabelecimento) os supermercados já mereceriam não precisar distribuir as sacolas. O fato é que, no Estado de São Paulo, mesmo sem a distribuição das sacolinhas plásticas, menos lixo nos lixões está longe de ser uma possibilidade.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma vez, será que sempre?


Acordei de madrugada com o barulho de alguém batendo com insistência em uma porta. Ao longe, conversa em ritmo frenético. Fechei a porta do banheiro, mas o ruído continuava. Conclui, então, que não eram meus vizinhos de cima, que adoram uma discussão.

Sem sono, fui até a sacada e lá constatei que a briga vinha do apartamento em que constantemente há festas (e eu sou a vizinha cricri que interfona pedindo silêncio). A conversa estava claríssima: briga de casal. A mulher estava trancada e batia na porta exigindo que ele a abrisse.

Fiquei pensando: ligo ou não ligo? Não havia risco de vida, mas cárcere privado não deixa de ser uma violência doméstica. A polícia não seria a primeira opção, e sim o próprio apartamento, mas em nenhum momento a vizinha pediu ajuda a quem pudesse ouvi-la (e ela estava gritando com as janelas abertas em uma silenciosa madrugada), referia-se apenas ao ofensor, pedia que ele abrisse a porta.

Pelas vozes, não havia sinal de embriaguez. Também não consegui saber se ela ali estava para que não consumisse algo. No prédio em frente, outros vizinhos, com vista mais privilegiada do que a minha, fumavam na janela. Não sei se estavam assistindo a tudo “de camarote”, mas que a ouviam, não tenho dúvida.

Eu ainda estou formando opinião quanto a se “ser barraqueiro” é uma questão de personalidade ou de (falta) de educação. E não adianta justificar com ancestralidade italiana!

Nesse caso, por exemplo, em algum momento ela terá que sair de onde está. Então, ou a briga será definitiva – motivo suficiente para que ele não tenha que importar-se com ela e desde já deixá-la livre– ou haverá a reconciliação; mas que futuro pode ter um relacionamento sem respeito? E por que a vizinhança toda precisa ser incluída na relação?

Antes de qualquer outra crítica, garanto que tenho sangue bem quente, e o conheço o suficiente para evitar situações extremas – até porque ainda surpreendo-me com minhas reações. Mas isso não vem ao caso. Acho que a moça foi liberta de seu castelo e vou poder voltar a dormir.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

P/q complicar?

Li há pouco uma frase que me pareceu muito explicativa: “o que você tenta esconder acaba por te controlar”.
É consenso de que não somos perfeitos, podemos, no máximo, ter a perfeição como objetivo (e muitos que assim agem, como não conseguem, precisam depois tratar uma úlcera). Então, digamos que haja algo em que gostaríamos de ser diferente e não conseguimos ou que haja alguma característica da qual sintamos vergonha.
A desagradável descoberta permite duas opções: transformá-la em um segredo, ou seja, contar para alguém, o que é sempre o primeiro passo para uma divulgação eficiente; ou escondê-la.
Se você pode esconder é porque está com você, não é você. Só que “jogar fora” também torna possível que alguém descubra quem descartou. Então a opção de esconder parece melhor, mas o controle do esconderijo exige cuidado e a constante vigília cansa. Haverá um momento em que alguém precisará ser seu cúmplice, alguém que você confia que vai lhe ajudar na estratégia de melhor esconder e, uma vez que outro saiba... Também pode acontecer de você ficar tanto tempo de vigília, isolado, que nem vai mais se lembrar o que estava fazendo ali, apenas um dia perceberá que há algo de desconfortável naquela posição.
Pode ser que a função dos terapeutas seja descobrir em que estágio você está e, em alguns casos, por que a criatura se colocou ali, ao invés de simplesmente seguir em frente. Ainda não consegui identificar por qual motivo (sim, às vezes percebo-me em vigília) estagnamos em um ponto ao invés de simplesmente seguir em frente e deixar-nos surpreender com observações como: "que legal que você é ______" ou “exagero, você nem é tão ____” . É, não sabendo facilitar, com a necessidade de em tudo interferir, o ser humano complica.