Acordei de madrugada
com o barulho de alguém batendo com insistência em uma porta. Ao longe,
conversa em ritmo frenético. Fechei a porta do banheiro, mas o ruído
continuava. Conclui, então, que não eram meus vizinhos de cima, que adoram uma
discussão.
Sem sono, fui até a sacada
e lá constatei que a briga vinha do apartamento em que constantemente há festas
(e eu sou a vizinha cricri que interfona pedindo silêncio). A conversa estava
claríssima: briga de casal. A mulher estava trancada e batia na porta exigindo
que ele a abrisse.
Fiquei pensando: ligo
ou não ligo? Não havia risco de vida, mas cárcere privado não deixa de ser uma
violência doméstica. A polícia não seria a primeira opção, e sim o próprio
apartamento, mas em nenhum momento a vizinha pediu ajuda a quem pudesse ouvi-la
(e ela estava gritando com as janelas abertas em uma silenciosa madrugada),
referia-se apenas ao ofensor, pedia que ele abrisse a porta.
Pelas vozes, não havia
sinal de embriaguez. Também não consegui saber se ela ali estava para que não
consumisse algo. No prédio em frente, outros vizinhos, com vista mais
privilegiada do que a minha, fumavam na janela. Não sei se estavam assistindo a
tudo “de camarote”, mas que a ouviam, não tenho dúvida.
Eu ainda estou formando
opinião quanto a se “ser barraqueiro” é uma questão de personalidade ou de
(falta) de educação. E não adianta justificar com ancestralidade italiana!
Nesse caso, por
exemplo, em algum momento ela terá que sair de onde está. Então, ou a briga
será definitiva – motivo suficiente para que ele não tenha que importar-se com
ela e desde já deixá-la livre– ou haverá a reconciliação; mas que futuro pode
ter um relacionamento sem respeito? E por que a vizinhança toda precisa ser incluída na relação?
Antes de qualquer outra
crítica, garanto que tenho sangue bem quente, e o conheço o suficiente para evitar
situações extremas – até porque ainda surpreendo-me com minhas reações. Mas
isso não vem ao caso. Acho que a moça foi liberta de seu castelo e vou poder
voltar a dormir.
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