terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Surpresas da Vida

João é boa praça, um solteirão com muitos amigos. Presença garantida em todas as confraternizações, a cada evento costuma apresentar uma nova mulher, geralmente totalmente diferente na aparência ou na forma de ser das anteriores mais recentes. E João empolga-se com suas conquistas, se ela for vegan ele passa a comer apenas proteína de soja, se ela gosta de tatuagem, ele certamente já declarou seu amor pintando seu corpo (mas com henna).  Competente e trabalhando no setor financeiro, há anos João não é promovido exatamente por sua intensa atividade noturna, causadora de bocejos constrangedores em reuniões, e falta de discrição quanto à inconstância nos relacionamentos.

Mas João não lamenta, apenas vive de acordo com as circunstâncias. O que fazer se a musa do verão não compreende a importância cultural do carnaval? Por que fazer planos? Ele entrega-se totalmente às paixões, mas não admite abrir mão dos amigos e de determinadas datas festivas em família. Aliás, João mora com seus pais e seus irmãos, que parecem seguir o seu exemplo.

As esposas de seus amigos recusam-se a apresentá-lo às amigas e consideram-no péssima influência aos cônjuges, sendo seu comportamento motivo até mesmo de algumas desavenças entre os casais. Foi por esse motivo que Lia tornou-se tão bem-vinda no grupo.

Lia e João conheceram-se no ano novo. Como ela já tinha comprado o abada para o carnaval, foi compreensiva com a necessidade de João de ficar com a família, na praia, e sem ela. Reencontraram-se dias depois no bar em que João gostava de assistir aos jogos do campeonato no telão. Ele quase não a reconheceu, pois ela havia desistido do megahair.

Lia sempre tinha algo que fazer ou um lugar para ir divertir-se quando João mostrava-se indisponível. Com dez anos a mais, ele instigava-se a seguir o pique da moça e, em algumas semanas, passou a dedicar todo seu tempo livre a ela. No dia dos namorados, por exemplo, Lia foi-lhe muito franca: seu aniversário seria na mesma semana e ela iria viajar, ou com ele, para onde ele a presenteasse, ou com as amigas. E João comemorou seu primeiro dia dos namorados.

Sem motivo aparente para qualquer briga e sem ter coragem para romper, João começou a ficar nervoso com a situação em que se encontrava. Lia, que tinha cachos loiros no início do ano e passou a usar um chanel cor chocolate no outono, surpreendia-o a cada dia; ela resolvera aguardar o verão ruiva com franja. Foi com o novo look fatal que o questionou sobre o natal e o fim de ano. João, curiosos para saber qual seria a solução da namorada, lembrou-lhe que fazia questão de passar com a família – e só com a família. Lia, então, apenas desejou-lhe boas festas, não iria mais insistir em ter sua companhia (ou em um dia ser também sua família): ano novo, amor novo.

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