Detalhe da lateral, para não prejudicar o deslumbramento |
Ciclos existem para nos lembrarmos de que sempre é possível
recomeçar, fazer de outra forma e/ou repetir os êxitos. Mesmo os céticos em
relação à influência pagã são obrigados a se submeter “ao clima” de fim de ano
e ano novo.
Se o ano foi ruim: “Ufa!” Que venha o próximo. Se foi um ano
bom: “pena que já passou, tomara que fique mais um tempinho assim...” Entre
comemorações e lamentos, mantém-se o comum da celebração.
Os preparativos das festas, cada vez mais complexos e
exigentes, afastam as pessoas do natural ciclo em que estão inseridas, não há
mais vinculação ao solstício, mas muito trabalho para alguns e várias contas a
mais para outros.
A decoração natalina está inserida nesse novo contexto: as
pessoas saem para ver a decoração, geralmente luxuosa e bela e, já que estão
ali, acabam consumindo. Melhor a inconseqüência dos atos atuais do que a
reflexão dos passados, passear e ver gente do que recolher-se - depois vê-se o
depois.
O mundo está em crise e o Brasil finge que isso não é com
ele. A oportunidade de consumo, novidade para algumas pessoas, ainda é mais
significativa do que a qualidade com que se faz, mesmo que possa significar voltar
a passar necessidade ou a conviver com a inflação. A inércia, e não a crítica,
predomina entre os que nunca precisaram privar-se: estamos garantindo metas
globais, pagando o lucro que nós e os povos em crise deveriam gerar.
A diminuição das lâmpadas nas decorações natalinas atuais
não é mera coincidência, nem consciência ecológica, apenas um reflexo do
momento econômico. Para bom entendedor, meia palavra basta, certo? Parabéns ao
Bradesco, que conseguiu com o seu “Natal na Floresta”, em plena Av. Paulista, apresentar
novos parâmetros de deslumbramento, sem ênfase nas luzes (não sei se utilizaram material reciclado) ; uma forma simples de
mostrar que com criatividade é possível inovar e aprimorar de forma simples o
efeito do era feito com fartura. A própria apresentação do coral,
antes do anoitecer, colabora com esse conceito. No Banco do Brasil, na agência
esquina com a Augusta, os bonecos só se movimentam enquanto alguém mantém a mão
no lugar indicado no vidro, tornando lúdico algo que poderia ser muito sem graça.
materiais utilizados:espuma e EVA |
Lógico que colocar luzes piscantes em casa não é nenhum crime, aqui no prédio mesmo, meus vizinhos gostam e eu nem mais me manifesto contra, apenas lembro de uma frase que “fui obrigada” a dizer no juramento dos bixos, na primeira semana na faculdade, em plena Rua da Praia, descalça e pintada entre meus então futuros amigos, todos na mesma aparente degradante condição: “Obrigada por não estar entre aqueles que pagam o que não têm e não recebem o que merecem”.
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