terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Sem medo de ser feliz

Café torrado em grãos dizia a embalagem. Eu li promoção, 100% arábica na prateleira do terceiro supermercado em que o produto que costumo comprar estava em falta. Sorte que antes de abrir a embalagem estranhei o barulho dos grãos. Sim, porque moedor de café apenas por alguns segundos foi objeto de desejo e não conheço ninguém que pudesse aproveitar grãos torrados.
 
A ideia de jogar o produto fora não me agradava, o dinheiro equivalente a ele, muito menos...voltei no supermercado e eles aceitaram fazer a troca no dia seguinte à venda. No balcão do cliente descobri que a compra feita anteriormente dava direito a 50% de desconto na aquisição de panelas novas (eu que recentemente trinquei minha penúltima panela de vidro) e, ao refazer a compra para aproveitar o vale ganho, finalmente encontrei, também em melhor preço, o café de que mais gosto.
Descrevendo assim até parece que foi tudo muito fácil: ficar sem café por um dia; ter que admitir publicamente que comprou gato por lebre por exclusiva incompetência (distração é eufemismo que não refresca a perda de tempo); exercer a paciência na loja e na fila do caixa, pelo mesmo motivo, em menos de 24 horas...
Contudo, convenci-me de que era necessário fazê-lo na esperança de lembrar-me mais facilmente do fato no futuro e não repeti-lo - e também por uma questão de princípio.
Há algum tempo adoto a regra de que para pedir, basta lembrar que ficar com a vontade ou com a dúvida é já ter o não como resposta. Para quem pergunta ou pede, o pior cenário é manter o status quo. Mesmo que a resposta seja irrelevante, perguntar vale como exercício contra a timidez.
Semana passada, à espera da abertura dos portões para participar de um processo seletivo, conversei com outros candidatos, a maioria em dúvida se deveria participar tendo em vista a pouca informação em relação ao certame. Falei-lhes então de meu princípio, de já ter o não como resposta. Fui indagada, em tom de deboche, como me sentia colecionando nãos e, até agora, acho que não poderia ter respondido melhor do que, sem pensar, de improviso, respondi: “coleciono experiências e certezas que me garantem boa qualidade de sono”.
Mesmo que eu não tenha convencido ainda o(a) leitor(a), pense em uma situação chave, na qual a concordância do que é proposto, o sim como resposta, seja fundamental. O convívio com um (provisório?!) não é a possibilidade de ouvir um redondo não, certo? Mas por qual motivo lhe seria negado algo tão relevante? Essa é uma pergunta que demonstra inteligente prudência e pode ajudar a tornar o contexto mais favorável, seja obtendo o sim imediatamente ou revertendo o não em sim.
Confundi mais do que esclareci? Seguinte: a primeira questão é perguntar (vale desde pedido de aumento até um convite para sair), se houver negativa, pergunte o porquê (eliminar o motivo será sua nova chance de conseguir o sim). A forma de abordar, o momento e para quem abordar são importantes, sem dúvida, mas antes fazer de forma inadequada do que não fazer: enquanto não for feito você só estará se privando da oportunidade de converter um não em sim. Lembre-se que o talvez não existe. Até acredito que minha sugestão seja mais fácil para advogados, já que falamos e escrevemos sabendo que seremos contestados, mas com um pouco de desprendimento qualquer um consegue. Prepare-se apenas para se surpreender com as respostas...

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