Café torrado em grãos dizia a
embalagem. Eu li promoção, 100% arábica na prateleira do terceiro
supermercado em que o produto que costumo comprar estava em falta. Sorte que antes
de abrir a embalagem estranhei o barulho dos grãos. Sim, porque moedor de café
apenas por alguns segundos foi objeto de desejo e não conheço ninguém que
pudesse aproveitar grãos torrados.
A ideia de jogar o produto fora não me agradava,
o dinheiro equivalente a ele, muito menos...voltei no supermercado e eles
aceitaram fazer a troca no dia seguinte à venda. No balcão do cliente descobri
que a compra feita anteriormente dava direito a 50% de desconto na aquisição de
panelas novas (eu que recentemente trinquei minha penúltima panela de vidro) e,
ao refazer a compra para aproveitar o vale ganho, finalmente encontrei, também
em melhor preço, o café de que mais gosto.
Descrevendo assim até parece que foi tudo muito
fácil: ficar sem café por um dia; ter que admitir publicamente que comprou gato
por lebre por exclusiva incompetência (distração é eufemismo que não refresca a
perda de tempo); exercer a paciência na loja e na fila do caixa, pelo mesmo
motivo, em menos de 24 horas...
Contudo, convenci-me de que era necessário
fazê-lo na esperança de lembrar-me mais facilmente do fato no futuro e não
repeti-lo - e também por uma questão de princípio.
Há algum tempo adoto a regra de que para pedir,
basta lembrar que ficar com a vontade ou com a dúvida é já ter o não como
resposta. Para quem pergunta ou pede, o pior cenário é manter o status quo. Mesmo que a resposta seja
irrelevante, perguntar vale como exercício contra a timidez.
Semana passada, à espera da abertura dos portões
para participar de um processo seletivo, conversei com outros candidatos, a maioria
em dúvida se deveria participar tendo em vista a pouca informação em relação ao
certame. Falei-lhes então de meu princípio, de já ter o não como resposta. Fui
indagada, em tom de deboche, como me sentia colecionando nãos e, até agora,
acho que não poderia ter respondido melhor do que, sem pensar, de improviso,
respondi: “coleciono experiências e certezas que me garantem boa qualidade de
sono”.
Mesmo que eu não tenha convencido ainda o(a)
leitor(a), pense em uma situação chave, na qual a concordância do que é
proposto, o sim como resposta, seja fundamental. O convívio com um (provisório?!)
não é a possibilidade de ouvir um redondo não, certo? Mas por qual motivo lhe
seria negado algo tão relevante? Essa é uma pergunta que demonstra inteligente prudência
e pode ajudar a tornar o contexto mais favorável, seja obtendo o sim
imediatamente ou revertendo o não em sim.
Confundi mais do que esclareci? Seguinte: a
primeira questão é perguntar (vale desde pedido de aumento até um convite para
sair), se houver negativa, pergunte o porquê (eliminar o motivo será sua nova
chance de conseguir o sim). A forma de abordar, o momento e para quem abordar
são importantes, sem dúvida, mas antes fazer de forma inadequada do que não
fazer: enquanto não for feito você só estará se privando da oportunidade de
converter um não em sim. Lembre-se que o talvez não existe. Até acredito que minha
sugestão seja mais fácil para advogados, já que falamos e escrevemos sabendo
que seremos contestados, mas com um pouco de desprendimento qualquer um
consegue. Prepare-se apenas para se surpreender com as respostas...
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