terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Banho de uma Chuva de Verão


Temporal é gostoso de ser visto do lado de dentro de uma janela. Quanto mais alto o andar, melhor o espetáculo. No sábado a armação de meus óculos quebrou e hoje fui ao oftalmo. Exatamente durante o meu deslocamento para a consulta começou a chover.

A ideia inicial era ir a pé, mas os primeiros pingos foram suficientes para quebrar meu guarda-chuva sem virá-lo (o investimento na armação de alumínio não se justificou). Atravessar a Av. Paulista foi uma aventura, já que o vento soltou meu cabelo, que dava laçassos no que estivesse próximo, parecia ter vida própria, exigindo esforço para manter-me andando em linha reta. Já do outro lado, no ponto de ônibus, persistente entre a água que saia de um bueiro na calçada e as ondas formadas pelos carros, pedi ajuda para uma moça que também tentava se defender com o seu guarda-chuva:

- O ônibus que vem ali, qual é?

(silêncio).

- Poderia ler para mim o que vem escrito ali no ônibus?

(a mulher olhava para mim meio que sem entender, senti necessidade de explicar que não estava zombando nem que era analfabeta).

- Estou sem óculos, indo para uma consulta no oftamologista, por isso não consigo enxergar, o que está escrito naquele letreiro do ônibus?

- Só quando chegar mais próximo é que eu consigo ler.

Resultado: passei a parar todos os ônibus e a perguntar ao motorista. A cada parada, mais molhada ficava, mas o ônibus parado, por sua vez, era um alívio pelo bloqueio do vento. No fim cheguei a tempo na consulta, quando já abria um tímido sol.

As brincadeiras do médico por causa da chuva e do estado em que me encontrava, além do fato de ir e voltar com o mesmo bilhete único, neutralizaram meu frio e o receio de uma gripe. Acho que faz dois anos que não me molho assim, estivesse na praia pegaria um xampu para aproveitar a água sem tratamento químico de cloro nas madeixas (se você nunca tomou banho na chuva, em dia quente, permita-se ao menos uma vez na vida, recomendo).

Também não sei qual foi a última vez que peguei um ônibus. Percebi que os cobradores atuais passam o tempo todo no celular, batendo papo – o da volta ficou brabo porque o passageiro reclamou que ele esqueceu-se de avisar a parada correta. Outra questão que não havia pensado era como é importante, em locais que recebem público, o estofamento ser impermeável. Eu consegui deixar com que a poça de água se formasse fora do consultório, mas não tive como não me sentar durante a consulta.

Chegando em casa, notei que algumas anotações que estavam em cima da mesa voaram sacada a fora, 10 cm de fresta foram suficientes para o estrago. Espero que seu conteúdo não faça falta.

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